Foram quatro medalhas de ouro em cinco provas e, mesmo na que não venceu, Nicole Silveira deu um show. Após uma primeira descida com problemas, recuperou nada menos do que nove posições na abertura da Copa Intercontinental de Skeleton. O desempenho é histórico e empolga com a aproximação dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 2022.
De forma merecida, a atleta da CBDG ficou sob os holofotes do jornalismo esportivo nacional. Todos querem saber um pouco mais da história dessa atleta que se mudou com a família para o Canadá, que competiu nas mais variadas modalidades, é enfermeira e que está (muito) próxima de uma vaga olímpica inédita para o Brasil no Skeleton.
Nicole Silveira é, sem dúvida, a grande estrela da delegação brasileira de esportes de inverno atualmente.
Não há dúvidas de que ela está escrevendo parte da história do país nas modalidades de gelo. Há três anos ela estava estreando no Skeleton e ninguém, nem mesmo ela, imaginava chegar tão longe em pouco tempo. Mas até onde Nicole Silveira pode chegar?
Os mais empolgados já falam em medalha olímpica – se não agora, em 2022, em 2026, na edição de Milão/Cortina D’Ampezzo. Os mais comedidos pensam no melhor resultado da história do país nos Jogos Olímpicos de Inverno – um top 8 em Pequim ou, no mais tardar, daqui quatro anos. É preciso, portanto, entender esse fenômeno ponto a ponto.
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Qual foi a evolução de Nicole Silveira no Skeleton?
Mais importante do que as medalhas de ouro foi a forma como a brasileira exerceu esse domínio. Confira um breve retrospecto de suas três temporadas:
- Resultados: na primeira temporada, apenas em uma prova ela não ficou entre as três últimas colocadas. No ano seguinte, ela foi a vice-campeã do circuito da Copa América e hoje tranquilamente se posiciona no pelotão de cima em qualquer disputa.
- Tempo: em sua primeira prova no Skeleton, em 7 de novembro de 2018, Nicole Silveira obteve 1min57seg07 em Whistler. Na mesma pista, em 9 de novembro de 2021, ela venceu com 1min47seg76. Praticamente dez segundos de diferença!
- Competição: na sua estreia no Mundial, em 2019, foi a penúltima colocada e ficou mais de dez segundos atrás da líder Tina Hermann. Em 2021, contra a mesma atleta, foram menos de cinco segundos de diferença com a 17ª posição, a melhor da história do país.
- Ranking: em 2020, a atleta da CBDG foi a 39ª colocada com 480 pontos e a última vaga olímpica ficaria com a sueca Leslie Stratton, com 437. Nesta temporada que mal começou ela já possui 421 pontos e vai somar mais pontos até janeiro.
Por que a brasileira cresceu tão rápido no esporte?
Normalmente, Nicole Silveira compete contra rivais que têm, no mínimo, seis anos de experiência no Skeleton – as principais, evidentemente, possuem uma vida inteira na modalidade. Ela está começando apenas a quarta temporada, mas tira a diferença com outras qualidades:
- Ela é uma atleta nata. Participou desde pequena de diferentes modalidades, como vôlei, futebol e fisiculturismo. Ou seja, ela assimila muito bem uma rotina de treinos, competições e cuidados físicos em busca da melhor performance.
- A brasileira tem um porte físico considerado ideal para o Skeleton, combinando velocidade, força e agilidade no trenó. O reforço em massa muscular apenas serviu para se adaptar e melhorar o rendimento.
- Ela possui um cronograma bem planejado. No verão ela se dedica a seu trabalho como enfermeira, mas no inverno consegue participar das provas e treinos com apoio da CBDG. Ou seja, calendário cheio e sem interferir tanto em sua rotina.
Por que a cautela se faz necessária?
Diante de resultados históricos, pedir para manter a calma pode soar meio hipócrita, mas é uma medida necessária. Nicole Silveira ainda tem alguns desafios pela frente para se posicionar de vez entre as melhores do mundo.
- As cinco provas até agora foram realizadas em Whistler, no Canadá, local que é praticamente a “casa” dela no skeleton. Isso não diminui seus feitos, mas é bom observar o desempenho dela em pistas nas quais possui pouca familiaridade, como as europeias.
- Nicole Silveira ainda não participou da Copa do Mundo de Skeleton. Na Copa Intercontinental ela se saiu bem diante de atletas que figuram no Top 10, mas é preciso ver os resultados que ela obtém com toda a elite reunida para ter um parâmetro.
- A oitava posição na corrida realizada na pista olímpica de Pequim foi fantástico por mostrar que ela se adaptou bem ao traçado. O resultado em si, verdade seja dita, não valia para o ranking. Assim, muitas atletas pouparam esforços para evitar acidentes.
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O que esperar da brasileira daqui por diante?
Com um desempenho tão impressionante, a vaga olímpica para Nicole Silveira é questão de tempo. Aliás, pode não parecer, mas essa foi apenas a primeira semana de competições da temporada! Ela ainda vai participar de mais onze provas entre Copa América, Intercontinental e Copa do Mundo até 14 de janeiro de 2022.
Desse total, os sete melhores resultados em pontuação são levados em conta para o ranking pré-olímpico. Ou seja, ela tem tudo para melhorar seu desempenho. Em Pequim, são 25 vagas disponíveis no skeleton feminino e onze serão distribuídas como cota individual para os países. Nessa toada, em dezembro ela já confirma a classificação.
Diante disso, minha visão é que a brasileira não só se classifica com folga, como deve ficar entre a 10ª e a 15ª posição nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2022. Para 2026, sim, eu espero um Top 8 se ela manter essa evolução.
Entretanto, reconheço que qualquer projeção para Nicole Silveira é um erro de estratégia. A cada fim de semana, a cada prova, ela consegue subir o sarrafo e surpreender com bons resultados. Portanto, em vez de imaginar qual resultado ela pode conquistar nos Jogos de Inverno de 2022, vamos nos deixar levar pelo seu próprio crescimento, saboreando cada conquista de uma atleta que não para de nos surpreender.