Em 2018, em sua primeira experiência na patinação de velocidade no gelo, Larissa Paes cogitou ir embora antes mesmo de competir. “Fiquei porque tinha amigos que participariam também. Achei legal, me distrai e achei que seria só isso”. Pouco mais de três anos depois, ela deu um importante passo para conquistar uma inédita classificação olímpica para o Brasil na modalidade.
Logo na prova de abertura da temporada 2021/2022, a brasileira conquistou o tempo necessário para disputar a corrida de Largada em Massa (Mass Start) nas quatro etapas da Copa do Mundo de patinação entre novembro e dezembro. As competições são obrigatórias para quem deseja se classificar aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em fevereiro de 2022.
“Quando começamos os trabalhos, não achei que teria chances reais, mas os tempos não são impossíveis e vi que poderia ter uma oportunidade”, explicou em entrevista exclusiva ao Brasil Zero Grau e Olimpíada Todo Dia.
Larissa Paes é, atualmente, a única atleta feminina da equipe brasileira de patinação de velocidade. O esporte foi o último a se desenvolver na CBDG, que recuperou a filiação na ISU, órgão máximo do esporte, apenas em 2017. Na mesma situação está João Victor da Silva, o representante masculino que também busca a classificação olímpica na Largada em Massa.
Em outubro, ela vai ter mais uma chance de fazer o tempo exigido para os Jogos Olímpicos de Inverno antes de se preparar para as etapas da Copa do Mundo. A brasileira deve participar da primeira competição da Copa Americana de patinação de velocidade em Salt Lake City, nos Estados Unidos.
Depois, entre os dias 12 e 14 de novembro, acontece a etapa de abertura da Copa do Mundo da modalidade em Tomaszów-Mazowiecki, na Polônia. Na semana seguinte, a competição prossegue para Stavanger, na Noruega. Em dezembro, as etapas serão em Salt Lake City e em Calgary, no Canadá.
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Prova de Largada em Massa é “atalho” para sonho olímpico
A caminhada olímpica de Larissa Paes era longa e tortuosa, mas ganhou um atalho importante. A prova de Largada em Massa entrou no programa olímpico em 2018 e, diferentemente das demais distâncias, não consiste exclusivamente em tomada de tempo, mas em um sistema de pontuação distribuído de acordo com as posições dos atletas ao longo da disputa.
São 16 voltas na pista oval. A cada quatro voltas, o primeiro colocado ganha cinco pontos, o segundo, três, e o terceiro, um. Na 16ª e última, quem cruzar a linha de chegada em primeiro ganha 60 pontos, o segundo, 40, e o terceiro 20. Dessa forma, o pódio é realmente formado pelos três primeiros que chegarem na frente.
Mas do quarto em diante, a classificação leva em conta a pontuação. Por exemplo: imagina uma atleta que liderou até a 12ª volta, recebeu 15 pontos (5 pontos a cada quatro voltas), mas por algum motivo cruzou a linha de chegada em último. Na classificação final, ele vai ser o quarto colocado, mesmo que o tempo final seja muito acima dos demais.
Por conta disso, o tempo exigido para participar da Largada em Massa é menos rigoroso do que as demais distâncias. Para Larissa Paes, acostumada às provas de longa distância sobre rodas, foi a alternativa perfeita. “É a mais parecida mesmo, é algo que sei como funciona, mas ainda tenho receio com as lâminas durante a prova. Esse domínio leva tempo, mas na hora da prova é questão de aproveitar as oportunidades que surgirem”.
Larissa Paes possui longa trajetória na patinação de rodas
A atleta ganhou seu primeiro patins aos seis anos. Aos 13, começou a treinar. Com 15, conquistou seu primeiro título nacional e, a partir daí, foram praticamente dez anos de dedicação à equipe brasileira de patinação de velocidade sobre rodas, com presença em diversos eventos, como Campeonatos Mundiais.
Foi após o Mundial de Patinação sobre Rodas na Holanda, em 2018, que surgiu a oportunidade de conhecer a modalidade no gelo. Com um amigo australiano, participou de uma atividade de transição no país europeu (principal potência do esporte). Foram duas provas que validaram a tomada de tempos – o que fez Larissa Paes ser a primeira brasileira a competir no esporte.
Entrou em contato com a CBDG na sequência, que justamente buscava atletas para iniciar projetos esportivos na patinação de velocidade. “As duas partes se encontraram”, comentou. Desde então, foram três temporadas dedicadas à disputa no gelo, diminuindo seus tempos em todas as distâncias desde então.
Preparação em tempo integral nesta temporada
A evolução é nítida, mas para sonhar com os Jogos Olímpicos na prova de Largada em Massa, era preciso fazer mais um esforço. Até então, ela passava os verões do Hemisfério Norte no Brasil (entre maio e setembro) e depois voltava a Salt Lake City para retomar seus treinamentos. Assim, havia um período de readaptação física.
Nesta temporada, Larissa Paes precisava alcançar a melhor marca de sua carreira logo nas primeiras provas. Portanto, ficou nos Estados Unidos e fez toda a pré-temporada por lá. Os treinos incluíam ciclismo e até mesmo subir os degraus da rampa de Saltos de Esqui em Park City.
“É difícil saber qual vai ser o resultado no dia da prova, mas estou treinando muito. Mais do que treinei no resto da minha vida. Fiz a temporada completa para atingir esses objetivos”, complementa.
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Como funciona a classificação olímpica na patinação de velocidade?
A caminhada olímpica na patinação de velocidade é um pouco mais complexa do que as demais modalidades. Para conseguir a classificação aos Jogos Olímpicos de Pequim, o atleta precisa atingir o tempo mínimo exigido pela ISU e ainda conseguir a pontuação necessária nas quatro etapas da Copa do Mundo entre novembro e dezembro de 2021.
No caso de Larissa Paes, é preciso completar uma prova dos 1500 metros abaixo de 2min10seg00 até 16 de janeiro de 2022 para cumprir os requisitos mínimos de classificação na Largada em Massa. A tomada de tempo pode acontecer em qualquer corrida reconhecida pela ISU nesse período.
Paralelo a isso, ela vai disputar as corridas desta distância nas quatro etapas da Copa do Mundo de Patinação de Velocidade para alcançar uma das 24 vagas olímpicas disponíveis. No caso específico da Largada em Massa, a cota olímpica especial (SOCQ) leva em conta apenas a pontuação obtida pelos competidores na classificação final nos eventos. Ou seja, quanto melhor for a sua colocação, mais perto ela fica da vaga.