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Esportes de Neve

Combinado Nórdico rompe última barreira machista no inverno

Último esporte a proibir participação feminina, Combinado Nórdico realiza primeira etapa feminina da Copa do Mundo na história

Tara Geraghty-Moats vence primeira etapa da Copa do Mundo de Combinado Nórdico
Tara Geraghty-Moats faz história e conquista a primeira etapa feminina da história da Copa do Mundo de Combinado Nórdico (NordicFocus/FIS)

Na sexta-feira, 18 de dezembro de 2020, caiu a última barreira machista nos esportes de inverno. Pela primeira vez na história, as mulheres puderam participar da Copa do Mundo de Combinado Nórdico. A prova inaugural aconteceu em Ramsau, na Áustria, com uma disputa HS 98 no Saltos de Esqui e uma corrida de cinco quilômetros no esqui cross-country.

A vencedora foi a norte-americana Tara Geraghty-Moats, 27 anos, com 13min58seg3. Atual campeã da Copa Continental (um estágio inferior à Copa do Mundo), ela desponta como grande nome do esporte no cenário internacional. Gyda Hansen, da Noruega, terminou na segunda colocação e Anja Nakamura, do Japão, foi a terceira.

“Eu espero conquistar uma Copa do Mundo ou uma medalha no Mundial. Entretanto, o grande sucesso para mim é ser uma das pioneiras que ajudaram a fazer o Combinado Nórdico feminino uma realidade”, comentou a vencedora da etapa de abertura com exclusividade ao Brasil Zero Grau e Olimpíada Todo Dia.

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A realização de uma etapa feminina da Copa do Mundo de Combinado Nórdico é o último passo de um projeto iniciado pela Federação Internacional de Esqui (FIS) há quatro anos. A entidade traçou um planejamento para incluir mulheres, principalmente as mais jovens, em disputas internacionais.

O primeiro passo foi a criação da Copa Continental, em 2018, permitindo às atletas participarem de um circuito internacional. Em 2019, houve a inclusão no Mundial Júnior e, no ano seguinte, nos Jogos da Juventude de Inverno em Lausanne, na Suíça. Agora em 2021, elas participam também de forma inédita do Mundial de Esqui Nórdico.

O objetivo da entidade era incluir a categoria feminina nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022, mas o COI não aprovou – pelo menos por enquanto. Mas com as recentes medidas de equidade de gênero, certamente deve entrar no programa dos Jogos de Cortina D’Ampezzo e Milão, em 2026.

Visão mudou, mas ainda há muito a ser feito

O Combinado Nórdico era a última modalidade dos esportes de inverno exclusivamente masculina. A medida vai ao encontro da nova visão do COI e da FIS de promover a maior participação feminina em suas modalidades, sobretudo no esqui nórdico (que compreende também o esqui cross-country e o saltos de esqui). Mas nem sempre foi assim.

Em 2009, inconformadas com a não inclusão do Santos de Esqui feminino em Vancouver-2010, diversas atletas processaram o COI por discriminação de gênero. A pressão surtiu efeito: a FIS criou a Copa do Mundo em 2012 e o esporte pôde fazer sua estreia no programa olímpico em Sochi-2014.

(Abre parênteses: quem quiser saber mais sobre essa história, recomendo o documentário Ready to Fly, de 2012, dirigido por William Kerig).

Felizmente houve uma mudança de foco nesta última década e as atletas de combinado nórdico não precisaram tomar medidas drásticas. Entretanto, essa inclusão ainda está longe do ideal. Nesta temporada inaugural, elas teriam apenas três etapas (e duas já foram canceladas por conta da pandemia de covid-19) contra 11 para os homens. As premiações também seguem desiguais.   

“O mundo esportivo como um todo não valoriza o esporte feminino”, afirma Tara Geraghty-Moats.

Principal nome do Combinado Nórdico feminino dentro e fora da neve

Mais do que a primeira vencedora de uma etapa da Copa do Mundo da modalidade, a norte-americana Tara Geraghty-Moats pode ser vista como uma das mais ferrenhas defensoras dos direitos das mulheres na modalidade. Em suas redes sociais ela questiona constantemente as premiações, estrutura, calendário e provas.  

“Ter mulheres no cenário mundial vai ajudar o esporte a crescer como um todo. Além disso, ter mulheres nas competições por equipes vai deixar tudo mais emocionante para os torcedores e as próprias equipes”, comenta.

