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Ciclismo Mountain Bike

Avancini avalia importância da psicologia no esporte

Em conversa com psicóloga do COB, maior ciclista brasileiro do mountain bike fala sobre o aspecto mental na preparação esportiva do atleta

Henrique Avancini do ciclismo mountain bike conver com psicóloga do COB sobre aspecto mental da preparação do atleta
Henrique Avancini é o maior nome brasileiro do ciclismo mountain bike (Michele Mondini)

Durante a quarentena causada pelo coronavírus, o aspecto mental vem se mostrando muito importante na saúde dos atletas. Além de exercícios em casa, treinadores e comissões técnicas cada vez mais incluem conversas com psicólogos durante a preparação esportiva. Em live realizada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, o ciclista de mountain bike Henrique Avancini e a psicóloga Alessandra Dutra analisaram a importância de um acompanhamento psicológico na rotina dos esportistas e a postura mental no atual momento de pandemia.

“Eu aprendi com minha carreira esportiva que as coisas sempre trazem uma oportunidade de evolução, que mesmo com a falha e a frustração a gente sempre tem a chance de aprender e crescer. Então quando as coisas mudaram, o calendário foi suspenso e as provas, adiadas, eu passei por um processo de absorção, de entender o que estava acontecendo”, avaliou Avancini. “Estou administrando os desafios, as partes ruins, e tenho valorizado as coisas boas, o que está ao meu alcance. E é assim que eu sigo em frente, sempre buscando uma oportunidade de evolução.”

“Não adianta a gente ficar esperando data de campeonato, de Olimpíada, isso vai gerando muita ansiedade. Esse é o momento que a gente tem para errar bastante. É um momento de criar oportunidade, experimentar coisas novas para nossos treinamento, para nossa rotina, treinar a mente e a criatividade”, observou Alessandra Dutra, que trabalha com o ciclista desde 2015.

“O atleta que agora usar dos recursos mentais, ler esse momento que está passando de uma maneira muito peculiar, vai conseguir usar esse momento de forma muito positiva”, completou a psicóloga.

Aprender a competir

Não é apenas em tempos de isolamento que o aspecto psicológico do esporte se faz essencial. Durante toda a preparação do atleta, ter um lado mental forte é importante para aprender a competir e lidar com frustrações, como falhas e derrotas.

“No esporte brasileiro a palavra frustração é vista como um mito, é negativa, mas dentro de uma prova temos varias pequenas frustrações que podem se tornar grandes se não lidar bem com isso”, observou Avancini.

“Você tem duas opções: ou você fica ali amargando a situação ou foca nas coisas positivas porque é dali que vai sair algo de bom, algo mais produtivo”, complementou Alessandra, avaliando também a dificuldade que o brasileiro tem de lidar com disputas. “Aqui no Brasil, até culturalmente falando, encaramos a questão da competição como comparação, e não como auto superação e isso nos atrasa muito. Por isso lidamos com a pressão de uma forma negativa. Desde pequeno, sempre temos as atitudes comparativas e isso vai fazendo mal porque vamos nos tornando mais críticos. E na hora de competir você se subjuga, se sente muito abaixo ou, às vezes, até tem avaliação equivocada de superioridade”, completou a psicóloga.

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Henrique Avancini trabalha com a psicóloga Alessandra Dutra desde 2015
Henrique Avancini trabalha com a psicóloga Alessandra Dutra desde 2015 (Reprodução/Instagram)

Esporte e vida

Outro aspecto importante analisada pela psicologia esportiva é tentar analisar o atleta como um ser humano, com os mesmos problemas e angústias que uma pessoa qualquer. Durante a carreira – e a vida – o esportista enfrenta problemas e desafios pessoais que podem afetar a concentração e a performance durante uma competição.

“O esporte é uma profissão muito intensa porque qualquer coisa interfere de uma forma muito nítida”, observou Avancini. “Em outras profissões, quando você não está 100%, não é uma coisa tão clara, mas no esporte, se minha performance é um pouco mais baixa é muito nítido. O fator gente que tem por trás do atleta é muito importante.”

Um dos desafios pessoais que pode afetar a concentração do atleta, por exemplo, é o luto causado pela perda de alguém querido. Sobre o assunto, Henrique Avancini possui uma experiência particular.

Em 2016, depois de sofrer com lesão durante todo o ano e não ir bem nos Jogos do Rio, o ciclista de mountain bike teve que lidar com a perda do avô no dia seguinte da competição olímpica. A força mental foi essencial para o atleta encarar o momento.

“Foi uma perda que me entristeceu bastante e num momento de crise pessoal depois dos Jogos do Rio. Mas a perda foi uma coisa que me deu mais força pra seguir”, contou.

“Ser atleta é ser guerreiro, então luto sempre vira luta. Temos que ter esse momento de luto e quem escolhe o tempo de luto sempre é o atleta. Luto é importante. Na nossa cultura parece que não se pode viver o luto, mas faz parte da saúde mental do atleta, deve ser vivido e ele deve transformar naquilo que for melhor pra ele”, explicou Alessandra Dutra.

Avancini ainda completou: “Toda vez que eu passo por um momento marcante, às vezes uma decepção esportiva ou uma glória esportiva, eu sempre falo que eu preciso do meu tempo para absorver. É entender o que está acontecendo para poder prosseguir. Eu acho que isso é uma coisa bastante importante na vida do atleta.”

“O que a gente precisa entender é que somos humanos e sentimos coisas”, finalizou a psicóloga do COB.

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