Principal referência do basquete feminino do Brasil na atualidade, Damiris Dantas está de volta à WNBA. A ala-pivô assinou contrato por duas temporadas e volta pela porta da frente à principal liga do mundo. Depois de ter vivido sua melhor temporada em 2020 no Minnesota Lynx, ela se machucou no ano seguinte, tentou voltar em 2022, mas a saúde mental a impediu de jogar, e, em 2023, fora de sua melhor forma, foi dispensada. Mas ela venceu a depressão, voltou com tudo ano passado. Se reencontrou no Fuerza Regia, do México, ajudou a seleção a ganhar a AmeriCup e recuperou completamente seu basquete na Turquia, onde é o principal destaque do Ormanspor, atual vice-líder do campeonato. Veja vídeo da entrevista!
- Quarto dia em Torres acirra definição do título da Taça Brasil
- Jonatas de Jesus domina e vence por nocaute no Open
- Talita e Taiana vencem jogo e faturam Circuito Brasileiro
- Seleção masculina impõe outro sacode na Copa Pan-Americana
- Campeonato Brasileiro de Goalball conhece seus finalistas
+ SIGA O OTD NO YOUTUBE, TWITTER, INSTAGRAM, TIK TOK E FACEBOOK
Em Belém, onde se prepara para estrear nesta quinta-feira diante da Austrália, no Pré-Olímpico de basquete feminino, Damiris Dantas falou com exclusividade ao Olimpíada Todo Dia sobre como foi o processo que a fez sair da depressão, dar a volta por cima e garantir seu retorno à WNBA. “Estou muito feliz com essa volta à WNBA. 2023 foi um ano de muitas decisões na minha vida, momentos difíceis e eu tive que fazer escolhas. Foram boas escolhas porque hoje estou com contrato assinado (de dois anos com o Indiana Fever), com contrato garantido, estou bem fisicamente e mentalmente, que é o mais importante”, conta a jogadora. “O mais legal é que eu recebi muitas mensagens, principalmente de treinadores, comemorando a minha volta e dizendo que a liga sentiu saudades do meu basquete”.
A depressão
Mas não foi fácil dar a volta por cima. Depois de brilhar em 2020 no Minnesota Lynx com média de quase 13 pontos por jogo, Damiris sofreu duas graves lesões em 2021. “Em setembro foi a minha primeira lesão muito séria que eu tive no meu pé. Foi um momento muito difícil. Eu coloquei gesso, a temporada acabou, todas as jogadoras foram embora e eu fiquei em Minnesota no frio. E, nesse período, entre o final de 2021 e o início de 2022, eu tive muitos problemas psicológicos. Eu entrei numa depressão. Eu tive dificuldade de entender o que estava acontencendo na minha vida naquele momento”, conta a jogadora.
Para tentar se recuperar da lesão, Damiris voltou para o Brasil, mas retornar ao basquete estava sendo um processo difícil e doloroso não só fisicamente. “Fiquei um pouco com a minha família, mas eu tinha que voltar porque eu tinha contrato, tinha que tratar, então eu meio que fui forçada a voltar para fazer esse tratamento. E aí eu voltei a jogar em 2022 e todo mundo me falava assim: ‘Nossa, nem parece que você ficou machucada oito meses, sete meses. Você está tão bem!’. Mas eu não me via bem, entendeu? Para eu ir para a quadra, eu chorava, eu não sentia mais vontade de jogar basquete”, relembra.
O processo foi se arrastando até que chegou ao limite no 15º jogo dela em 2022. “Depois de um jogo contra o Washington, dentro da quadra, eu tive uma crise muito complicada. E aí eu fui para o vestiário chorando e, quando eu voltei para Minneapolis, contei para a minha treinadora tudo o que estava acontecendo comigo. E aí ela falou: ‘Você está com depressão. Eu não sou médica, não posso te dar o diagnóstico, mas isso é depressão'”.
Da negação ao tratamento
A primeira reação de Damiris foi negar que aquilo estava acontecendo com ela. “Eu mesmo não queria aceitar porque o maior problema é a aceitação. A gente não quer aceitar que a gente está passando por aquela situação. ‘Eu sou atleta. Sou forte… Já passei por coisas piores’. E ela (a treinadora) falou: ‘Você está com depressão. A partir de hoje você não volta mais para quadra. Você vai voltar para a quadra quando você estiver bem psicologicamente. A gente fala muito pouco de saúde mental. Então é a hora de você se cuidar'”, lembra a brasileira.
