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Aos olhos do pai: de onde vem amor pelo boxe de Bia Ferreira

A campeã mundial Beatriz Ferreira tem em seu pai não apenas a inspiração como também a origem do amor pelo boxe

Beatriz Ferreira e Raimundo Ferreira
Pai sempre ajudando na lição de casa (arquivo pessoal)

“Antigamente ela me via subir no ringue pra luta. Hoje é a minha vez de vê-la subindo nos ringues do mundo”. Essa é a definição dada para Beatriz Ferreira, campeã mundial de boxe em 2019, pelo próprio pai, e um dos técnicos da atleta, Raimundo Ferreira, ou Sergipe como prefere ser chamado.

Pai de uma campeã mundial no esporte que escolheu para ser sua profissão, Sergipe passou o seu amor pelo boxe para filha. Raimundo foi boxeador profissional, em uma época em que Bia passou parte da infância assistindo aos treinos do pai em Salvador (BA). De tanto acompanhar, logo ela passou a participar da modalidade diretamente.

“A primeira vez em que a Bia colocou a luva devia ter uns 4 anos de idade. Ela me acompanhava nos treinos de fim de semana na garagem de casa em Salvador. Junto com todos os meninos que iam treinar em casa, ela ficava no meio e foi aprendendo”.

 
 
 
 
 
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Aquela foto histórica, de quando eu era apenas a fã número 1 do melhor lutador. Você é sinistro, pai. E a mãe sempre acompanhando!🥊❤️

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Depois de algum tempo treinando no meio dos meninos na garagem de casa, Bia foi pegando o jeito da coisa. Conseguindo já posicionar os braços e tendo aprendido alguns golpes, era hora de mais. Com a ajuda de um amigo que fazia luvas de boxe, Sergipe encomendou um par para a filha, um pouco menor que o usual. Com as novas parceiras de treinamentos, Beatriz melhorou ainda mais. “Ela passou a treinar mais e melhor, pegou amor pelo esporte, mesmo treinando sempre entre os meninos”. comentou o pai da atleta.

Maternidade e ringue

Sergipe respira boxe. É daquelas pessoas que, se puder, vive o esporte 24h por dia, sete dias por semana, mas a maior prova disso aconteceu em 2002. Bia é a filha mais velha de Raimundo Ferreira, mas o pai da campeã mundial tem mais duas herdeiras, Samira Radija, de 17 anos, e Maria Antônia, de sete.

No dia do nascimento de sua segunda filha, Sergipe tinha uma luta. No meio da correria do dia, o ex-boxeador conseguiu assistir ao nascimento de Samira e correu para o ringue. Mas não sem antes passar em casa, trocar a roupa de Bia e levá-la junto para o confronto.

“Ele passou em casa, colocou uma camiseta do Brasil, que minha mãe não gostava, mas combinava com o uniforme dele e fomos pra luta. Só consegui ver minha irmã depois, na volta para casa”, comentou Bia Ferreira.

Beatriz Ferreira e Sergipe, seu pai
Pai e filha após o término da luta no dia do nascimento da filha Samira (Arquivo Pessoal)

A melhor entre as mulheres

Por ser mulher, Bia teve alguns problemas durante a sua formação no boxe. Primeiro, por não ter outras meninas treinando a modalidade, a única alternativa para a atleta seguir foi treinar entre os homens. Depois, por ter poucas opções de campeonatos na região em que morava, conseguir lutar era raro, mas mesmo com poucas oportunidades, ela apareceu.

“Eu sabia que a Beatriz iria se destacar. Conseguiu destaque em umas lutas pequenas aqui em Juiz de Fora (MG) e chamou a atenção da Confederação Brasileira. Lá eles conseguiram lapidá-la, com mais quantidade de treinos em alto rendimento, mais estrutura e por ter mais mulheres para desenvolver melhor o boxe da Bia”.

Ao passar a defender o Brasil nas competições internacionais, Beatriz Ferreira cresceu. Depois de alguns anos aguardando seu momento de ser protagonista, Bia assumiu a titularidade de sua categoria no início de 2017. Após voltar de uma suspensão, a boxeadora passou a representar o país e, até o momento, tem correspondido as expectativas. Das 28 competições que participou, a brasileira voltou com medalha em 27.

“Hoje a Bia é um orgulho. Está na seleção brasileira, conseguiu todos os patrocinadores, tem que aproveitar tudo. A carreira no esporte é curta, eu falo pra ela, e não pode deixar escapar nenhum dia”.

 
 
 
 
 
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Aquele TBT especial, com o meu maior treinador da vida. Saudades pai! 🥊❤

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Nervosismo na hora da luta

Ao olhar para traz, Sergipe não esconde a emoção. Ao ver sua filha nos ringues e alcançando o que sempre teve como objetivo, o pai de Beatriz Ferreira se recorda das dificuldades, da luta (não só dentro do ringue), mas não consegue colocar palavras no que sente quando vê sua filha subindo as escadas antes de um combate se iniciar.

“Não tem explicação. Prefiro mil vezes lutar do que ver ela lutando. É complicado você ver a sua filha e não conseguir ajudar muito, é difícil. O coração vai a mil, o nervoso vem, mas graças a Deus ela vem conseguindo os resultados e as conquistas. Falta uma, mas vem em 2021 lá de Tóquio.”

Para Bia Ferreira não é diferente. Ela se lembra dos treinos na garagem de casa, passando pelas academias em Salvador e Juiz de Fora, a chegada à seleção brasileira e o atual momento, o melhor da sua carreira. Para ela, tudo tem um motivo. “Meu pai. Tudo começou com ele. Primeiro, sendo meu técnico, me apoiando junto com minha mãe, me passando esse amor, essa vontade de estar no ringue. Tudo que conquistei e o que aprendi no boxe começou com ele”.

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