A vida de um atleta de alto rendimento é bastante corrida e de muito trabalho. Diego Moraes, do caratê, sabe muito bem disso. Porém, como se já não bastassem as lutas dentro do tatame, ele divide o trabalho de kimono com o microfone por viver com uma jornada dupla de atleta e jornalista. Em ambas as frentes, combate também o racismo.
Trabalhando há mais de dez anos na Rede Globo, Diego Moraes decidiu retomar o esporte que lhe acompanhou até a adolescência em 2017 com o objetivo de atuar no alto rendimento, sonho que acabou precisando colocar de lado quando completou 18 anos para focar na carreira acadêmica.
Aos 32 anos, o atleta de caratê já conseguiu atingir o alto nível, algo que pode ser provado pela vaga na seleção brasileira da modalidade.
Atual número 82 do ranking olímpico de sua categoria, Diego Moraes tem chances remotas de classificação para as Olimpíadas de Tóquio, porém segue treinando forte em busca de uma surpresa. E detalhe: com toda rotina de trabalho jornalístico e treinos sendo gravados para uma série televisiva.
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“O meu mundo perfeito (para a classificação olímpica) é eu ter bons resultados e nas próximas competições que valem ponto para o ranking. Segundo o atual calendário do caratê para 2021, tem uma etapa apenas que valem ponto, além do Pan-americano”, explicou o atleta repórter em live realizada no Instagram do OTD.
Luta contra o racismo
Como se já não bastasse as lutas dentro do tatame, Diego Moraes não esconde que tem um outro objetivo muito claro: transformar a sociedade através do esporte. Um dos primeiros jornalistas negros a fazer parte da maior emissor de TV do país, o atleta também demonstra engajamento com as questões do racismo na sociedade e utiliza o esporte como exemplo claro das diferenças sociais.
“Hoje, mesmo o fato de ser um dos principais atletas de uma modalidade no Brasil não te garante o direito de representar o país lá fora nas grandes competições. Porque você precisa ter dinheiro, apoio. Então essa é uma prova que o esporte não está solto na sociedade. Ele replica o que acontece na sociedade. Essa é minha luta. Fazer os atletas entenderem isso e poder brigar com conteúdo e argumento pelos seus direitos”, exemplificou.
Primeira parte da live com Diego Moraes
Apesar de desejar que os atletas demonstrem um maior engajamento, Diego Moraes deixa claro que sabe que vários desses esportistas acabam se ausentando desta questão social por conta de outras prioridades que acabam se sobressaindo naquele momento.
“É importante a gente entender que nem todos têm essa propriedade. E é preciso entender também que quando uma atleta se posiciona é um caminho sem volta. E outra, o atleta muitas vezes precisa focar na situação dele. Ele precisa pensar no seu melhor rendimento para colocar o prato de comida na sua mesa e de sua família. Não dá pra cobrar desse atleta algo a mais dele do que além do foco na carreira”, explica Diego, que faz um apelo por uma maior representatividade dentro dos cargos que comandam o esporte no país.
Segunda parte da live com Diego Moraes
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“A gente precisa ter pessoas representadas em todas as esferas. Quando digo isso eu penso nas comissões técnicas, nos diretores e dirigentes das confederações e também nos presidentes. A gente precisa pensar o quanto é importante a diversidade. A diversidade gera lucro, uma melhor performance, uma melhor gestão. Se você pensar num todo como poder você vai conseguir alcançar um público maior e ser um melhor gestor.”
Ubuntu
Uma exemplificação dessa representatividade que Diego Moraes faz questão de ressaltar é sobre um dos seus projetos mais recentes: o Ubuntu Esporte Clube, um podcast produzido pelo atleta do caratê e seus colegas jornalistas pretos da emissora onde trabalha e que visa dar visibilidade a personagens negros que acabaram não recebendo o devido espaço.
“A gente quer fazer algo que mostre histórias de pessoas que não foram vistas, mas são grandes personagens da história do esporte brasileiro. A gente quer trazer essas pessoas à tona e dar voz a elas. Porque a história do Brasil não pode ser contada por apenas uma pessoa, mas sim por várias.”