Aos 28 anos, Pepê Gonçalves é um dos grandes nomes do esporte brasileiro na atualidade. Finalista olímpico na Rio-2016, o atleta se prepara para sua segunda Olimpíada. Mas desta vez, ele vai chegar em Tóquio-2020 com status de favorito na briga por uma medalha na canoagem slalom. Natural de Pirajú, interior de São Paulo, Pepê não esconde as raízes. Pelo contrário, reconhece e exalta a importância delas para ter chegado até aqui.
Crescido rodeado pela natureza na fazenda dos avós, Pepê Gonçalves teve uma infância “raíz”, como ele mesmo diz. Praticou vários esportes antes de encontrar a canoagem através de um projeto social. A inspiração foi a seleção brasileira de canoagem velocidade, que usou o rio de Pirajú para se preparar para Atenas-2004.
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“Já andei de skate, já joguei tênis de mesa, futebol, vôlei, judô… Por sorte, eu nenhum deles eu era bom [risos]. E aí, juntando a vontade de algumas crianças de 10, 11 anos e o fato de muitas morrerem no rio, por não saberem nadar, o prefeito trouxe o Projeto Navegar. Então você escolhia entre canoagem, vela ou remo. E eu fui para vela, porque não deixaram eu ir para canoagem por causa da minha estatura”, contou o atleta em entrevista ao Canal Olímpico do Brasil.
Por desejo do destino, um dia, Pepê pegou uma caiaque e saiu remando. Um professor de uma escolinha de competições da cidade viu o menino e o chamou para fazer parte da escolinha. Mas, a primeira experiência na canoagem foi na velocidade, na qual ele ficou por cerca de um ano e foi vice-campeão paulista.
Questão de destino
A canoagem Slalom, entrou por acaso na vida de Pepê Gonçalves, quando ele fui suspenso por uma semana dos treinos após fazer uma brincadeira com colegas de equipe. Para não ficar parado, ele foi treinar slalom e acabou de apaixonando pela adrenalina.
“A canoagem slalom é um esporte diferente de todos os outros. Uma amiga minha, ex-ginasta, me perguntou como que eu conseguia ser tão amarradão em treinar? Que no meu dia de folga, eu pego o caiaque e vou descer uma corredeira… E eu parei para pensar e realmente é bizarro, porque o slalom tem essa força. Então ao mesmo tempo que eu estou treinando e quase morrendo, 10 minutos depois eu estou ali surfando uma onda e brincando. Então querer estar sempre ali naquele meio é o que me move e mantém esse fogo da paixão pelo esporte aceso”.
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A paixão pela canoagem slalom vem também do seu caráter humilde, o qual Pepê faz questão de exaltar. “O slalom é um esporte que não tem supremacia. É muito difícil você se manter como número um em uma sequência de competições. Tem um top 10, mas nunca é o mesmo cara que ganha. É um esporte que tem muita variável, você está brigando com a água, tem vento… Então ele sempre te mostra que você não é nada e precisa estar ali, com a humildade lá embaixo. Porque você pode ser campeão olímpico, mas se no dia seguinte, não tomar cuidado quando entrar na água, vai virar o barco”.
O rei das redes sociais
Pepê Gonçalves é um dos atletas brasileiros mais ativos nas redes sociais. Hoje, o atleta de Piraju soma 139 mil seguidores só no Instagram. O que para muitos pode parecer futilidade ou algo prejudicial à sua preparação esportiva, para ele, é uma maneira de divulgar o seu esporte e inspirar outras pessoas.
“As redes sociais estão aí para a gente usar. Porque um esporte como o meu, que não tem visibilidade, não vai passar na televisão, a não ser o dia que eu for campeã olímpico. Então acho que chega a ser um egoísmo o atleta que não tenta divulgar o seu esporte nas redes sociais, porque está ali, é muito fácil. Hoje eu recebo mensagens de pessoas me agradecendo por mostrar o meu esporte para elas, ou falando que eu tirei elas de uma depressão… Isso é uma medalha, é fantástico”.
Medalha em Tóquio-2020
Tóquio-2020 já não será uma novidade para Pepê Gonçalves. Na Rio-2016, com apenas 23 anos e desacreditado por todos, o paulista conseguiu um resultado histórico, terminando na sexta colocação. “Sem dúvida, a memória que eu tenho mais incrível na minha vida é a Rio-2016. Eu talvez tenha ficado mais feliz com o meu sexto do lugar do que o cara que ganhou o ouro. Porque eu estava em casa, com o meu povo! Eu não era favorito para ninguém, só eu e meu treinador acreditaram em mim. Mas eu sabia do meu potencial. Foi espetacular”.
O ciclo para os Jogos do Japão, no entanto, foi de muito aprendizado. Apesar dos bons resultados nos anos seguintes à Olimpíada no Rio, Pepê queria mais, mas tinha dificuldade em encontrar o ritmo. Até que chegou 2019. “Eu demorei para encontrar essa energia das competições. Eu pensei: ‘ah, fui sexto lugar na Olimpíada, achei o jeito’. Mas não é assim. Em 2017, eu estava conseguindo os melhores resultados da história do Brasil, mas não era o que eu queria. Eu queria estar entre os 10 primeiros. Mas eu não estava encaixando, faltava maturidade. Aí veio 2019 e no segundo semetre, virei a chavinha na hora certa: Pan de Lima, duas medalhas de ouro. Mundial e vaga olímpica”.
Depois de um 2019 bastante recheado de viagens e conquistas, Pepê entrou em 2020 consumido. Mas, veio a pandemia, e pela primeira vez em muitos anos, ele pôde ficar em Piraju por mais de duas semanas. Treinou sozinho no rio da cidade, evoluiu a forma física e mental e chega agora para a reta final do ciclo para Tóquio-2020 confiante e em sua melhor versão.
“Um dia, eu sonhei em estar onde eu estou hoje. E a final olímpica eu já sei como é, já vivi isso. Então hoje, minha cabeça e o meu treinamento estão voltados para a medalha. Claro que Olimpíada a gente sabe como é, tem muita gente treinando como eu. Mas eu estou muito bem, na minha melhor forma física e mental. Mas não tem conversa, minha expectativa é a medalha”, concluiu.