O mesatenista Cláudio Kano se classificou para três edições dos Jogos Olímpicos, mas só disputou duas: em Seul-1988 e em Barcelona-1992. Às vésperas da Olimpíada de Atlanta-1996, no dia 1º de julho – há 25 anos – Claudio Kano perdeu a vida em um acidente de moto. A morte dele, aos 30 anos, causou grande comoção no esporte: dono de 12 medalhas em Jogos Pan-Americanos e com vitórias importantes no circuito mundial, Kano era o símbolo do tênis de mesa brasileiro. Canhoto, caneteiro e com um arsenal poderoso de saques, a história dele foi contada no livro: “A trajetória de um campeão”, de Silvio Nascimento e no documentário “Brilho Imenso”, dirigido por Denis Kamioka. E ainda registrada na obra: “Atletas Olímpicos Brasileiros”, da professora Kátia Rubio.
Mesatenista carismático
Convivi com o Cláudio Kano na seleção brasileira de tênis de mesa por 8 anos (entre 1988 e 1996) e tive a chance de conhecer algumas facetas dele. Reproduzo aqui um trecho do texto que escrevi para o Jornal Paulista, em 19 de julho de 1996:
“Ele era uma pessoa alegre, divertida, carismática. Apesar de ser o veterano da equipe, estava sempre brincando e contando piadas. Também adorava jogar cartas, um de seus passatempos favoritos em concentrações e campeonatos. Ele atuava ainda como dirigente, pois era fluente em japonês, inglês e espanhol, além de ter muitos amigos no exterior – devido aos quatro anos que viveu na Suécia. É… Cláudio Kano abriu as portas da Europa ao tênis de mesa brasileiro, tendo atuado ao lado do sueco Jan-Ove Waldner, campeão olímpico em Barcelona-1992. Nos últimos anos, no Brasil, plantou uma semente para o desenvolvimento do esporte, isto é: construindo uma academia para formação de atletas com o técnico Maurício Kobayashi. Kano tinha muito a transmitir aos atletas, dada a sua experiência em competições internacionais e a sua técnica apurada.”
Pré-Olímpico de 1992 e treino no Japão para Atlanta-1996
Agradeci muito ao Cláudio Kano no Pré-Olímpico de tênis de mesa para Barcelona-1992, realizado em Cuba no final de 1991. Viajamos (ele, Hugo Hoyama, Monica Doti e eu) sem técnico e foi o Cláudio, único com experiência olímpica do grupo até então, quem me orientou nos jogos. Na época, eu tinha apenas 17 anos e ter o apoio dele fez grande diferença! Já em preparação para Atlanta-1996, Kano foi para o Japão treinar com Chire Koyama (chinesa naturalizada japonesa, campeã mundial em 1987). Retornou ao Brasil 8 quilos mais magro e ainda mais motivado para disputar sua terceira Olimpíada.
Legado de Cláudio Kano
Muitos dizem que o tênis de mesa brasileiro teria crescido ainda mais, caso o Cláudio não tivesse nos deixado tão cedo. Sem dúvida, ele ainda tinha muito a conquistar e seguiria batalhando pelo nosso esporte. Porém, prefiro pensar que nestes 25 anos, o caminho aberto por Cláudio Kano na Europa tenha sido consolidado pelas gerações seguintes. Inclusive pela equipe que estará nos representando em Tóquio-2020, isto é, com Hugo Calderano, Gustavo Tsuboi, Vitor Ishiy e Eric Jouti no masculino e Bruna Takahashi, Jéssica Yamada, Caroline Kumahara e Giulia Takahashi no feminino. À exceção da Giulia, a mais nova do grupo, todos são profissionais com atuação em importantes ligas no exterior. Enfim, acho que o Claudio teria orgulho disso!