Ao assistir à partida entre a ucraniana defensiva Ganna Gaponova (№ 69 do ranking) e Bruna Takahashi (№ 47) no WTT Contender Doha, alguns pontos me vieram à cabeça:
Do ponto de vista do público não familiarizado com o tênis de mesa, é difícil entender os erros no jogo, causados em sua maioria pela variação de efeito – e não de força ou velocidade. A ucraniana defensiva Ganna Gaponova, por exemplo, usa uma borracha lisa de um lado e um pino longo do outro. A borracha lisa é comum, a mais usada pelos mesatenistas; já o pino longo, a grosso modo, inverte o efeito da bola que rebate. Ou seja: se eu mandar um topspin no pino longo, a resposta virá com muito efeito para baixo. O público pode não entender essa variação e até achar o jogo “feio”; a impressão que se tem é que os pontos acontecem mais pelos erros do atacante do que por mérito do defensivo.
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Do ponto de vista do atacante, é muito difícil enfrentar um mesatenista defensivo em torneios se nunca treina com esse estilo. Fazendo uma analogia com o tênis, é como treinar numa quadra de saibro e depois jogar na grama: o tempo de bola muda drasticamente. Mas nas equipes/clubes de tênis de mesa no Japão, na China e na Coreia é comum haver diferentes estilos. Além do treinamento ficar mais rico, todos acabam se acostumando com essa variedade, que deixa de ser uma “surpresa” na hora da competição onde cada detalhe conta.
Um pouco de história
Na final masculina por equipes no Mundial de tênis de mesa de 1995, na China, os donos da casa tinham a missão de parar a Suécia, ou seja: a campeã em 1989, 1991 e 1993. Na decisão vencida pelos chineses, o fator surpresa foi o mesatenista defensivo Ding Song, que fez um ponto crucial sobre Peter Karlsson. Detalhe: Kong Linghui, que seria o campeão individual, não jogou na final por equipes.
Já na final masculina individual do Mundial de 2003 em Paris, o austríaco Werner Schlager bateu o sul-coreano defensivo Joo Sae-hyuk. É claro que o austríaco poderia perder, mas ele estava acostumado com este estilo por treinar com o defensivo Chen Weixing, seu companheiro na seleção austríaca de tênis de mesa.
Do ponto de vista do defensivo: Quando treinei no clube húngaro Statisztika, conheci a “chopper” russa Irina Palina, dona de várias medalhas em Campeonatos Europeus de tênis de mesa. Perguntei-lhe qual era o “segredo” de tanta variação de efeito, e ela respondeu, brincando: “Muito treino e vodka no frio!” A Irina ainda comentou que era desafiador enfrentar nos torneios as suas parceiras de treino, já que elas estavam acostumadas com o seu jogo.
+ Werner Schlager, campeão mundial em 2003
Como melhorar contra o estilo chopper?
Treinar com frequência com um mesatenista defensivo. Caso isso não seja possível, uma sugestão é conversar com o seu técnico e criar situações no treino que sejam parecidas às que ocorrem nos jogos. Observar como outros atletas enfrentam os defensivos também ajuda, mas nada como sentir a variação do efeito na própria raquete. Com isso, você tem boas chances de minimizar o fator “surpresa” nos torneios de tênis de mesa!