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Paris 2024

Henrique Avancini não descarta Paris e fecha ano ‘pesado’ motivado para 2022

Em entrevista exclusiva ao OTD, Avancini falou sobre os desafios do ano, a volta por cima, Paris-2024 e Copa do Mundo em casa

Henrique Avancini não descarta Paris e fecha ano ‘pesado’ mais motivado
(Michele Mondini)

Alívio e motivação. Essa é a mistura de sentimentos que resume o fim de temporada de Henrique Avancini, após conquistar o 19º título do Campeonato Brasileiro de mountain bike. Foi um ano difícil, com altos e baixos, que exigiu muito de sua cabeça e de seu corpo, mas que termina com gostinho de quero mais. E para isso, as palavras de ordem do momento são descanso e planejamento. 

“Sensação de alívio. Foi um ano extremamente pesado. Tive que dar um jeito de me reencontrar dentro de uma temporada. E quando você está disputando os grandes eventos, isso não é simples de ser realizado. E eu consegui terminar bem o ano, mas foi uma temporada longa. Então agora eu preciso realmente esvaziar um pouco a cabeça e começar um bom planejamento para 2022. É uma temporada que tenho grandes ambições e não quero vacilar. Então essa a missão agora: primeiro descansar para depois fazer um planejamento assertivo”, contou em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia. 

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Tudo começou com uma pré-temporada conturbada. Henrique Avancini entrou em 2021 como o número um do mundo, tendo conquistado o título da Copa do Mundo no ano anterior. Mas, segundo ele, por algumas decisões equivocadas, a primeira competição que participou foi apenas em abril, dois meses mais tarde do que o normal. E depois, os desempenhos abaixo do esperados nas primeiras etapas da Copa do Mundo fizeram o carioca parar e repensar. 

“A gente teve uma temporada que foi a mais longa da história em 2020. Tive duas semanas de intervalo e com mais duas semanas de treino já estava indo para um training camp na África do Sul. Era uma coisa que eu não queria fazer, não fazia o menor sentido acelerar o trabalho em uma temporada tão importante. Mas a minha pré-temporada foi uma sucessão de tomadas de decisões equivocadas ao meu ver. E aí comecei a Copa do Mundo de uma forma muito distante do que eu desejava. Foi a hora que eu tive que ter um conflito mais agressivo e refazer tudo. Então recomecei o meu ano no meio da temporada, o que é extremamente difícil para um atleta”, explicou. 

A volta por cima

Avancini tomou, então, uma decisão difícil e optou por ficar de fora das duas etapas seguintes da Copa do Mundo, as últimas competições antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ele voltou ao Brasil para se reconectar com aquilo que acredita e alcançou uma forma física nos treinos que jamais havia atingido na carreira. 

O resultado não veio na Olimpíada, que foi uma frustração, mas veio no final do segundo semestre para fechar o ano em alta novamente, com vice-campeonato mundial e título de short track na Copa do Mundo, além de ter vencido quatro provas no Brasil. 

Avancini foi vice-campeão mundial de mountain bike short track
Avancini foi vice-campeão mundial de short track (Michele Mondini)

“Acho que dá para dizer que foi um final de temporada em ascensão. Cheguei nessa reta final resgatando uma performance muito boa, meu desempenho a nível internacional foi bom também. Terminei bem na última etapa da Copa do Mundo, tive um pouco de azar [queda e furo de pneu nas últimas voltas], mas deixei bem nítido que voltei a ter condições de vencer Copas do Mundo e isso foi muito bom para mim”

“Porque dentro da temporada, você começar mal, ter uma baixa e conseguir reverter essa situação negativa é complicado. E eu me vi revertendo um pouco isso e fiquei satisfeito, aliviado. Então fui crescendo aos pouquinhos, voltei a desempenhar bem e foi dando aquele refrigere de ‘pô, ainda sou um dos caras tops, ainda consigo chegar naquele lugar que eu trabalhei anos e anos para alcançar’. Então consegui terminar a temporada animado para 2022. Acho que isso foi uma das melhores coisas”, completou. 

Jogos Olímpicos… E Paris?

A Olimpíada é um capítulo à parte. Henrique Avancini arriscou ao ficar de fora das últimas competições antes de Tóquio, e o 13º lugar, ainda que tenha sido o melhor resultado da história do Brasil em Jogos Olímpicos, foi frustrante para ele. 

“Os Jogos Olímpicos foram um golpe muito duro para mim pela forma que eu estava. Eu sabia que era um risco enorme não conseguir transferir a forma física dos treinos para os Jogos, mas eu precisava daquele tempo de preparação. Foi uma aposta e não ter dado certo me machucou bastante. Foi um baque bem grande”. 

A pergunta que não quer calar é: Avancini estará em Paris-2024? O ciclo é mais curto, apenas três anos, e ele terá 35 de idade. Mas a resposta ainda não é certa nem para ele. Tudo depende do desenrolar das próximas temporadas. 

