Desde jovem, Fernando Rufino, o Cowboy, tinha o sonho de conhecer os Estados Unidos. Impulsionado por esse desejo, o sul-mato-grossense ouviu de um amigo que ele poderia ir para o país caso se tornasse um dos melhores peões do Brasil. Mesmo com medo, ele decidiu arriscar e passou por uma situação que se acostumaria no decorrer de sua história: escapar da morte.
Aos 21 anos, caiu do touro, teve sua cabeça pisoteada e quebrou o maxilar. Mais tarde, sofreu acidente de moto e foi atingido por um raio que caiu na casa de seus pais. Mas foi uma desatenção que mudou sua vida para sempre. Viajando de ônibus com a porta aberta, escorregou para fora e foi atropelado pelo veículo, que provocou uma lesão de medula e o deixou de cadeira de rodas para sempre.
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A deficiência abriu um novo caminho para Fernando Rufino. Depois de disputar uma partida de basquete em cadeira de rodas e se destacar pelo vigor físico, mas decepcionar pela falta de pontaria e noção das regras, ele foi questionado pelo professor de Educação Física se não gostaria de ser um atleta paralímpico. O Cowboy pensou no seu sonho e respondeu da seguinte forma.
“Tem algum esporte que pode me levar aos Estados Unidos? Eu estou no rodeio para conhecer o mundo”, narrou Fernando Rufino em entrevista feita em live no Instagram do Olimpíada Todo Dia. Após a resposta positiva, ele decidiu se aventurar em outros esportes paralímpicos durante um evento em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.
O começo de tudo e o sonho quase realizado
Tentou arremesso de peso, lançamento de dardo e paracanoagem no primeiro dia de testes. Mesmo caindo diversas vezes, algo que não estava acostumado na montaria, e passando raiva, escolheu a paracanoagem, treinou por três dias e recebeu a confiança do treinador Ademir Arantes.
“O Ademir foi meu primeiro treinador, me colocou no esporte e deu asas para o mundo. Ele não viu só meu lado explosivo, hiperativo. Ele viu que eu podia ser um atleta de alto rendimento e me disse: ‘Rufino, senta aqui, você conheceu o paradesporto. Isso requer dedicação, treinamento. Se não precisasse treinar todo mundo era campeão. Você tem futuro e vou abraçar essa causa’”, contou o Cowboy.
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Com quatro meses de paracanoagem, Fernando Rufino se tornou vice-campeão brasileiro, perdendo o título por alguns milésimos de segundo. A modalidade possibilitou ao Cowboy, hoje multicampeão nacional, conhecer o mundo e chegar aos Jogos Paralímpicos, mas ainda falta viajar aos Estados Unidos.
Adiamento de Tóquio
“Eu conheci vários países, mas para os Estados Unidos ainda não fui. Isso é uma miséria”, disse rindo e programando, se o coronavírus permitir, a presença no Professional Bull Riders (PBR), o maior rodeio do mundo e realizado em solo norte-americano.
Apesar das vitórias e dos títulos no cenário nacional, Fernando Rufino ainda não foi aos Jogos Paralímpicos. No começo de 2016, o Cowboy foi diagnosticado com hipertrofia no coração e não disputou os Jogos do Rio. Agora, ele espera a passagem do coronavírus para estar em Tóquio.
“Tomara que daqui uns dois ou três meses as coisas estejam normalizadas e a gente possa voltar a treinar a nível olímpico. Disputar uma Olimpíada não é disputar um campeonato qualquer, é algo que você vai deixar seu nome escrito na história do esporte pelo resto da vida”, disse.
Morador de Itaquiraí, município sul-mato-grossense com menos de 20 mil habitantes, Fernando Rufino não esconde sua ligação com o campo. O Cowboy pensa em encerrar a carreira de atleta após os Jogos Paralímpicos de Tóquio justamente por isso.
“Minha carreira no esporte ia ser mais ou menos isso. Competir os Jogos de 2020 e 2016. Depois de 2020, eu pensava em encerrar minha carreira. Eu sou muito sertanejo, ando a cavalo, tenho meus animais”, finalizou.