São Paulo. São Bernardo. Rio Claro. Joinville. Rio de Janeiro. Japão. Angola. Brasil. José Neto pode ser considerado um “andarilho” do basquete mundial. Apesar de ter passado por tantos lugares, o atual técnico da seleção brasileira feminina e do Atlético Petro, de Luanda, prefere ser visto como um profissional movido a desafios.
Quem vê as últimas três escolhas do técnico pode se assustar. Depois de duas temporadas sem chegar a final do NBB com o Flamengo, José Neto se desligou do clube carioca e aceitou treinar o Levanga Hokkaido, do Japão.
Após um curto período em quadras japonesas, o treinador voltou ao Brasil e foi convidado para assumir a seleção brasileira feminina, que não passava por um bom momento, e mais recentemente aceitou o desafio de treinar o Atlético Petro, de Luanda.
“Eu sou movido ao desafio. Meus objetivos já foram ganhar os títulos, mas hoje eu vejo isso como pouco. Não basta “só” ganhar os títulos. Eles ficam na história e depois? Se a nossa carreira fosse como um carro, eu quero olhar pelo vidro da frente e o que eu posso fazer e conquistar, não pelo retrovisor sabendo o que eu já fiz. Hoje o que me move é o desafio de tentar melhorar as pessoas e os lugares onde eu estou em melhores. Assim é na Angola, assim é na seleção brasileira”.
Onde tudo começou
As andanças e os desafios de José Neto começaram a muito tempo. Mais precisamente em 1992, o então aluno da faculdade de educação física da USP (Universidade de São Paulo) e monitor das turmas de basquete do curso ouviu de um professor que o Paulistano precisava de um estagiário.
“Cheguei em 1992 no clube e passei por todas as categorias de formação e o adulto. Ali a gente meio que desbravou o clube. O Paulistano era muito mais social e participativo do que competitivo, principalmente no adulto”.
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No time da capital paulista, José Neto foi aumentando os desafios com o passar dos anos. Após passar por todas as categorias, o treinador ajudou a estruturar e colocar em prática o time adulto e com ele conseguiu mais desafios. Mesmo com o time novo, o treinador conseguiu levar a equipe até a final do Paulista em uma oportunidade.
Além da decisão estadual, José Neto levou o Paulistano até a disputa do campeonato Brasileiro adulto da época, fato que nunca tinha acontecido com o time. Após 16 anos no clube, o treinador saiu e após boas passagens pelo Palmeiras, São Bernardo e Rio Claro, ganhou notoriedade nacional no sul do país.
A mudança de chave em Joinville
Após uma das melhores temporadas da história do time, José Neto apareceu em Joinville. Depois da equipe ter chegado na semifinal do NBB de 2009/2010, o time do sul do país teve que reformular o projeto. Na época, Neto chegou para substituir Alberto Bial e reconstruir grande parte da equipe.
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Com nomes como Shilton, Maxwell, Audrei, Thiagão, Kojo e companhia, o técnico conseguiu surpreender grandes projetos no NBB 2010/2011, sendo eliminado no quinto jogo das quartas de final contra o Pinheiros. “Em Joinville eu fui para reconstruir a equipe após a saída do Bial. Montamos um time com nomes mais desconhecidos fomos bem, surpreendemos no NBB daquela temporada a grande maioria das pessoas”.
O sucesso de José Neto com a remontagem do projeto de Joinville impressionou. O resultado com uma equipe vista como modesta, fez com que o técnico e os jogadores seguirem suas carreiras em outros lugares.
O topo do Brasil, da América e do mundo no Flamengo
Visto como um dos maiores times de basquete do Brasil, o Flamengo vivia um momento turbulento no começo da década de 2010. Mesmo com um bom investimento, o time viu o maior rival da época, o Brasília, conquistar o NBB em três temporadas seguidas. Além disso, em duas das três temporadas, o time carioca não chegou na decisão.
Para 2011/2012, os cariocas decidiram mudar. Com uma diminuição de aporte financeiro, o Flamengo manteve somente três jogadores de seu elenco e contratou José Neto para o comando técnico. Com o desafio de fazer o time carioca reencontrar o seu caminho, Neto aceitou.
“A minha ida para o Flamengo foi uma oportunidade. Eles tinham reduzido o orçamento para a temporada e a gente tinha que montar um time quase todo novo. Procuramos e formamos um time com atletas que estavam se formando, buscando seu espaço”.
Com Marcelinho Machado, Duda e Caio Torres, como remanescentes, José Neto trouxe para o Flamengo Shilton, Benite, Marquinhos, Olivinha e recolocou o time carioca no topo do país.
Nas três temporadas seguintes, agora mantendo sempre uma base, o time carioca seguiu vencendo a liga nacional e colocou em quadra uma hegemonia. Além das conquistas no Brasil, o Flamengo se colocou como “time a ser batido” no continente, com o título da Liga das Américas e do Intercontinental, em 2014.
O fim e o começo fora do país
Depois de ganhar tudo com o Flamengo, as coisas mudaram um pouco. Nas temporadas de 2016/2017 e 2017/2018 o time carioca conseguiu duas excelentes fases de classificação no NBB mas a equipe não se classificou nem para a final da competição, com o título ficando com Bauru e com Paulistano.
Com isso, apesar de todos os títulos com a equipe, o casamento entre Flamengo e José Neto acabou. “Quando eu cheguei no Flamengo e ganhamos o primeiro NBB, falaram que era o impacto de algo novo. No segundo, falaram que era sorte. No terceiro que poderia ter algo. Aí ganhamos o quarto, a Liga das Américas e o Intercontinental. O que mais me deixa feliz não são os títulos, mas saber que a forma da equipe, a semente da excelência ficou e o time é o que é ainda hoje”.
A saída do time carioca “abriu os horizontes” do treinador. Após um período sem time, José Neto aceitou o inusitado convite para treinar o Levanga Hokkaido, do Japão. Apesar do pequeno período na Ásia, Neto é direto.
“Eu sempre tive vontade de treinar fora do país. Sempre quis e cheguei a recusar alguns convites por conta de situações que eu tinha em cada período. Quando veio o do Japão eu vi que era hora de ir. Apesar do período mais curto eu aprendi muito, em todos os sentidos”.
Mais recentemente, José Neto migrou para um país pouco usual para o basquete. Apesar de ser o maior campeão do AfroBasket, com 11 títulos, Angola não é referência no continente há alguns anos e o treinador explica a escolha.
“Participar de competições de alto nível é sempre uma excelente oportunidade de aprendizado, aprimoramento, execução. Competir faz você melhorar. Assim como é muito importante para as jogadoras estarem em atividade mesmo quando não há competições pela seleção, não é diferente com o treinador”.