Nos Estados Unidos, as atletas da ginástica artística passam por um longo processo seletivo para chegar nos Jogos Olímpicos. No último fim de semana, aconteceu o US Classic, que é o último evento classificatório para o Campeonato Nacional dos EUA. A multicampeã Simone Biles fez a sua estreia na temporada na competição e, como esperado, levou a medalha de ouro no individual geral, com Shilese Jones e Jordan Chiles completando o pódio. A disputa ainda contou com um ineditismo, reunindo três campeãs olímpicas da prova mais nobre da ginástica artística.
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Simone Biles apresentou uma ginástica de altíssimo nível digna de uma “GOAT” (sigla em inglês para o termo “a melhor de todos os tempos”). Destaque para o salto onde voltou a competir o Yurchenko duplo carpado sem o auxílio do seu treinador Laurent Landi. A trave e as barras assimétricas seguem o padrão do que ela apresentou no ano passado. Já no solo, a ginasta chegou aos 7 pontos de dificuldade, com o retorno do duplo mortal com três piruetas, a acrobacia mais difícil da ginástica artística feminina.
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A única coisa que poderia estar melhor é a parte coreográfica. Simone Biles não é conhecida por ser uma excelente dançarina, mas ela já teve coreografias melhores que cumprem os requisitos exigidos pelo código de pontuação como suas séries dos Jogos Olímpicos do Rio ou a do Mundial de 2019. Ao final, a ginasta dona se sete medalhas olímpicas terminou em primeiro lugar com 59.500.
Encontro de campeãs
O US Classic de 2024 teve a presença das últimas três campeãs olímpicas do individual geral. Sunisa Lee, ouro em Tóquio-2020, tem pegado leve no seu retorno este ano. Ela tem uma doença renal que interfere no seu treinamento, fazendo com que Lee tenha competido poucas vezes nos quatro aparelhos nos últimos anos. Mas ela tem mostrado um ótimo potencial para entrar no time olímpico de Paris-2024 como uma especialista. Atualemente, Sunisa Lee tem a melhor série de trave dos Estados Unidos, ao lado de Simone, e levou o ouro no US Classic com 14.600. Ela não competiu ainda uma série completa nas barras assimétricas neste ano. Medalhista de bronze no aparelho três anos atrás, Lee tem uma série de elementos difíceis e deve tentar homologar um difícil jaeger com pirueta nos Jogos Olímpicos. Mas com os seus problemas físicos, Sunisa ainda não conseguiu fazê-lo em competição.
A parte triste fica pelo desempenho de Gabby Douglas, campeã geral nos Jogos de Londres-2012. Ela havia feito uma pausa na carreira após a Rio-2016 e voltou a competir neste ano. Precisando de um bom individual geral no US Classics para conseguir uma vaga no Campeonato Nacional, Douglas acabou se retirando da competição após uma série desastrosa nas barras assimétricas. Assim, ela está classificada para competir só em três aparelhos no Nacional, estando fora do radar para Paris-2024.
Elas querem Paris
Dos outros nomes que lutam por uma vaga no time dos Jogos Olímpicos de Paris, o nome mais provável é Shilese Jones. Dona de duas medalhas no individual geral nos Mundiais desse ciclo olímpico, ela fez uma boa competição somando 57.650 nos quatro aparelhos. Destaque para a nova composição das barras assimétricas de Jones que conseguiu 15.250 no aparelho. A nota talvez não se repita em competições internacionais, mas a apresentação coloca Shilese Jones como uma das principais candidatas ao pódio no aparelho em Paris, atrás apenas da argelina Kaliya Nemour e da chinesa Qiu Qiyuan que estão em outro patamar.
A campeã olímpica do solo Jade Carey teve um 2023 ruim, ficando de fora do time que foi ao Campeonato Mundial. Mas ela mostrou que está em um bom nível para confirmar sua vaga em Paris. No solo, Carey apresentou uma série nova ao som de “Seven Nation Army” da banda White Stripes. A parte coreográfica não é o forte da ginasta, mas a música combinou com o seu estilo, disfarçando algumas das suas falhas artísticas. Mas com uma boa nota no aparelho, aliado a um Cheng no salto, colocam a ginasta em boa posição para o time olímpico.
Considerando que Sunisa Lee não está em boa forma no solo e no salto, Carey completaria suas notas na equipe. Além disso, ela tem séries medianas na trave e nas barras, mas que podem servir para o time em uma situação de emergência. Suas principais concorrentes são Joscelyn Roberson, que está voltando de uma lesão e competiu mal, e a campeã dos Jogos Pan-Americano Kaliya Lincoln que tem um ótimo solo, mas está em um nível mais baixo nos demais aparelhos.
Briga pela quinta vaga
Com Biles, Jones, Carey e Lee mais próximas da vaga no time olímpico, o quinto nome deve ser de uma ginasta coringa. Uma boa generalista que possa ser usada em todos os aparelhos ou suprir alguma necessidade do time. Quem se destacou no US Classic foi Jordan Chiles, membro do time de Tóquio-2020 e vice-campeã mundial de salto e solo em 2022. Ela foi a terceira colocada no individual geral na competição com 55.450. Suas adversárias diretas – Kayla di Cello, Skye Blakely e Leanne Wong – tiveram quedas na competição.
Quem for mais consistente entre as quatro no Nacional e na Seletiva Olímpica deve ir para o time. Um nome que também estava na briga para essa vaga também era Konnor McClain. Ela fez uma ótima trave para 14.200 pontos levando o bronze na competição. Mas com uma lesão no pé esquerdo no aquecimento do solo, a ginasta se retirou da disputa e é dúvida para as próximas competições.
De olho na concorrência
Os resultados do US Classic confirmam que os Estados Unidos seguem como favoritos para o ouro na disputa por equipes em Paris-2024, com Brasil, China e Itália sendo os principais candidatos para a prata. Na disputa entre Rebeca Andrade e Simone Biles pelo ouro no salto, o fato de Simone Biles voltar a fazer o Yurchenko Duplo Carpado sem o técnico no pódio dificulta a situação da brasileira em busca do bicampeonato olímpico. No individual geral, Simone segue com uma boa vantagem, enquanto Shilese Jones chegou mais perto do potencial máximo de Rebeca.
No momento, diria que a maior chance de ouro de Rebeca seria no solo. Mesmo com Simone Biles aumentando a dificuldade, a norte-americana costuma ter energia sobrando em algumas acrobacias, o que pode acarretar em algumas deduções na sua nota, principalmente quando passa das linhas que marcam os limites do solo. Rebeca Andrade, com um artístico excelente e boas acrobacias, pode chegar perto de Biles no aparelho. No ano passado, na final do Campeonato Mundial, a brasileira ficou apenas 0.133 atrás da estadunidense e poderia levar o ouro caso repetisse a nota da final por equipes.