Direcionada para o esporte por um médico e tendo Hortência como madrinha. Assim começou a trajetória de Kelly no basquete. Aos 12 anos e com 1,86 m, a atleta foi levada ao médico para uma consulta e saiu de lá para as quadras da modalidade. “Me federaram e eu nunca tinha batido uma bola de basquete”.
“Eu tinha 1,86 m e minha mãe me levou no médico, o doutor Eduardo Gomes de Azevedo, para eu parar de crescer. Mas antes de entrar no consultório, ele me viu e já comentou que eu precisava ir para o esporte. Pegou o telefone dele e ligou para a Hortência”.
Alguns dias depois, Kelly estava na quadra de treinos do Leite Moça/Sorocaba. Chegou e antes mesmo de pegar na bola, Hortência já falou para inscrever a adolescente na federação. E foi assim. Sem nunca ter entrado em uma quadra para treinar ou bater bola, Kelly estava inscrita na primeira competição.
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“Lembro que a primeira vez que eu assisti basquete, a seleção estava jogando o Pan-Americano de 91, em Havana. Eu nunca tinha entrado em uma quadra para jogar basquete e acabei passando a primeira metade da temporada só treinando. Fui jogar mesmo só na segunda metade e as coisas foram acontecendo”, diz Kelly.
Fim e recomeço
O começo da atleta no basquete quase chegou ao fim após um ano. Depois de terminar a primeira temporada no esporte, o time de Kelly chegou ao fim. Depois de um período em casa, sem saber muito para onde iria, a atleta conseguiu um teste.
“Eu estava em casa, sem treinar, e minha mãe me perguntou o que eu faria. Comentei que queria jogar em Campinas, mas que achava que nunca iria atuar lá porque era um time muito bom. Ela só olhou para mim e disse que a filha dela iria sim jogar em Campinas. Consegui um teste e entrei no time”.
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No novo time, mais uma vez a rotina de só treinar apareceu. Segundo Kelly, o time campineiro era muito bom e ela era a 12ª opção do elenco. Com isso, a pivô passou um período só treinando e não conseguindo nenhum minuto nas partidas do time. Com isso, a atleta passou a treinar mais do que as companheiras de equipe e o treinador descobriu.
“Eu treinava com outras meninas de outras categorias e a notícia chegou no meu técnico. Depois eu fiquei sabendo que uma pessoa da comissão falou pra ele me usar em um jogo e ver o que acontecia e ele fez isso. Teve um jogo que uma das pivôs acumulou faltas logo no começo e eu fui para o jogo. Terminei com 35 pontos e não parei mais”.
Entre as melhores do país
Depois daquela partida, Kelly não deixou de jogar mais e fez toda a sua base no basquete em Campinas. Foram cerca de quatro anos na equipe e, mais uma vez, quase que a história acabou.
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Sem acreditar muito que seguiria na equipe, Kelly foi surpreendida pela chegada de uma verdadeira seleção em Campinas. “A Microcamp chegou em Campinas e trouxe aquela seleção para a cidade, com a Magic Paula e tudo seguiu”.
Neste momento, ainda jogando na base, Kelly viu sua vida mudar. A pivô foi chamada para treinar com o adulto e, o que parecia ser uma bronca virou uma chance. “Eu pensei que iria tomar uma bronca dos técnicos, mas treinei bem e acabei ficando. Passei a compor o banco nos jogos e fui convocada para a seleção brasileira”.
A primeira convocação foi em 1997 e o ápice aconteceu na Olimpíada de Sydney, quando o Brasil ficou com a medalha de bronze. Uma das mais novas no time que estava na Austrália, a atleta não tem palavras para falar sobre a conquista. “Minha primeira competição com a seleção foi uma Copa América em São Paulo e nós vencemos os Estados Unidos na decisão. Em 2000, tinham muitas dúvidas sobre o time, porque era a primeira Olimpíada sem Paula e Hortência. Nós treinamos demais, mais ou menos sete meses para chegar naquela Olimpíada e conquistar uma medalha não tem como descrever”.
Brasil na WNBA
Kelly é uma das brasileiras que atuou na WNBA (Liga de basquete feminino americana). A pivô teve uma passagem no Detroit Shock e posteriormente o Seattle Storm. Nos Estados Unidos, a atleta não esquece do que mais a marcou.
“O profissionalismo e a liberdade. Eles deixam o atleta só preocupado em jogar e treinar. Você chega e tem o uniforme, tem o tênis, tem tudo. Quando se viaja, a jogadora fica livre, tendo que se apresentar só no horário combinado para os treinos e jogos. Isso mais me marcou e assustou, mas eu acostumei rápido”.
Atualmente, a melhor jogadora de basquete do país está na WNBA. Damiris é um dos destaques da atual temporada e recentemente quebrou recordes com o Minnesota Lynx. Sobre a atuação da atleta do Brasil nos Estados Unidos, Kelly é direta.
“Tem tudo para ser a maior brasileira que já jogou nos Estados Unidos. Tudo. Ela é extremamente técnica, uma chutadora nata e tem uma força mental muito grande. Não duvido que ela será a maior do país na WNBA logo logo”, finalizou Kelly.