A quarta etapa da Brasil Ride, a Rainha, foi marcada por fortes emoções na região de Guaratinga, no extremo Sul da Bahia. Assim como nos dias anteriores, a prova com cerca de 100 km teve uma quarta equipe vencedora diferente e também mais uma nova dupla vestindo a camisa amarela, a dos líderes da open, demonstrando o alto equilíbrio da oitava edição. A vitória foi do português Luis Leão Pinto e do dinamarquês Soren Nissen, seguidos dos italianos Fabian Rabensteinter e Michele Casagrande, da Trek Selle San Marco, atual campeã da ultramaratona, que assumiram a ponta na classificação geral. Terceiros no dia, Henrique Avancini e Jiri Novak (CZE) estão em segundo lugar, 10 segundos atrás dos líderes.
Após dificuldade nas três primeiras etapas, o português Luis Leão, campeão em 2012, garantiu a vitória junto de seu parceiro, Soren Niessen. Na disputa pelo título, apesar de sofrer uma queda e ter sua bicicleta danificada com menos de 10% da etapa, Henrique Avancini, ao lado do tcheco Jiri Novak, conseguiu se recuperar e buscar seus principais concorrentes à liderança, Fabian Rabensteiner e Michele Casagrande. A dupla número 1 da Trek Selle San Marco concluiu em segundo lugar, após acelerarem forte nos 2 km finais, mesmo em um dia em que Fabian teve problemas em seu câmbio antes da última serra.
“A etapa foi mais longa e difícil do que a terceira, mas com bons downhills e várias trilhas. Conseguimos outro segundo lugar, mas desta vez especial porque agora somos os líderes. Nesta quinta (19), outra longa corrida, de volta para Arraial. Veremos como será”, contou Michele. “Foi uma corrida difícil. Estávamos juntos com Henrique Avancini e Jiri Novak e o Avancini caiu após quase 10 km, quebrando o manete do câmbio. Ele teve que resolver com os cabos da bike, inclusive. Tentamos escapar deles três vezes, mas depois disso, com 40 km para o fim, tive problemas no meu câmbio e também resolvi da forma que era possível, antes da última serra, no km 70, quando parei para cuidar da bike”, recordou Fabian.
Na avaliação de Henrique Avancini, após os problemas no início, ter apenas 10 segundos de diferença para os atuais líderes não foi um mau negócio. “Por tudo que passei, queda e quebra de uma peça da bike, tive de fazer a prova limitado. Ou freava, ou passava marcha. Os italianos perderam uma grande chance de colocar mais tempo na nossa frente. Apenas 10 segundos é um prejuízo bem pequeno”, avaliou Avancini. “Nos defendemos bem dos ataques. Se não tivesse drama, não seria Brasil Ride. Acho que foi um dia dolorido, porque cair com cerca de 10 km, sentido bastante dor e tendo limitação mecânica, realmente foi bem desconfortável”, concluiu o brasileiro sobre a etapa Rainha, a mais difícil desta edição.
Vitória após ajuda dos Anjos Azuis – Para os vencedores do dia, Luis e Soren, uma vitória especial depois de dias difíceis nas três primeiras provas da atual edição. “A verdade é que esta edição começou mal para nós, porque levei cinco pontos na perna esquerda já no aquecimento para o prólogo. Quebrei a corrente várias vezes na etapa dois e perdemos uma hora para os primeiros, voltando a ter dificuldades de novo na terceira corrida, e fizemos o suficiente só para pedalar e completar”, relembrou Luis Leão. “Agradeço a Shimano Brasil, na pessoa do Mateus Ferraz, que deu um trato especial na minha bike com muito profissionalismo. Desmontaram ela toda, detectaram o problema e nesta corrida impomos com naturalidade nosso ritmo e garantimos a vitória”, completou o português.
