Por muito tempo, o bobsled brasileiro tinha a técnica, mas não a estrutura de treinamento necessária para se igualar às principais potências do esporte. Essa diferença não existe mais. Nessa quarta-feira, 18 de agosto de 2021, a modalidade finalmente ganhou um espaço para construir sua primeira pista fixa de push (largada) no país.
A estrutura vai ficar no Centro de Treinamento Esportivo Mário Chekin, em São Caetano do Sul. O local abrigava a equipe do B3 Atletismo, uma das mais importantes do país. Hoje, é administrado pela prefeitura e, além da pista oficial de atletismo (ideal para o bobsled), concentra também o maior centro de lutas da América Latina.
“A ideia é ter abrir portas, permitir que mais pessoas possam conhecer a modalidade e, assim, recrutar talentos para nossa equipe no futuro”, comentou Edson Bindilatti, piloto do bobsled brasileiro e um dos responsáveis por todo o projeto ao lado do Clube Paulista de Desportos no Gelo (CPDG).
A entidade assinou um contrato de concessão de uso do terreno com a prefeitura de São Caetano do Sul. A estrutura compreende uma pista suspensa para a prática de arranque do trenó, com descida e subida, e uma academia. Ela será construída ao lado da pista de atletismo, permitindo integrar tanto o treinamento técnico quanto o físico para o esporte.
A contrapartida para a cidade do ABC é justamente contribuir para a formação de jovens atletas no município por meio de projetos sociais. “Além do esporte fazer parte da nossa história, há também o pioneirismo da modalidade. Abre-se um novo horizonte para a nossa juventude”, afirmou Tite Campanella (Cidadania), que exerce o cargo de prefeito interino.
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, NO INSTAGRAM E NO FACEBOOK
Como a pista pode impulsionar o bobsled brasileiro?
A construção da pista fixa e suspensa elimina a única diferença na preparação do bobsled brasileiro em relação à elite do esporte. Com seu uso, os atletas do país finalmente terão a mesma estrutura de treinos e atividades dos grandes nomes do esporte, seja na parte física quanto na técnica.
Isso porque esta estrutura é posicionada de forma mais elevada, garantindo que o arranque seja em descida e, posteriormente, com uma parte em aclive para facilitar a desaceleração. Ou seja, com exceção do frio, a experiência vai ser praticamente a mesma de todas as pistas oficiais existentes no Hemisfério Norte.
Hoje, a equipe já possui uma pista móvel, levada justamente ao CTE Mario Chekin, mas ela é reta e serve mais para a equipe treinar a entrada no trenó. Agora, com a nova pista, essa distância acaba. Os brasileiros podem treinar arranques e parte física durante entre maio e setembro, quando as pistas estão fechadas, como todos os grandes competidores fazem atualmente.
Quais são os próximos passos do projeto?
Vencida a parte burocrática, é hora do bobsled brasileiro colocar a mão na massa. O Clube Paulista de Desportos no Gelo já arrecadou R$ 40 mil e vai iniciar as obras já na próxima semana. O valor é suficiente para montar uma estrutura mais básica, permitindo seu uso para treinamento esportivo.
A entidade busca levantar mais R$ 100 mil com apoiadores, patrocinadores e um financiamento coletivo. Com esse dinheiro, será possível fazer todo o acabamento e deixar o local pronto para receber não só o alto rendimento, como também desenvolver projetos sociais para jovens atletas da região.
“Já conseguimos uma parte do orçamento total com apoio de empresas parceiras, mas ainda precisamos de mais um pouco para que tudo fique pronto. Estamos conversando com apoiadores e indo atrás das pessoas que acreditam”, explica Bindilatti.
A Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG), responsável pelo bobsled brasileiro, é uma das parceiras da entidade neste projeto. Ainda que os organizadores não tenham dado um prazo máximo para conclusão da obra, a expectativa é que a pista seja entregue antes de 2022 para aproveitar a realização dos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, na China, em fevereiro.
+ O BRASIL ZERO GRAU TAMBÉM ESTÁ NO TWITTER, NO FACEBOOK E NO INSTAGRAM! SIGA!
Maurren Maggi é ‘madrinha’ do bobsled brasileiro
Para alcançar a meta financeira, o projeto conta com um reforço de peso. A campeã olímpica Maurren Maggi, que treinou por muito tempo em São Caetano do Sul, virou “madrinha” da equipe. Com seu apoio, o objetivo é atrair apoiadores e, claro, reforçar a importância de projetos sociais na área esportiva.
“Eu conhecia o bobsled por causa do filme [Jamaica Abaixo de Zero] e fiquei com aquela curiosidade. Depois, com os meninos no Brasil treinando, eu vi que era possível. Está aí, para todo mundo ver! Não é um bicho de sete cabeças! Eles são bons”, comemorou a ex-atleta, campeã olímpica do salto em distância em 2008.