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“Acho que os Jogos Olímpicos são um evento muito desafiador para mim e dentro da minha modalidade. Você não consegue trabalhar da forma que você trabalha nos outros eventos e eu sempre precisei de trabalho contínuo. E quando você fala de Jogos Olímpicos tudo é diferente. Não é que seja melhor ou pior, mas é diferente. Você precisa trabalhar com pessoas novas e isso, para mim, às vezes é um desafio. Eu preciso estar muito motivado para passar por isso. Acho que está muito na mão dos meus pupilos, sinceramente. Ir para os Jogos Olímpicos com eles seria algo sensacional para mim e também contribuir para que eles fossem seria muito especial”. 

“É cedo para dizer. Eu estou olhando para o futuro com muito respeito. Ralei muito na minha vida profissional para chegar onde eu cheguei e não tenho essa vontade de me manter no esporte durante anos e anos, porque eu sei o que é andar lá atrás, eu sei o que é andar no meio do pelotão e sei o que é andar na ponta. Eu quero terminar bem a minha carreira, então estou indo passo a passo. Tenho uma plano na minha cabeça, sem datar nada, e não sei se inclui Paris ou não. Depende muito primeiro de como vai ser 2022. Acho que a temporada do ano que vem é bastante decisiva para as minhas decisões futuras”. 

Avancini ficou em 13º lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio e falou sobre Paris-2024
Avancini ficou em 13º lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio (Jonne Roriz/COB)

2022 especial 

E falando em 2022, essa temporada será para lá de especial para Henrique Avancini. Em abril, a cidade dele, Petrópolis (RJ), vai receber nada menos que uma etapa da Copa do Mundo de mountain bike. O evento será certamente marcante para ele e o esporte brasileiro. 

“Isso me dá uma força absurda, saber que o primeiro grande evento de 2022 é na minha cidade, no local da minha origem, das minhas raízes, na pista onde eu treino, uma pista que eu construí, que a gente formou um legado por trás do local para o desenvolvimento do esporte, da comunidade local… Então isso é aquele algo maior que eu sempre busco dentro do esporte. Acho que tem tudo para ser um dia memorável para o mountain bike brasileiro, não só na minha vida, na minha carreira, mas para história da bike no Brasil. Com certeza vai ser um dia muito marcante. Sou muito grato à bike e é mais um belo capítulo que Deus me concede de estar vivendo no esporte”. 

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Além disso, 2022 traz o desafio de ser diferente de 2021. E para isso, as lições aprendidas nesta temporada serão valiosas. “Acho que o que eu fiz nas últimas temporadas, em que competi muito mais que os meus adversários, é algo difícil para eu continuar fazendo. Eu preciso otimizar mais, porque parece que eu tenho menos créditos para gastar agora. Esse ano eu fiquei feliz de, em treinamentos, conseguir alcançar uma forma física que eu nunca tinha alcançado na minha carreira. Mas transferir isso para as competições… Começo a entrar em uma nova fase da minha vida, em que preciso mirar com mais cuidado nos grandes eventos e otimizar o meu esforço”. 

“Então a primeira coisa é ter energia mental, estar com a cabeça no lugar certo. Preciso descansar e me inspirar, ter vontade. E acho que o segundo é o planejamento. Eu sou bastante metódico nas minhas coisas, independente do que for fazer, preciso saber como eu vou fazer. Sou bastante adaptável, mas preciso estar buscando alguma coisa e acreditando na forma que eu estou trabalhando. E foi nisso que eu tive bastante dificuldade em 2021”. 

A hora certa de parar

Henrique Avancini tem 32 anos
Henrique Avancini tem 32 anos (Michele Mondini)

Henrique Avancini tem 32 anos e um currículo para lá de vitorioso. Mas pensar sobre a aposentadoria é inevitável na vida de um atleta. Sem datas definidas, o mais importante para ele é parar em paz. E por enquanto, não chegou o momento ainda. 

“Esse ano me despertou uma percepção muito diferente. Eu vi o meu grande parceiro de equipe, meu grande amigo Manuel Fumic se aposentando e isso me trouxe muitas reflexões a respeito de carreira. Porque para mim é muito mais que uma carreira, mais que um trabalho, é uma vida de muita paixão, muito amor pelo que eu faço. Então eu quero parar com o coração muito em paz e tenho algumas ideias e condições que eu acho importante para que eu pare e esteja bem comigo mesmo”.

“E vale [a pena]. São escolhas, você sempre paga o preço e tem uma recompensa. É difícil você saber qual vai ser o saldo final, e essa é a beleza do esporte. Vale a pena quando dá certo e quando dá errado também. Essa é a vida que eu escolhi. Sempre arrisquei alto, fiz apostas muito altas comigo mesmo e acho que esse foi o fator para eu chegar tão longe no esporte. Mas tive grandes frustrações e continuo tendo. Esse é o preço que eu aceito pagar. É a escolha que eu fiz e enquanto eu estiver aqui, é porque eu acredito que vale a pena”, concluiu.

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