Tara já era uma atleta internacional. A paixão pelo esporte veio da mãe, que trabalhava em uma loja de esqui e fez a filha encarar o esporte como estilo de vida. Enquanto aguardava uma definição do Combinado Nórdico, competiu por cinco anos na Copa do Mundo de Saltos de Esqui e esteve presente em dois Campeonatos Mundiais da modalidade.

Tara Geraghty-Moats na corrida da primeira etapa da Copa do Mundo de Combinado Nórdico
Tara Geraghty-Moats (nº 6) na corrida que deu a vitória na etapa inaugural da Copa do Mundo de Combinado Nórdico (NordicFocus/FIS)

Contudo, desde 2018, com a abertura da Copa Continental, passou a se dedicar exclusivamente ao novo esporte. Deu resultado. Em duas temporadas, conquistou o bicampeonato da competição. No Grand Prix, que acontece no verão do hemisfério norte, foi a segunda colocada.

“Um amigo sempre dizia que vencer é um ótimo treino para vencer. É um pouco simplista, mas acredito que competir em qualquer nível ajuda a te preparar para mais competições”.

Dessa forma, nem mesmo ela se empolga com esse domínio no início do calendário internacional de Combinado Nórdico. O que Tara Geraghty-Moats quer de verdade é ter mais jovens atletas competindo a seu lado e promovendo a modalidade como um todo.

“O esporte vai, lentamente, se desenvolver. Ainda não temos premiações iguais, mas neste começo já tem um bom nível de prêmio e há planejamento para chegar a uma igualdade. Isso vai ser um enorme incentivo para as mulheres continuarem no esporte e vai ajudar a se desenvolver de forma mais rápida”, conclui.

Lisa-Marie Hirner encarna promessas de dias melhores

A luta de Tara Geraghty-Moats é permitir que a geração seguinte de atletas possa ter melhores condições de treinar e competir. A austríaca Lisa-Marie Hirner é uma das principais representantes das jovens mulheres. Campeã dos Jogos Olímpicos da Juventude de Inverno de 2020, ela também concedeu uma entrevista exclusiva ao Brasil Zero Grau e Olimpíada Todo Dia.

“Espero que a Copa do Mundo feminina se estabeleça com muitas etapas e que o Combinado Nórdico feminino como um todo continue a se desenvolver”, comentou.

Aos 17 anos, ela entrou para a história ao conquistar a primeira medalha de ouro da modalidade em um evento olímpico. Também em 2020, foi bronze no Mundial Júnior da modalidade. Subiu ao pódio em quatro das últimas cinco provas que disputou na Copa Continental. Na etapa de abertura da Copa do Mundo, foi a sexta colocada.

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“É difícil definir objetivos claramente devido à situação da covid-19. Ainda não se sabe quais eventos acontecerão realmente. Mas me propus a chegar ao pódio tanto do Mundial Júnior quanto do Adulto. Além disso, busco ficar no Top 5 da Copa do Mundo”.

Nada mal para quem vive do esporte desde os dois anos. Praticou futebol, escalada e judô. No verão, gosta de velejar e praticar windsurfe. Mas a paixão é o inverno. O pai e seus dois irmãos são saltadores de esqui. Entrou em uma escola da modalidade aos 11 anos. Era a única menina presente. Os demais alunos eram garotos que se preparavam para o combinado nórdico.

“Foi uma decisão que tive que tomar: apenas assistir ou me juntar a eles. Então comecei na modalidade e não parei mais”.

Resta saber, agora, qual será a próxima disputa da Copa do Mundo feminina da modalidade. A etapa seguinte, que aconteceria em Otepää, na Estônia, entre 1º e 3 de janeiro de 2021, foi cancelada. A primeira, que seria realizada em Lillehamer, na Noruega, no início de dezembro, também não aconteceu por conta da covid-19.

A expectativa é realocar algumas provas em locais que já irão receber a competição masculina. Porque nem mesmo uma pandemia vai impedir as mulheres de se estabelecerem e conquistarem seu espaço no último reduto machista dos esportes de inverno.

Lisa-Marie Hirner é uma das promessas do Combinado Nórdico
Lisa-Marie Hirner é uma das grandes promessas do Combinado Nórdico (ÖSV/Derganc)

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