O ano de 2018 foi de sentimentos opostos para Isaquias Queiroz. Primeiro, ganhou três medalhas no Mundial de canoagem velocidade: ouro no C1 500m e no C2 500 metros, ao lado de Erlon Souza, e o bronze na prova olímpica de C1 1000m. Depois, em novembro, perdeu seu grande mentor: o técnico espanhol Jesús Mórlan, que treinava o atleta baiano desde 2013, quando assumiu a Seleção Brasileira. O comandante travou batalha contra um tumor no cérebro desde o final de 2016, mas não resistiu e faleceu no mês passado.
“Foi um ano bem… Como a gente pode falar? De altos e baixos. No Mundial a gente teve um grande resultado, junto com o Jesus, ainda bem que ele estava com a gente, podendo nos ver remando. E com a perda dele, foi uma perda muito enorme pra gente. Mas ele foi um cara que ensinou para a gente muitas coisas. Até mesmo lidar com perda muito grande. E pra gente agora é muito mais importante poder manter o foco, de treinar firme, para em Tóquio ganhar a medalha que ele tanto desejava, que era a décima medalha da carreira dele. Então nós vamos estar sempre lutando nos treinamentos, nas competições, para poder ir para Tóquio e dar essa honra para ele de ter conquistado a décima medalha no currículo dele”, prometeu Isaquias Queiroz, que foi eleito pela terceira vez na carreira o melhor atleta masculino do Prêmio Brasil Olímpico 2018.
Os cinco anos de trabalho com Jesús Morlán e, especialmente, a relação de confiança que Isaquias Queiroz tinha com o treinador vão servir de inspiração para o atleta, que depois das três medalhas conquistadas em 2016, sonha em ultrapassar os velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, que são os recordistas brasileiros com cinco medalhas olímpicas.
“A gente sempre usou ele como uma inspiração de nunca desistir da vida ou do seu objetivo, né? Então, vamos poder estar sempre lembrando dele nessa parte. Vivemos bastante coisa juntos, então dá para lembrar até das broncas dele. Quando a gente começa a pisar no freio ali, a dar uma molezinha, aí já fala: ‘epa, se ele estivesse aqui já ia dar uma bronca, então bora seguir um pouco mais forte’. Então é uma coisa que a gente vai levar pra sempre. E, também, como eu sempre falo, não só no esporte, mas como pessoa ele demonstrou muita coisa para gente: carinho, afeto e atenção”, lembra Isaquias.
Depois da morte de Jesús Morlán, a Confederação Brasileira de canoagem decidiu não fazer grandes alterações na estrutura disponibilizada aos atletas, que continuam treinando em Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte. Lauro de Souza Júnior, que era o auxiliar do espanhol, foi efetivado no cargo, mas todo o planejamento até 2020, que foi feito pelo falecido treinador, será seguido até o fim. “Jesús Morlán é um treinador fora de série. Ele já deixou tudo pronto até 2020 já. Então, a gente já sabe mais ou menos o caminho que a gente tem que seguir até 2020”, garantiu Isaquias.