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Francielle Santos
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Boxe

Francielle Santos: do aterro sanitário em Marituba à seleção olímpica

Aos 18 anos, Francielle Santos abandonou o trabalho no setor de transporte de chorume no aterro sanitário de Marituba para se dedicar 100% ao boxe

A medalha de bronze no Campeonato Brasileiro de boxe no ano passado representou para Francielle Santos, de apenas 18 anos, a grande virada em sua vida. A pugilista foi chamada a integrar a equipe olímpica permanente do Brasil e pôde deixar o emprego no setor de transporte de chorume do aterro sanitátio de Marituba, no Pará, sua cidade natal, para se dedicar, pela primeira vez na vida, 100% ao esporte.

Na seleção brasileira desde janeiro de 2020, Francielle Santos passou a receber salário da CBBoxe e vive num apartamento dividido com outras seis atletas em São Paulo, onde acontecem os treinos. A moradia e a alimentação são bancadas pela entidade, que também disponibiliza atendimento médico, fisioterapia, massagista, nutricionista, psicólogo e suplementação esportiva para todos os pugilistas, que contam também com preparador físico e quatro treinadores.

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A jovem lutadora atualmente trabalha como sparring de Graziele de Jesus, titular da seleção brasileira na categoria até 51 kg. Trabalhando perto de referências como a campeã mundial Beatriz Ferreira, Francielle Santos já começa a sonhar em disputar uma Olimpíada.

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De vermelho, Francielle Santos posa ao lado das companheiras de seleção. Bem acima dela está a campeã mundial Beatriz Ferreira (Divulgação)

As chances para Tóquio não existem porque vai ser a titular que vai disputar o Pré-Olímpico, mas Paris-2024 não é impossível para quem é jovem e vai participar do ciclo completo até os Jogos franceses.

“Sei que será difícil e muito árduo, mas farei o meu melhor. Continuarei sempre focada para continuar na seleção e conquistar a vaga para as Olimpíada de Paris, em 2024. Ainda sou nova e tenho exatamente isso em meu favor”, destaca a atleta.

Esperança é o que não falta para a garota, que começou no boxe em 2015 por causa da irmã, que já treinava em Marituba. “Passei a treinar porque queria mostrar que também podia fazer o mesmo. A partir daí, eu não parei mais”, relembra Francielle. Ainda junto com sua irmã mais velha, participava dos treinamentos na academia Dago Fight, que era muito simples, com o chão de cimento e pouca estrutura. “Não tinha aparelhos adequados para as aulas e os alunos dividiam as luvas de boxe nas aulas”, completa.

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Francielle Santos começou no boxe por influência da irmã mais velha em Marituba (Divulgação)

As coisas melhoraram quando a academia passou a receber apoio de um projeto social mantido pelo Instituto Solví, que pertence à Guamá Tratamento de Resíduos. Devido ao potencial de Francielle Santos, a empresa passou a dar apoio específico à boxeadora, que, com 16 anos, conseguir ir pela primeira vez ao Campeonato Brasileiro em 2018, quando conquistou também a medalha de bronze.

Simultaneamente, a jovem conseguiu o seu primeiro emprego no setor de transporte de chorume do Aterro da Guamá em Marituba, por meio do programa Jovem Aprendiz. Assim, Francielle passou a trabalhar diariamente das 14h às 18h e só treinava depois de sua jornada na empresa.

Ela chegava em casa, pegava seus materiais de treinamento e enfrentava, a pé, uma longa distância até a academia num caminho muito deserto tanto na ida quanto na volta. “Tinha um pouco de medo, mas a coragem me ajudou a enfrentar essa situação”, revive. Em 2019, foi promovida e passou a ter uma carga maior de trabalho, dificultando ainda mais para que ela conseguisse conciliar a atividade com o esporte.

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A conquista da medalha de bronze no Brasileiro no ano passado foi fundamental para que ela fosse chamada para fazer parte da seleção (Dilvugação)

Em agosto de 2019, Francielle se mudou para outra residência. Por questões de proximidade, também optou por mudar de local para treinar. Dessa forma, passou a frequentar a academia Ozzy Boxe. Mesmo com sua decisão, o Instituto Solví continuou a apoiar a atleta, ao bancar os custos das viagens e materiais usados nos campeonatos.

O apoio concedido à lutadora permaneceu até a conquista da sua segunda medalha de bronze no Brasileiro, em dezembro passado. “Esse auxílio foi essencial para me consolidar e poder ter dedicação total ao boxe. Essa ajuda mudou totalmente a minha vida e proporcionou o meu sonho até mesmo de participar de uma Olímpiada”, conclui Francielle.

A oportunidade de fazer parte da seleção brasileira de boxe deu a Francielle Santos a chance de se dedicar ao esporte. Permanecer na equipe, só depende dela, que, aos poucos, conseguiu superar a saudade da família e dos amigos.

“A parte mais dolorosa foi deixar os parentes e os amigos que eu sempre convivi. Confesso que isso me deixou um pouco dividida. Mas com empenho e determinação, é possível superar, pois estou num patamar que queria para mim, o de focar totalmente minha carreira no boxe”, ressalta.

A saudade da família e dos amigos é o maior obstáculo de Francielle quando está em São Paulo (Divulgação)

Por conta da pandemia, no entanto, as atividades da seleção brasileira estão paralisadas por causa das restrições implantadas no Estado de São Paulo para tentar conter o avanço da covid-19. Com isso, Francielle Santos voltou para casa e está aproveitando para matar um pouco da saudade, mas assim que as coisas se normalizarem será chamada de volta para treinar com a equipe.

Depois de voltar de duas competições seguidas na Bulgária e na Alemanha, os titulares da seleção brasileira receberam folga nesta semana e devem voltar ao trabalho na semana que vem, mas no Rio de Janeiro. O trabalho será feito apenas com os 13 pugilistas que vão disputar em maio o Pré-Olímpico na Argentina.


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