O Brasil viveu um momento de baixa gigantesco no basquete feminino. Depois do auge nos anos 90 e começo dos 2000, a seleção brasileira foi deixando aos poucos de figurar entre as melhores equipes do mundo até não classificar para o Mundial e para a Olimpíada. No comando da equipe desde 2019, José Neto é direto ao comentar sobre o que é possível fazer. “O passado nos mostra que é possível, mas precisamos trabalhar muito”.
Desde 1994 todas as conquistas brasileiras em mundiais e Jogos Olímpicos foram do basquete feminino. Da equipe histórica comandada por Hortência, Magic Paula, Janeth. Helen Luz, Alessandra e muito mais, muito se pode se espelhar e buscar, mas, segundo José Neto, o passado ficou para a história.
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“Claro que a geração campeã nos anos 90 e 2000 no basquete feminino motiva, assim como a dos anos 70. Se elas conseguiram, é possível hoje conquistar também. Mas temos que entender que esses feitos estão na história e precisamos buscar os nossos próprios. Sem esquecer do que já aconteceu, mas essa geração precisa saber olhar para frente e trabalhar para conquistar”.
O fator Damiris
“Ela é a melhor atleta de basquete nascida no Brasil atualmente”. Quando perguntado sobre Damiris essa é a primeira frase dita por José Neto. Segundo o treinador, independente do gênero, a ala/pivô do Minnesota Lynx é o grande nome do país no esporte.
“A Damiris para mim é a melhor brasileira jogando basquete no mundo, independente do gênero. Mas o Brasil não pode jogar em função dela. Qualquer time que faz isso no basquete atual, de jogar em função de um atleta, não consegue êxito”.
Em 2019, após a medalha de ouro em Lima, Damiris se apresentou para a seleção brasileira e mudou muito a forma de jogar. Com a ala/pivô da WNBA atuando em diferentes posições e maneiras, o Brasil conseguiu aumentar se nível de jogo e cresceu na Americup e no Pré-Olímpico das Américas.
“Vamos usar o melhor dela em função da equipe com toda a certeza, colocar ela pra jogar na posição 3, 4 e 5, como fizemos nos jogos da Americup e na Argentina, mudar o formato do nosso jogo na seleção e causar problemas pros adversários. Uma jogadora como ela, que faz o que faz em quadra, existem poucas no mundo. Defender ela como 3 é muito difícil, assim como parar a velocidade e os chutes de fora quando ela é está de pivô, de 5”.
As jogadoras estão trabalhando
Se analisarmos o trabalho de José Neto, podemos dizer que existe um “antes e depois”. “Abraçado” por todos do basquete feminino em diversas esferas, o treinador conseguiu resultados de maneira rápida, com o ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima e o terceiro lugar na Americup, mudou a forma como a equipe era vista e criou expectativas de voos mais altos.
“Os resultados são fruto de uma dedicação extrema de todos em prol do objetivo. As jogadoras entenderam o que precisavam fazer. Desde o começo da nossa entrada na seleção elas compraram a ideia e passaram a fazer cada vez mais. Todas buscaram melhorar, aprender, se condicionar, viver como atletas e o Brasil que ganha com isso”.
O reflexo disso aparece nas quadras pelo mundo. Nos campeonatos do Brasil, Espanha, Portugal, Bélgica, Turquia e Estados Unidos tiveram jogadoras da seleção brasileira com destaque na temporada que está se encerrando no primeiro semestre de 2021.
“Mesmo sem competição e sem estar com as meninas eu acompanho a grande maioria. Sei como estão as meninas aqui no Brasil, como a Tainá Paixão, a Patty, a Alana, a Nádia e a Débora Costa, que estão na Espanha, Rapha Monteiro, Aline, Tati Pacheco em Portugal, a Clarissa na Turquia, a Érika na Bélgica, todas eu acompanho. As meninas na NCAA, como a Kamilla Cardoso, a Nicoletti, todas eu sei como estão e o que mais eu tenho gostado é que elas definem os jogos. Quando está acabando a partida, a bola está na mão das brasileiras para ganhar o confronto”.
“O Brasil precisa naturalizar uma jogadora”
José Neto é um técnico que acredita nos processos e no trabalho do dia a dia. Todos os trabalhos de sua carreira são prova disso e a seleção brasileira feminina de basquete não é diferente. Com um projeto a “médio e longo prazo com ações imediatas”, o treinador sabia o tamanho do desafio e se dispôs a observar o que tinha.
“Quando eu assumi a seleção brasileira, uma das coisas que eu ouvi foi que eu teria que naturalizar uma armadora, porque o Brasil não tinha. Sinceramente eu assustei, mas preferi observar o que eu tinha. Hoje, com o trabalho de cada uma das atletas, tenho Alana e Débora Costa muito bem na Espanha, Tainá Paixão na LBF e eu te pergunto, será que precisava naturalizar mesmo?”.
Apesar do bom momento no recorte recente da seleção brasileira e do sucesso de algumas jogadoras ao redor do mundo, José Neto vê a seleção brasileira feminina de basquete com um bom caminho a percorrer, mas agora é possível ver o objetivo mais próximo.
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“O momento melhorou porque todos estão ajudando. As jogadoras da seleção vem evoluindo e isso está trazendo mais meninas, o que aumenta a competitividade e as possibilidades, mas o caminho é longo. Sabemos da história e sabemos que queremos. Só querer não basta e trabalhar duro e bastante todos vão, mas sabemos que podemos conseguir mais no futuro”, finalizou.