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Boxe

Técnico vê Mundial como satisfatório e foca emocional da seleção

Técnico Mateus Alves considera satisfatório desempenho no Mundial e diz que garotos precisam de rodagem

Alexandre Loureiro/COB/arquivo

A seleção brasileira saiu do Mundial masculino de boxe com uma medalha de bronze, resultado considerado “satisfatório” pelo técnico Mateus Alves. Para avançar nos Jogos de Tóquio 2020 e chegar na ponta dos cascos em Paris 2024, ele afirma que a seleção precisa de rodagem. “A questão é saber render o máximo possível na hora importante dos eventos grandes”, disse em entrevista exclusiva para o Olimpíada Todo Dia concedida diretamente da Rússia.

Ele avaliou como satisfatório o desempenho da seleção masculina “principalmente pelo fato de dos sete atletas, seis serem estreantes em campeonatos mundiais e todos com a faixa etária abaixo dos 22 anos”, disse. “Nós precisamos ainda dar mais rodagem para esse grupo. É um grupo muito talentoso, mas ainda precisa de mais eventos dessa magnitude. O atleta tem uma maturação psicológica em que ele tem de passar por diversas etapas de eventos importantes, como Jogos Pan-Americanos, Mundial, Olimpíada para que ele estruture a questão emocional e psicológica e consiga render fisicamente e tecnicamente o que deve para um evento desses”.

Mateus Alves explica melhor o que quer dizer. “Nós temos atletas que ganham de adversários top 10 em eventos pequenos, que não tem pressão para resultado. Tem atletas, e isso é de forma geral, não apenas no boxe, que têm dificuldades de questão psicológica, de confiança, saber equilibrar o emocional em eventos importantes, onde ele tem de dar resultado porque foi investido dinheiro nele”, explica.

Seleção Masculina de boxe no mundial da Rússia

Seleção no Mundial da Rússia (Reprodução/Instagram)

Dentro desse caminho, o técnico vê um futuro promissor para a jovem seleção brasileira. “É uma perspectiva excelente. A gente tem atletas que vão chegar em Paris com 26, 27 anos, que é o auge desses atletas olímpicos”.

O fato de ele enxergar em 2024 o melhor momento do grupo que tem em mãos não alivia a meta a curto prazo, para Tóquio, no ano que vem. “A gente vai com uma meta de conquistar duas medalhas em Tóquio. Uma no masculino e uma no feminino. É uma meta agressiva para um grupo em renovação, mas com todas as análises que a gente vem tendo dos adversários nas categorias e do nível do nosso grupo, a gente tem confiança”, afirma.

Entre as mulheres, Mateus Alves coloca Beatriz Ferreira como o grande nome – “está um pouco à frente” – mas entre os homens vê mais equilíbrio e destaca quatro nomes.

Hebert Conceição (75kg), dono do bronze no Mundial, é um deles. Ele já havia sido prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em agosto. “É bem significativo e coloca ele com chances para Tóquio”, diz. Outro nome é Keno Machado, de apenas 19 anos, medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e atual campeão olímpico juvenil e dos Jogos Sul-Americanos. “Aqui (no Mundial da Rússia) ele perdeu na segunda luta para um atleta que está na final e foi um cara que lutou muito bem”, diz, citando o cazaque Bekzad Nurdauletov, que viria a se sagrar campeão batendo inclusive o favorito Julio de La Cruz, de Cuba, na semifinal.

Os outros dois atletas que o técnico da seleção destacou foram Wanderson Oliveira (63kg) e Abner Teixeira (91kg). Wanderson sai da Rússia com o segundo melhor resultado entre os brasileiros. Parou nas quartas de final, a uma vitória de um pódio. “O Abner não foi muito bem aqui, mas vem tendo resultados expressivos em torneios preparatórios na Europa”, avalia.

Apesar de satisfeito com o desempenho de seus pupilos, mantém a cobrança em alta. “Os atletas da equipe olímpica de boxe têm todo o suporte, viajam o ano inteiro, têm base de treinamento internacional, têm toda a estrutura para treinar”, avalia, destacando que os atletas têm um equipe de preparação completa. Além dele, há médico, psicólogo, nutricionista, dois fisioterapeutas, três assistentes técnicos e preparador físico.

Keno Machado nas Olimpíadas da Juventude

Keno Machado foi campeão olímpico da juventude em 2018 (Divulgação)

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Boxe limpo x Boxe força

Mateus Alves também aponta onde estão os maiores rivais. “Hoje nós temos cinco países que estão um passo à frente de todos os outros. São Cuba, que é o boxe técnico, o boxe limpo; Grã-Bretanha, que é um boxe tradicional, não deixa de ser limpo, mas eles são muito fortes, muito bons fisicamente e bons tecnicamente; Cazaquistão, Uzbequistão e Rússia. Esses cinco países são predominantes no boxe mundial nos últimos 20 anos”.

O que ele chama de boxe limpo é o boxe mais pautado pela técnica do que pela força, algo que na visão dele perdeu espaço no Mundial da Rússia. “Ficou bem claro que o boxe de força teve predominância nesse Campeonato Mundial. Até mostrado pelo fato de Cuba ter feito duas finais em oito categorias e o Uzbequistão, que é um boxe um pouco mais de força, fazendo quatro finais. A Rússia três finais. Demonstrando que o aspecto de intensidade de luta e de força está muito mais vencedor neste campeonato do que o boxe mais técnico, mais ‘limpo'”, diz.

Mateus Alves voltaria com a seleção masculina para o Brasil. Mas talvez nem precise desfazer as malas, já que volta para a Rússia para o Mundial de boxe feminino, que será de 30 de setembro e 14 de outubro. As atletas da seleção serão Graziele Jesus (51kg), Jucielen Romeu (57kg), Beatriz Ferreira e Gleisiele Gomes (60kg), Beatriz Gomes (69kg) e Flávia Figueiredo (75kg).

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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