A partir de então ela passou a ser cuidada pelo Minnesota Lynx. “Meu time me deu todo o suporte. Eles encontraram, inclusive, profissionais brasileiros para eu me sentir mais acolhida. Aí eu fiquei no tratamento e mesmo assim eu não sentia vontade de jogar. Eu só queria ficar perto da minha família. Aí eu falei para a minha treinadora que eu ia embora para me cuidar e ela concordou”.
No Brasil, perto da família, Damiris continuou o tratamento até que ela conseguiu vencer a depressão e sentir a chama do basquete voltar a acender dentro dela. “Fiquei com minha família e neste período eu não joguei basquete. Eu fiquei quase sete meses sem jogar, não tinha vontade e precisava realmente me cuidar. Então, eu fiz os tratamentos que eu tinha que fazer, com medicamento, muita terapia e um dia eu acordei e falei: vou para a quadra. Foi como se eu tivesse lavando a alma. Eu comecei a arremessar numa quadra externa de um parque e percebi a saudade que estava sentindo do basquete. E aí eu voltei”, lembra a jogadora.
O retorno
Damiris ficou um período em São José dos Campos para se preparar fisicamente e se apresentou novamente ao Minnesota Lynx em 2023. Alguns gatilhos, no entanto, a deixaram preocupada. “Eu ainda não estava bem fisicamente e voltar para Minnesota, onde tudo começou, foi difícil para mim. Inclusive para o mesmo apartamento, para o mesmo edifício. Eu falei: ‘Meu Deus, será que vou ser capaz disso’. E aí foi quando eu fui dispensada”.
Pode-se dizer que a dispensa causou um certo alívio em Damiris. Sem a pressão de jogar na WNBA, ela teve tempo suficiente para se recuperar completamente. “Eu fui para o México e muita gente não entendeu o que estava acontecendo, mas hoje eu entendo que foi a melhor escolha que eu fiz para aquele momento porque eu me reencontrei, eu encontrei um time que me abraçou, que cuidou de mim, onde eu continuei meu tratamento, joguei, fiquei em shape (em forma), fiquei bem fisicamente”.
Brilho na Turquia
Nesse meio tempo, ainda retornando às suas melhores condições físicas, Damiris ajudou o Brasil a conquistar o título da AmeriCup e, pouco depois, acertou com o Ormanspor, da Turquia. Em 22 jogos disputados até agora, a brasileira ultrapassou a marca de 20 pontos em 12 jogos. O recorde dela foram 33 na derrota de 93 a 86 para o Fernerbahce, líder invicto da Liga Turca. Nos três últimos duelos antes do Pré-Olímpico, foram 27 pontos contra o Tarsus, 29 diante do Besikitas e 27 em cima do Antalya. Tudo isso num dos campeonatos mais duros da Europa. Está mais do que claro, portanto, que a ala-pivô deu a volta por cima em grande estilo.
“Estou vivendo um dos melhores momentos da minha carreira. Estou mais madura, bem fisicamente, bem mentalmente e fechei o contrato para voltar para a WNBA e estou feliz. Eu acho que eu passei por todo esse processo. Não é um processo fácil. Saúde mental é uma coisa que se fala muito pouco no nosso meio de atletas. A gente precisa de tratamento, a gente precisa pedir ajuda. Está tudo bem você não estar bem naquele dia e pedir ajuda para seu treinador, para quem seja. Então, eu fui muito bem acolhida. Pessoas me ajudaram, profissionais me ajudaram para eu poder estar aqui hoje neste momento com o Brasil de novo”, comemora Damiris.
Pré-Olímpico
Nesta quinta-feira, Damiris vai concentrar boa parte das esperanças do Brasil de conseguir a vaga olímpica. A jogadora, que é uma das principais líderes do elenco, está confiante de que a seleção brasileira possa conseguir a classificação e conta com o apoio da torcida de Belém, do Pará, para carimbar o passaporte para Paris-2024.
“Eu não tenho dúvidas de que a torcida vai ajudar a gente. Desde o primeiro dia que eu cheguei aqui, estou sentindo essa energia. A gente foi no estádio de futebol e deu para entender como as pessoas amam o esporte aqui. Então, em dúvidas, vai ajudar muito. As expectativas são as melhores. A energia do grupo, a energia da cidade, tudo está muito bom. Estou ansiosa para a estreia, mas muito confiante também”.