O Brasil fez história no Mundial de boxe feminino, encerrado no último domingo (26), em Nova Déli, na Índia. O país conquistou um ouro, com Beatriz Ferreira (60kg), e um bronze, com Barbara Santos (70kg), e obteve sua melhor campanha na competição. Ainda em clima de comemoração, a equipe retornou ao Brasil nesta terça-feira (28) e analisou o desempenho no campeonato, já projetando a sequência da temporada, que ainda terá a disputa do pré-olímpico.
+ Compartilhe no WhatsApp
+ Compartilhe no Telegram
“Nós fomos com um prognóstico positivo, pensando em ter um bom desempenho como no Mundial de Istambul, no ano passado, em que fizemos uma final e também conquistamos uma medalha de bronze. Tínhamos o objetivo de duas medalhas e conseguimos. Além disso, fizemos duas quartas de finais. Nós sempre analisamos todo o processo e todas as nossas apresentações foram muito positivas, mesmo quando o resultado não foi a vitória. As meninas saíram com a sensação de dever cumprido”, disse Léo Macedo, treinador da seleção.
+ Minas vira no fim para vencer o Corinthians pelo NBB
+ Confira como foi o segundo título mundial de Bia Ferreira
+ Jonathan Matias fura qualifying do Masters de Madri de badminton
+ Troféu Brasil irá reunir 21 atletas da seleções brasileiras de ginástica artística
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, TWITTER, INSTAGRAM, TIK TOK E FACEBOOK
Campanha histórica
A melhor participação do Brasil em uma única edição de Mundial havia sido em 2022, em Istambul, na Turquia, quando conquistou uma prata e um bronze, com Beatriz Ferreira (60kg) e Caroline Almeida (52kg), respectivamente. Em Nova Déli, o país contou com a presença de sete atletas. Além das medalhas de Bia Ferreira e Barbara Santos, Jucielen Romeu (57kg) e Beatriz Soares (66kg) perderam nas quartas de final, ficando a uma luta do pódio, e Caroline Almeida (50kg), Tatiana Chagas (54kg) e Viviane Pereira (75kg) pararam nas oitavas.
“Foi por um detalhe que não conquistamos a terceira medalha. A Beatriz Soares perdeu em uma luta muito discutível contra a Tailândia, numa decisão que foi para os julgadores externos. Mas nós estamos satisfeitos. O que tem de acontecer é sempre pegar medalha. E não pode ser só a Bia (Ferreira). A gente está mostrando que não é só ela. A Carol medalhou no último Mundial, a Barbara neste. Nós temos, sim, outras atletas que estão representando e podem pegar medalha em Paris”, analisou o head coach da seleção, Mateus Alves, que não esteve na Índia por conta do nascimento de sua terceira filha.
Boicotes
O Mundial de Nova Déli foi marcado pelo boicote de 17 nações ocidentais em protesto à participação de atletas da Rússia e de Belarus no evento. Foi a primeira grande competição em que atletas dos dois países puderam competir sem neutralidade, desde que foram punidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) por conta da invasão à Ucrânia, em fevereiro de 2022. Países como Estados Unidos, Irlanda, Canadá e Grã-Bretanha, que são tradicionais no boxe feminino, não enviaram atletas para o Mundial. Entretanto, Léo Macedo afirmou que as ausências não interferiram no nível técnico do campeonato, que se manteve muito forte.
“O nível foi alto como sempre. A gente acaba sentindo a ausência de algumas equipes fortes e tradicionais, como os Estados Unidos e a Irlanda, mas é pouco se comparado com o montante geral. Tivemos a China, que não foi a Istambul com uma equipe completa e desta vez estava fortíssima, a Índia lutando em casa com uma equipe muito forte e a Rússia, que não foi bem, mas é sempre uma adversária dura. Houve boicote, mas no final não se sentiu tanto na questão de competitividade e qualidade do torneio”, avaliou ele.
Emoção a mais
Os pódios de Beatriz Ferreira e Barbara Santos foram muito especiais para as duas atletas, ainda que por motivos distintos. Além de ter sido bicampeã mundial, feito inédito para o boxe brasileiro, Bia teve a oportunidade de uma “revanche” contra a sul-coreana Oh Yeon-ji, que foi responsável por sua eliminação na segunda rodada do Mundial de 2018, que também ocorreu em Nova Déli. Nesta edição, as duas se enfrentaram na semifinal e a brasileira venceu por unanimidade. Bia, aliás, venceu todas as lutas por decisão unânime e recebeu o troféu de melhor atleta da competição.
“Apesar de ter tido esse boicote, lá não parecia porque tinham muitas adversárias. Nós já tínhamos feito um planejamento bem antes, estudamos todas as adversárias. Eu sabia mais ou menos o quão forte elas poderiam chegar contra mim. Fizemos um jogo diferente, mas na hora do combate foi tranquilo. Às vezes precisamos mudar um pouquinho, mas eu não me senti nada ameaçada ou encurralada que tivesse essa pressão de virar o jogo. Eu sabia que estava equilibrando e dominando o combate em todos os rounds”, contou.
“Missão dada é missão cumprida. Desde quando eu decidi me dedicar a ser uma atleta de alto rendimento, queria quebrar números e barreiras e entrar para a história. Isso é recompensa de todo o meu esforço, de tudo que eu tive que abrir mão e me dá mais ânimo de querer conquistar mais coisas ainda. Até a próxima surgir, vai demorar um pouquinho. Ela vai ter que treinar muito”, falou Bia, que além de ter três medalhas em Mundiais, foi vice-campeã olímpica em Tóquio-2020.
Bynha vive a experiência pela primeira vez
Para Barbara, a emoção foi maior por ter sido sua primeira participação na competição. A baiana de 32 anos foi vice-campeã mundial militar em 2021, mas disputou o Mundial Civil pela primeira vez. “Fiquei muito feliz. É uma gratificação saber que o trabalho feito surtiu efeito. Tenho essa medalha com gosto de ouro. Foi algo muito novo para mim, estar lutando contra atletas que eu não tinha disputado em nenhuma outra competição. Isso me fez sentir uma adrenalina um pouco maior, aquele friozinho na barriga, mas no final deu tudo certo”, disse Bynha, como é conhecida.
Próximos compromissos
Agora, a equipe brasileira terá alguns dias de descanso pós-Mundial e retornará aos treinos no início de abril. Para as meninas, a próxima grande meta da temporada são os Jogos Pan-Americanos Santiago-2023, que vão acontecer a partir de 20 de outubro. A competição será classificatória para a Olimpíada de Paris 2024, por isso terá uma importância ainda maior. Conquistado o bicampeonato mundial, Bia vai se dedicar ao boxe profissional pelos próximos meses antes de focar no Pan.
“O ano começou muito forte, com Strandja e o Campeonato Mundial. Ainda quero fazer duas lutas no profissional, garantir minha vaga para Paris e conseguir uma medalha de ouro novamente no Pan. Esse ano é bem preparatório, talvez seja mais duro do que o próprio ano dos Jogos Olímpicos por conta das competições. A gente tenta reajustar todas as nossas estratégias e treinamentos para chegar em Paris voando baixo”, falou a baiana.