A seleção brasileira saiu do Mundial masculino de boxe com uma medalha de bronze, resultado considerado “satisfatório” pelo técnico Mateus Alves. Para avançar nos Jogos de Tóquio 2020 e chegar na ponta dos cascos em Paris 2024, ele afirma que a seleção precisa de rodagem. “A questão é saber render o máximo possível na hora importante dos eventos grandes”, disse em entrevista exclusiva para o Olimpíada Todo Dia concedida diretamente da Rússia.
Ele avaliou como satisfatório o desempenho da seleção masculina “principalmente pelo fato de dos sete atletas, seis serem estreantes em campeonatos mundiais e todos com a faixa etária abaixo dos 22 anos”, disse. “Nós precisamos ainda dar mais rodagem para esse grupo. É um grupo muito talentoso, mas ainda precisa de mais eventos dessa magnitude. O atleta tem uma maturação psicológica em que ele tem de passar por diversas etapas de eventos importantes, como Jogos Pan-Americanos, Mundial, Olimpíada para que ele estruture a questão emocional e psicológica e consiga render fisicamente e tecnicamente o que deve para um evento desses”.
Mateus Alves explica melhor o que quer dizer. “Nós temos atletas que ganham de adversários top 10 em eventos pequenos, que não tem pressão para resultado. Tem atletas, e isso é de forma geral, não apenas no boxe, que têm dificuldades de questão psicológica, de confiança, saber equilibrar o emocional em eventos importantes, onde ele tem de dar resultado porque foi investido dinheiro nele”, explica.
Dentro desse caminho, o técnico vê um futuro promissor para a jovem seleção brasileira. “É uma perspectiva excelente. A gente tem atletas que vão chegar em Paris com 26, 27 anos, que é o auge desses atletas olímpicos”.
O fato de ele enxergar em 2024 o melhor momento do grupo que tem em mãos não alivia a meta a curto prazo, para Tóquio, no ano que vem. “A gente vai com uma meta de conquistar duas medalhas em Tóquio. Uma no masculino e uma no feminino. É uma meta agressiva para um grupo em renovação, mas com todas as análises que a gente vem tendo dos adversários nas categorias e do nível do nosso grupo, a gente tem confiança”, afirma.
Entre as mulheres, Mateus Alves coloca Beatriz Ferreira como o grande nome – “está um pouco à frente” – mas entre os homens vê mais equilíbrio e destaca quatro nomes.
Hebert Conceição (75kg), dono do bronze no Mundial, é um deles. Ele já havia sido prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em agosto. “É bem significativo e coloca ele com chances para Tóquio”, diz. Outro nome é Keno Machado, de apenas 19 anos, medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos e atual campeão olímpico juvenil e dos Jogos Sul-Americanos. “Aqui (no Mundial da Rússia) ele perdeu na segunda luta para um atleta que está na final e foi um cara que lutou muito bem”, diz, citando o cazaque Bekzad Nurdauletov, que viria a se sagrar campeão batendo inclusive o favorito Julio de La Cruz, de Cuba, na semifinal.
Os outros dois atletas que o técnico da seleção destacou foram Wanderson Oliveira (63kg) e Abner Teixeira (91kg). Wanderson sai da Rússia com o segundo melhor resultado entre os brasileiros. Parou nas quartas de final, a uma vitória de um pódio. “O Abner não foi muito bem aqui, mas vem tendo resultados expressivos em torneios preparatórios na Europa”, avalia.
Apesar de satisfeito com o desempenho de seus pupilos, mantém a cobrança em alta. “Os atletas da equipe olímpica de boxe têm todo o suporte, viajam o ano inteiro, têm base de treinamento internacional, têm toda a estrutura para treinar”, avalia, destacando que os atletas têm um equipe de preparação completa. Além dele, há médico, psicólogo, nutricionista, dois fisioterapeutas, três assistentes técnicos e preparador físico.
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Boxe limpo x Boxe força
Mateus Alves também aponta onde estão os maiores rivais. “Hoje nós temos cinco países que estão um passo à frente de todos os outros. São Cuba, que é o boxe técnico, o boxe limpo; Grã-Bretanha, que é um boxe tradicional, não deixa de ser limpo, mas eles são muito fortes, muito bons fisicamente e bons tecnicamente; Cazaquistão, Uzbequistão e Rússia. Esses cinco países são predominantes no boxe mundial nos últimos 20 anos”.
O que ele chama de boxe limpo é o boxe mais pautado pela técnica do que pela força, algo que na visão dele perdeu espaço no Mundial da Rússia. “Ficou bem claro que o boxe de força teve predominância nesse Campeonato Mundial. Até mostrado pelo fato de Cuba ter feito duas finais em oito categorias e o Uzbequistão, que é um boxe um pouco mais de força, fazendo quatro finais. A Rússia três finais. Demonstrando que o aspecto de intensidade de luta e de força está muito mais vencedor neste campeonato do que o boxe mais técnico, mais ‘limpo'”, diz.
Mateus Alves voltaria com a seleção masculina para o Brasil. Mas talvez nem precise desfazer as malas, já que volta para a Rússia para o Mundial de boxe feminino, que será de 30 de setembro e 14 de outubro. As atletas da seleção serão Graziele Jesus (51kg), Jucielen Romeu (57kg), Beatriz Ferreira e Gleisiele Gomes (60kg), Beatriz Gomes (69kg) e Flávia Figueiredo (75kg).