A entrevista coletiva foi convocada para apresentar Ney Wilson e Kenji Saito, que vão dividir a diretoria de esportes do Comitê Olímpico do Brasil. Mas muitas das perguntas dos jornalistas tinham como objetivo entender os motivos pelos quais Jorge Bichara foi demitido. O CEO da entidade, Rogério Sampaio, justificou a decisão, entre outros argumentos, dizendo que acredita ser “natural que haja uma alternância de pessoas nas funções”. O problema é que o principal motivo das mudanças é político como mostrou reportagem publicada quarta-feira no Olimpíada Todo Dia.
Paulo Wanderley não assume publicamente, mas planeja concorrer às eleições em 2024 e ficar mais quatro anos no poder, completanto 11 em 2028. A disputa política acontece porque o vice-presidente, Marco La Porta, também quer se candidatar e assumiu isso internamente. Desde que isso aconteceu, o mandatário tem feito de tudo para isolá-lo e enfraquecê-lo, tirando da jogada seus aliados e Jorge Bichara era um deles.
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Outro ponto que explica a parte política da decisão tem a ver com outro assunto abordado por Rogério Sampaio. O campeão olímpico do judô em Barcelona-1992 explicou que a diretoria do COB via a necessidade de dividir a área de esportes para melhorar o atendimento a atletas e confederações. “Já havia um entendimento que deveria haver uma divisão da área de esportes para atender melhor. Não é fácil para uma pessoa só coordenar tudo isso e sempre deixa algumas lacunas no atendimento. São muitas áreas. Precisamos aproximar a sociedade acadêmica para validar algumas ações que fazemos no Laboratório Olímpico. É preciso ter maior integração entre o desenvolvimento e o alto rendimento. Em alguns momentos, podemos aumentar o número de atletas e esportes dentro do PPO”, disse o CEO do COB.
PPO é o Programa de Preparação Olímpica, que destina verba para potencializar os resultados do Brasil em Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais e Jorge Bichara, por mais que trabalhasse para abrir o leque de esportes, sempre deu prioridade às modalidades com reais chances de medalha. Isso deixava alguns presidentes de Confederações, que não participavam do projeto o quanto queriam, insatisfeitos e cada um desses dirigentes será eleitor nas eleições de 2024. Então, agradá-los faz parte dos planos de quem quer se reeleger.
Na última eleição, em 2020, Paulo Wanderley venceu Rafael Westrupp, presidente da Confederação Brasileira de Tênis, e Helio Meirelles, do Pentatlo Moderno, graças ao apoio da comissão de atletas, que votou em bloco na situação. Se dependesse só das confederações, como era antigamente, Westrupp venceria. Então, faz parte da política do atual presidente recuperar o prestígio com as confederações.
Rogério Sampaio explicou também que a saída de Jorge Bichara começou a se desenhar antes mesmo dos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando a direção do COB iniciou a ideia de dividir a área de esportes. Logo na primeira conversa, no entanto, Bichara foi contra a iniciativa.
“Fomos surpreendidos numa reunião que fizemos no último dia de trabalho do ano passado, 22 de dezembro, quando o Bichara nos disse que não aceitaria nenhuma divisão dentro da área de esportes e que também não aceitaria nenhuma mudança de nome na equipe, ele praticamente pediu demissão. O presidente, na oportunidade, pediu calma a ele e deu tempo para que ele repensasse. Naquele momento não foi feito o desligamento, mas no dia a dia fomos engolidos pelos Jogos Olímpicos de Inverno, também pelos problemas causados no começo do ano pela variante ômicron, que nos fez voltar para o home office. Agora, pós-Congresso Olímpico, foi o momento que estávamos os três no COB e pudemos dar continuidade à conversa para dividir a área e melhorar o atendimento. A gente sabe da importância e da competência do Jorge Bichara, mas é hora de avançar e dar resposta aos desafios”, finalizou.