Em 365 dias acontecerá a final do boxe feminino até 60 kg dos Jogos Olímpicos de Tóquio. O maior nome da categoria é Beatriz Ferreira. Atual campeã dos Jogos Pan-Americanos, Mundial e número um do mundo, a brasileira pode se tornar a primeira atleta do país a conquistar o ouro olímpico.
É verdade que até o momento nem a brasileira nem nenhum outro boxeador está confirmado na Olimpíada. Os caminhos para o Japão passam pelos pré-olímpicos, que foram adiados por conta da pandemia da Covid-19 e ainda não se sabe quando serão realizados. Mas é difícil imaginar que a Beatriz Ferreira, com o cartel que tem, não consiga uma das vagas.
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Para tentar entender como ela provavelmente chegará para a primeira Olimpíada da carreira, a reportagem do Olimpíada Todo Dia conversou com Mateus Alves, técnico da seleção brasileira de boxe que está com a atleta desde 2017 na equipe nacional.
A evolução
Ela começou cedo nos ringues. Filha de Raimundo Ferreira, o Sergipe, a atleta decidiu pelos caminhos do boxe ainda quando criança. Treinando em família, Bia foi tomando gosto pelo esporte e conseguiu chegar na seleção brasileira após a Rio-2016.
“A Beatriz Ferreira virou titular da seleção brasileira em 2017. Apesar do pouco tempo ela tem todos esses resultados, conseguiu os títulos continentais, conquistou o mundial e virou número um do mundo. Todo mundo fala da evolução dela nos ringues, mas o que mais impressiona é a evolução mental. Nesse período, ela entendeu o que podia, ganhou uma confiança e hoje é o que é”, comentou Mateus Alves.
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A trajetória de Beatriz Ferreira na seleção brasileira de boxe é assustadora, no bom sentido. Desde o começo de 2017, foi ao pódio em 28 de 29 torneios em disputou. Apesar de só não ter ficado entre as melhores em uma competição, lembra sempre do porque não conquistou a medalha no Mundial de 2018.
“A pior coisa que tem é decepção. Naquele momento (da derrota no Mundial), eu me decepcionei comigo mesma. Mas penso que tudo de ruim que já aconteceu na minha vida é para que eu tire uma lição e para que eu amadureça. Aquele momento ruim serviu para que percebesse que é preciso ter confiança, ter experiência, mas nunca deixar transbordar, nunca pensar que é a melhor de todas”, comentou Beatriz Ferreira em entrevista para o OTD antes do Mundial de 2019, o que ela ganhou.
O mundo todo de olho
Ela virou referência. Com esse retrospecto no ciclo olímpico, Bia acabou virando a atleta a ser vencida dentro da categoria. Para Mateus Alves, isso não muda muita coisa na preparação da atleta do Brasil para os Jogos Olímpicos de Tóquio.
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Aproveitando o adiamento
“Ela vivia um ótimo momento, mas o adiamento dos Jogos pode ser visto de uma outra maneira também. É claro que todas as meninas da categoria vão olhar para a Beatriz Ferreira, ela lidera o ranking e é a atual campeã do mundo. Mas a Olimpíada em 2021 nos deu mais tempo para preparar ela para a estreia nos Jogos. Apurar algumas coisas do estilo de luta dela, que sempre vai ter coisa para melhorar, melhorar o físico e outros detalhes”.
Além do lado técnico do esporte, com um ano a mais, Beatriz Ferreira, Mateus Alves e todos da seleção brasileira de boxe ganharam mais tempo para analisar as adversárias que podem estar em Tóquio. No caso de Bia, o treinador vê um grupo de atletas podem brigar pelo pódio na categoria até 60 kg.
“A Bia briga pelo ouro. Os resultados dela no ciclo nos provam isso. Na categoria dela existem cinco atletas que eu vejo como possíveis candidatas ao pódio e consequentemente ao ouro. Desse grupo, a Beatriz não lutou com uma delas, que foi campeã mundial juvenil e estamos com uma atenção com ela. Das outras quatro, a única que a Bia não venceu foi uma finlandesa, pois quando elas se enfrentaram o momento da brasileira era outro. Hoje, se elas se enfrentarem, acredito que a Bia tem totais condições de vitória. Claro que qualquer medalha olímpica é uma grande conquista, mas Beatriz Ferreira vai querendo e podendo ser ouro”.
Tudo para fazer história
A trajetória da boxeadora brasileira e as palavras do técnico do Brasil mostram que a história pode ser escrita em Tóquio. Até o momento, quando falamos em boxe feminino, o país nunca conquistou uma medalha de ouro. Quem chegou mais perto disso foi Adriana Araújo, com o bronze em Londres-2012.
Beatriz Ferreira, que fez parte do programa vivência na Rio-2016 e foi sparring de Adriana Araújo. Com isso, o atual ciclo olímpico é o primeiro da carreira da atleta.
Questionado sobre até onde Beatriz Ferreira pode chegar na modalidade, Mateus Alves é extremamente direto. “Ela tem tudo para ser um dos maiores nomes que o boxe feminino olímpico já teve na história. Não só pelo que ela conquistou até agora, mas porque ela está no primeiro ciclo olímpico. Nenhum atleta do boxe brasileiro deu resultado expressivo, mundialmente falando, como ela. Para mim, ela não só pode chegar no ouro em Tóquio, mas pode seguir conquistando até Paris”, finalizou.
Pré-olímpicos
A primeira oportunidade de se classificar para a Olimpíada é através dos torneios continentais. No caso das Américas, a competição dará três ou quatro vagas por categoria. Não se sabe quando e onde serão os torneios, mas a ideia dos organizadores é tentar manter os países em que eles estavam originalmente programados.
A segunda chance é através do pré-olímpico mundial, originalmente programados para acontecer em maio de 2020, mas também ainda sem data oficial anunciada.