A meta do boxe brasileiro para os Jogos Pan-Americanos não é modesta nem tão pouco exagerada. É realista. Mateus Alves, técnico da seleção da modalidade, crava sem vacilar o que ele quer em Lima: um ouro, uma prata e dois bronzes. Não é um número aleatório, vem de muito estudo dos adversários e, claro, de observação minuciosa de seus comandados. O ouro ele não esconde de onde espera que venha: Bia Ferreira.
“A Beatriz Ferreira tem aqui sete adversárias. Ela tem vitória contra todas e apenas uma conseguiu uma vitória contra ela, que foi a americana (Rashida Ellis). Está 1 a 1, porque elas fizeram a final em fevereiro na Bulgária e a Bia venceu. E no pré-pan a americana levou na final também. Com esse histórico a gente está bem confiante que ela possa sair com o primeiro lugar”, falou com exclusividade para o Olimpíada Todo Dia na gelada tarde da quarta (24), em frente à escola naval de Callao, onde estão concentrados.
As adversárias, Mateus também já tem na mira. “Estados Unidos e Canadá são as grandes potências do continente. Tradicionalmente eles já vão há mais de dez anos conquistando medalhas”, diz. “Estamos aqui com um evento de alto nível no boxe, com países tradicionais como Cuba, Estados Unidos, República Dominicana, Colômbia, com suas equipes olímpicas, já com equipes bem rodadas”, complementa.
Para superá-las, Mateus Alves levou Bia Ferreira e companhia para torneios importantes no leste europeu e também fez um campo de treinamento de três semanas na Colômbia visando especificamente os Jogos Pan-americanos. “O boxe do leste europeu é um boxe travado, frontal, e aqui na América a gente encontra um boxe muito mais de mobilidade e de rapidez. Então a gente fez uma adaptação em Bogotá justamente por isso”.
Americana entalada na garganta
Bia Ferreira não se importa com uma eventual pressão para “ter” de ganhar o Pan. Pelo contrário. “Eu fico muito feliz de saber que eu tenho a confiança deles e eu também estou bem positiva, bem preparada e eu confio muito em mim”, fala. Mas nem precisava. Basta reparar em seu olhar para perceber que ela esbanja confiança. Confiança, não soberba. “Todas são bem difíceis”, responde, ao ser questionada qual a adversária que mais preocupa.
Rashida, como não poderia deixar de ser, está entre elas. “Tem a americana, que pode me dar um pouco mais de trabalho”, afirma Bia Ferreira, sem esconder que até agora não engoliu a derrota na final do pré-pan. “Não desceu a derrota que eu tive no pré-pan para ela, então eu quero mostrar que eu sou a melhor”.
E se tudo der certo? “Cara eu vou ficar muito feliz, é a missão cumprida. É a nossa felicidade. O momento que a gente abriu mão de tudo e é a nossa recompensa. Eu acho que vai ser um momento sensacional”.
E a prata?
Mateus Alves não crava textualmente, mas a conversa com ele dá a entender que a prata dos Jogos Pan-Americanos pode vir com o jovem Keno Marley. “O Keno é um atleta de muito talento. Ele tem na categoria grandes adversários, como o Julio da Cruz, que é o atual tetracampeão mundial e campeão olímpico. Ele tem ainda um equatoriano que é medalhista mundial. São os dois mais experientes da chave. A gente tem muita confiança no Keno. É um atleta que tem muito talento”.
Keno, apesar de novo, já tem credenciais. Com apenas 18 anos foi campeão das Olimpíadas da Juventude em outubro do ano passado. “A Olimpíada da Juventude foi uma coisa muito importante para mim. Adquiri muita experiência e de lá para cá eu venho evoluindo muito com o tempo”, afirmou o atleta, ainda em meio à sua timidez.
Timidez somente para dar entrevistas em uma tarde fria de quarta-feira, após um treino intenso. Quando o assunto é luta, a personalidade forte aflora. “Estou bem preparado e sei que posso trazer bons resultados para o meu país. Tivemos bastante base de treinamentos, em campeonatos internacionais e estou confiante”, diz, sem demonstrar estar impressionado com o currículo dos adversários. “É luta, todas vão ser difíceis, mas eu estou bem preparado e independente de quem cair na chave estarei pronto para lutar contra todos os adversários”.