Há alguns meses, no webinar carreira pós-esporte promovido pela ITTF (Federação Internacional de tênis de mesa), o campeão mundial de 2003 Werner Schlager fez a seguinte declaração sobre o seu título mais importante: “Foi parecido a um acidente, algo tão intenso que nunca vou me esquecer.”
Contexto: no caminho ao topo do pódio no Campeonato Mundial de 2003, em Paris, Werner Schlager (então número 8 no ranking) eliminou nas quartas-de-final, de virada, o defensor do título Wang Liqin (que seria novamente campeão individual em 2005 e em 2007); na semifinal, também salvou match point diante de Kong Linghui (ouro individual em Sydney-2000). Já na final, superou o defensivo sul-coreano Joo Sae-hyuk por 4-2, em sets muito disputados. Se olharmos a lista de campeões mundiais dos últimos 20 anos (de 2001 a 2019), Schlager é o único não-chinês neste seleto grupo.
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Celebridade na China
Com essa conquista tão impressionante, Schlager foi apontado como o atleta estrangeiro mais conhecido na China em 2004, à frente de expoentes como Michael Schumacher e Tiger Woods. Seu nome, contou o austríaco, garante-lhe contratos de patrocínio até hoje: de uma empresa chinesa (que tem 500 lojas) até a japonesa Butterfly, de materiais e equipamentos de tênis de mesa. Já em Olimpíadas, seu resultado mais expressivo foi o quarto lugar por equipes em Pequim-2008.
Abaixo, mais algumas respostas do campeão mundial no webinar da ITTF ̶ que também contou com as participações de Krisztina Tóth (HUN), Jasna Rather (EUA) e Jamie Perry (AUS).
Campeonato Mundial de 2003, inesquecível
Qual memória do tênis de mesa ainda está presente no seu dia a dia? O título mundial em 2003. Foi parecido a um acidente: algo tão intenso que nunca vou me esquecer. Isso aconteceu comigo na final, depois da minha última bola, quando Joo Sae-hyuk contra-atacou para fora. Foi um sentimento tão intenso… Perdi alguns minutos de memória, e isso é bem interessante, mas de um jeito positivo. Sou muito feliz por ter vivido isso.
Aprendizados no esporte
O que você traz da época de atleta para hoje? Você aprende a perder, a vencer, desenvolve a sua personalidade ao longo da vida. E quando olha para trás, percebe quantas lições aprendeu e como cada jogo perdido, cada rally vencido foi importante. Assim, você constrói a sua própria personalidade de jogo no tênis de mesa. E as viagens também são muito importantes, abrem o seu horizonte a outras culturas; porque o esporte está aqui – graças a Deus – para conectar as pessoas em todo o mundo.
Como compara sua carreira passada com a atual? Quando você é um jovem mesatenista, há toda uma estrutura estabelecida para você. Ou seja, o seu trabalho é focar no seu desempenho, nos treinos, em ter bons resultados. E isso é muito fácil, pois o plano já está feito, são poucas as coisas que você decide sozinho. Mas quando você fica independente, começa a construir uma família, a ter filhos (ele tem 2 pequenos), aí as decisões difíceis começam a aparecer. Há os aspectos sociais, a relação com a sua esposa e os seus filhos; é um jogo completamente diferente.
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A importância de apreciar a jornada
Pensava no futuro, enquanto jogava? Para mim, foi importante que o tênis de mesa não fosse um grande esporte na Áustria. Não havia um entendimento de que pudesse ser um esporte profissional, a minha profissão. Assim, nunca me coloquei objetivos muito grandes, eu apreciava meu progresso passo a passo. Por exemplo, é como você aprende a andar quando criança: não adianta começar a correr. Primeiro tem que se levantar, aprender a ter equilíbrio, colocar uma perna na frente da outra, dar pequenos passos… e é assim que você aprende a vida inteira.