“Nesta minha primeira vez no Brasil, tivemos problemas nos três dias. Primeiro com o Luis sofrendo um corte na perna. Nas duas etapas seguintes, passamos por dificuldades na bicicleta do Luis e por isso estamos bem longe na classificação geral. Pedalamos por cerca de duas horas a mais do que os rivais, neste forte calor, o que nos deixou bem cansados. Depois disso, falei para o Luis não desistir, porque teríamos que vencer uma corrida até o fim e conseguimos, com tudo indo de forma perfeita nesta etapa”, contou Soren.
Ladies e máster com lideranças mantidas – Se na open foram quatro dias com quatro líderes diferentes, na ladies e na máster, os líderes seguem os mesmos do terceiro dia. Após terem sua hegemonia ameaçada na segunda etapa, Bart Brentjens e Abraão venceram mais uma vez na categoria em que são os atuais tetracampeões. Já na feminina, foi a quarta vitória de Raiza Goulão e Margot Moschetti.
“Foi um dia incrível de pedal na Brasil Ride. Soubemos dosar bem, após sentir o desgaste na primeira hora. Tivemos vários momentos de desafio que conseguimos fazer, com uma ou outra subida que não conseguimos superar. O percurso lembrava muito o cerrado goiano, de onde eu venho, com muita diversão”, disse Raiza.
Casal português pedala junto na Brasil Ride – Desde que começaram a namorar em 2002, os portugueses Celina Carpinteiro e Valerio Ferreira competem pela quarta vez na Brasil Ride, após 2010, 2016 2017, mas desta vez de uma forma ainda mais especial: após terem se casado em 2013, Celina e Valerio competem pela primeira vez uma competição como dupla, a estreia do casal na categoria mista na ultramaratona.
“A bicicleta surgiu na minha vida por causa do Valério, que quando começamos a namorar eu era jogadora de futebol e ele ciclista. Foi ele que me incentivou e, se fui campeã um dia de Portugal ou da Brasil Ride, foi por causa dele”, relembrou Celina. “A bicicleta é meu esporte desde os 13 anos de idade. Ela se machucou jogando bola, ficou muito tempo parada e sugeri a bicicleta para ela, que só a via como uma forma de transporte. Depois que começou, foi-se embora sem precisar de mim e mostrou que tinha muita força”, contou Valerio. “Treinamos juntos e como somos um casal, a bike é nosso dia a dia”, completou o português.
“Já tivemos mais brigas antigamente. Nesta Brasil Ride estamos bem pacíficos. Há situações em que estamos cansados, mas com experiência que temos estamos indo bem”, disse Valerio. “Faço o que ele manda, porque ele é quem faz a dupla mais forte. Estou sempre no meu limite e quando ele manda comer, eu como. Quando fala para me hidratar, me hidrato. Temos nossas estratégias e sempre estamos bem”, destacou Celina.
Para os dois, até no casamento a bicicleta foi o tema central, com Valerio e os convidados indo para o casório pedalando. O pedido de casamento, em março de 2013, também foi com o ciclismo envolvido, durante a participação do casal na Cape Epic, na África do Sul. “A bike faz parte da nossa vida e a Brasil Ride também. Ganhei em 2010, voltamos outras duas vezes, e agora estamos juntos. Uma prova muito bem organizada, das mais duras e com um acolhimento especial dos brasileiros”, disse Celina. “Brasil Ride é aquela prova que sempre foi dura e que levamos lições de vida para a casa. Temos que nos superar sempre, com dificuldades únicas. Não adianta vir para cá bem fisicamente, mas mentalmente é importante também. O truque é encarar as dificuldades, como se fosse um passo à frente”, concluiu Valerio.
Volta à praia – Na manhã desta quinta-feira (19), os atletas voltam à Arraial d’Ajuda percorrendo 130 km com altimetria de 1.974 metros, a etapa mais longa da sétima edição. Eles passarão por trechos de single track até chegarem nas estradas principais da região e voltarem para o litoral do Sul da Bahia. Mais uma vez, subidas íngremes e descidas técnicas serão o tempero da etapa.