A slalom é longe de ser a praia de Diego Nascimento, de 16 anos. Quando está no Brasil, seus treinos são todos voltados para a canoagem de velocidade em linha reta, como são todas as provas da modalidade em mundiais e Jogos Olímpicos. Nos Jogos da Juventude, contudo, o comitê organizador resolveu adotar uma fórmula diversa, na busca de aproximar o esporte dos torcedores. Exigiu dos atletas a participação tanto na prova de velocidade quanto na de slalom. Não só isso. Mudou a essência das duas. Na de velocidade, incluiu uma curva no meio do caminho. Na de slalom, tirou as provas de corredeiras, criou uma plataforma de lançamento dos barcos, distribuiu uma série de obstáculos num circuito curto e exigiu um rolamento num trecho específico do percurso.
“A slalom não é a minha especialidade, mas fui tentar dar o melhor, como sempre, mas não sei fazer rolamento, tá ligado? Aí não quis arriscar beber um pouquinho dessa água”, ponderou o brasileiro. A entrevista foi minutos após ele ser desclassificado da competição realizada na região de Porto Madero, no Parque Urbano de Buenos Aires, por não ter feito o movimento obrigatório. Ele disputou a fase de classificação contra Dias Bahraddin, do Cazaquistão, que fechou o percurso em 1min23s85. Na prova de velocidade, na sexta-feira 12.10, Diego terminou na sexta posição, eliminado por um décimo da briga pela semifinal.
“Eu queria mais, queria ir além, mas não tive tempo para aprender a trabalhar esse rolamento”, afirmou o atleta, que, mesmo diante das adversidades dos modelos das provas, curtiu a competição. “Estou gostando, tudo é muito bom. Eu esperava morder uma medalha. Por um milésimo não fui para a fase final no “vai e volta da canoa”, brincou.
Para o supervisor de canoagem da seleção brasileira, Álvaro Koslowski, o formato inusitado da competição é difícil de entender e de defender. “Que regra é essa? Quem fez isso? Em que planeta vive? Vira uma gincana. A slalom não é o foco dele. E não faz muito sentido colocar o atleta para treinar intensamente para uma competição num formato que só existe aqui. Para quê? Lá onde ele treina nem barco da slalom tem. A regra não tem cabeça, tronco e membros”.
Volta à rotina
Encerrada a participação no torneio, o baiano de Itacaré já mira a volta à C1 convencional. No ano que vem, a prioridade será o Campeonato Mundial Júnior, agendado para o período entre 1 e 4 de agosto de 2019, em Pitesti, na Romênia. De Buenos Aires, ele leva na bagagem algumas qualidades técnicas que viu nos adversários para adotar nos treinos.
“Aqui tem uns caras com uma técnica muito boa, com um alongamento da remada de uma forma mais centrada, firme. Com um pouquinho de tempo posso agregar isso”, afirmou o atleta, que rema desde os seis anos e abraçou a modalidade influenciado pelo tio, Vilson Nascimento, medalhista nos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, e pela tia Valdenice Nascimento, medalhista em mundiais da modalidade. Além da prática esportiva, Diego pretende se formar em engenharia mecânica e, lá na frente, exercer o trabalho de treinador.
Misto de Ana Sátila e Isaquias Queiroz
Para entender o formato escolhido para os Jogos Olímpicos da Juventude, é como se houvesse uma prova que unisse, ao mesmo tempo, dois ídolos de modalidades completamente distintas da canoagem no mesmo balaio. De um lado, Isaquias Queiroz, campeão mundial em provas do C1, disputadas em circuitos em linha reta, em distâncias como 200m, 500m e 1.000m. De outro, a campeã mundial na categoria Extreme da canoagem Slalom Ana Sátila, especialista em provas de corredeiras, disputadas em circuitos fechados, como o construído no Parque Olímpico de Deodoro, ou em cursos d’água naturais. O atleta desce o circuito e tem de passar pelas “portas”, que são obstáculos delimitados, e que devem ser superados a favor ou contra a correnteza, de acordo com as cores.
Fonte: Rede Nacional do Esporte