Depois de anos de seguidas críticas, alertas e punições, a Associação Internacional de Boxe (IBA) chegou em uma “situação irreversível”, segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI) e foi oficialmente desfiliado da entidade, durante uma Sessão Extraordinária do COI nesta quinta-feira (22). Um total de 69 omembros do COI aceitaram a recomendação do Comitê Executivo da entidade, enquanto apenas um votou contra. Dez membros se abstiveram. Antes da votação, Thomas Bach fez uma forte crítica aos governos ucranianos e de outros países que estão proibindo a participação de atletas da Rússia e Belarus como atletas independentes neutros.
O diretor geral do COI Christophe De Kepper garantiu que o boxe estará presente nos Jogos de Los Angeles 2028. O belga afirmou que a organização do esporte em Paris 2024 será similar ao que aconteceu em Tóquio 2020. Porém, a IBA já mencionou que seus árbitros e dirigentes estão proibidos de colaborar com o COI. Ainda nesta quinta-feira, começa a disputa do boxe nos Jogos Europeus que definirá as primeiras vagas olímpicas na modalidade.
Antes da votação, De Kepper leu um relatório alarmante sobre a IBA, comentando que a associação não seguiu as recomendações da Força Tarefa do COI, e não aproveitou oportunidades dadas, “demonstrando falta de compreensão e vontade em evoluir”. Ele mencionou problemas de corrupção, arbitragem e tesouraria, citando especificamente a falta de um financiamento sustentável e dependência da Gazprom, companhia estatal russa.
Preocupação
O presidente Bach disse que o COI segue preocupado com os atletas e o esporte como um todo. “Se tivéssemos problemas com o boxe, não teríamos jogos em Tóquio, porque a IBA já estava suspensa naquela época”, lembrou ele.
Em 2019, o Comitê Olímpico Internacional já havia suspendido a então Associação Internacional de Boxe Amador (AIBA) e organizou os Jogos de Tóquio 2020 através de um comitê próprio. A 140ª sessão acontecerá de forma completa e de forma presencial em Mumbai, Índia, entre 15 e 17 de outubro de 2023. A expectativa é que até lá o COI traga mais detalhes sobre a realização do boxe e a participação de atletas da Rússia, Belarus, além de Guatemala cujo comitê olímpico segue suspenso.
Durante a sessão, aconteceu também a abertura da Semana Olímpica do E-Sports em Singapura, primeiro grande evento de e-sports organizado pelo Comitê Olímpico Internacional. Segundo a organização, 130 atletas de 60 países participarão do evento, sendo que mais de 500 mil usuários estiveram nas etapas classificatórias. Além disso, questões financeiras e burocráticas foram também discutidas durante a sessão.
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Apoio a participação de atletas russos e belarussos
Antes da decisão, o presidente Thomas Bach fez uma longa atualização sobre a questão russa. Ainda que ele não tenha anunciado nenhum detalhe de como seria a participação dos atletas russos e belarussos nos Jogos Olímpicos, o dirigente alemão lembrou que o principal valor do COI é o de “servir a todos os atletas sem qualquer descriminação”. Bach mais uma vez reforçou a solidariedade à Ucrânia e o desafio da contribuição com a paz através do “poder unificador do esporte”.
Ainda de acordo com o presidente do COI, apenas 52 governos internacionais seguiram o caminho da entidade e impuseram sanções aos governos de Moscou e Minsk, ainda que 141 países tenham condenado a guerra, reforçando a falta de união internacional em uma resposta.
“O lado russo quer que ignoremos a guerra, enquanto o lado ucraniano quer que nós isolemos qualquer um com passaporte russo ou belarusso. Nenhuma das duas opções é completamente oposta a nossa missão e à Carta Olímpica”, Thomas Bach.
Em seguida, Bach alertou do perigo na criação de jogos que reúnam apenas países com posições políticas similares. Vale lembrar que ele foi campeão olímpico no florete por equipes em Montréal 1976, mas com o boicote da Alemanha Ocidental, não pode participar de Moscou 1980. Em seu discurso, ele reafirmou os Jogos Olímpicos como um local de união e aberto a todos os povos. Uma politização não marcaria apenas o fim do esporte, mas também vai “contra tudo aquilo em que acreditamos”, complementou Bach.
A fala dele foi uma menção à ideia da Federação Russa em criar os Jogos da Amizade ou ainda em propor a organização dos Jogos do BRICS. O evento com Brasil, China, Índia e África do Sul, que aconteceria originalmente na Índia pela primeira vez em 2021. Eventualmente foi cancelado, e o presidente russo Vladimir Putin reafirmou seu interesse em organizar uma edição inaugural.
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Críticas aos governos da Polônia e da Ucrânia
O presidente do COI agradeceu os dirigentes da Federação Internacional de Esgrima, Judô e Taekwondo, que respeitaram “a autonomia do esporte”, em suas competições. O campeonato europeu de esgrima seria disputado durante os Jogos Europeus na Polônia. O governo polonês, porém, negou a participação e visto de atletas russos e belarrussos, ele aconteceu finalmente na Bulgária. O dirigente acusou “intervenção na autonomia do esporte” pelo governo polonês.
Da mesma maneira, Bach acusou o governo ucraniano de negar a seus atletas que participem de eventos em que russos e belarussos estejam presentes como atletas neutros. “Atletas ucranianos estão sendo sancionados pelo próprio governo por causa da guerra iniciada pela Rússia e Belarus. É difícil entender porque o governo está limitando os próprios atletas em se classificar para os Jogos Olímpicos de Paris 2024 e levar orgulho ao povo ucraniano”. Bach mencionou o tênis como um caso em que atletas russos e ucranianos competem no mesmo evento e as vezes entre si, sem grandes problemas.
Mais uma vez, Bach fez um apelo para que os atletas ucranianos possam participar de qualquer modo dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, imaginando a reação calorosa que receberá do público à margem do Rio Sena na abertura. Ele ainda mencionou que fará todo o possível para que a Ucrânia leve uma grande delegação para os Jogos Olímpicos.