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Basquete

Parceiros contam como é o dia a dia no outro lado do esporte

Esposas e marido de atletas profissionais explicam quais são os desafios e dificuldades que enfrentam

Companheiros mostram os desafios da vida no outro lado do esporte
Esposas e marido comentam os desafios de se relacionar com um atleta profissional (Montagem/arquivo pessoal)

“Vai no cabeleireiro, no esteticista, malha o dia inteiro, vida de artista”, só que não. Os versos da letra da música de Seu Jorge pode, para algumas pessoas, retratar a vida das esposas e dos maridos de atletas profissionais. Contudo, a realidade é um pouco diferente do que o imaginário padrão no outro lado do esporte. 

Para tentar entender essa “vida do outro lado do esporte”, a reportagem do Olimpíada Todo Dia conversou com duas esposas e um marido de atletas de diferentes modalidades. Maria Gabriela Junqueira, Addler Mendes e Mariana Galon falaram sobre os desafios e a rotina que possuem tendo a vida com um atleta profissional. 

Apesar de viverem em mundos completamente diferentes, o trio acabou, de uma forma ou de outra, respondendo da mesma maneira uma das perguntas. “Estar com uma atleta profissional, ser esposa/marido de um é saber que você vai ter 20, 30, 50 profissões para poder ajudar ele em tudo”. 

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A atleta virou esposa de atleta

Um pouco antes da temporada 2019/2020 começar, Mariana Galon estava se preparando para ser uma das levantadoras do Curitiba Vôlei. Entretanto, em uma dos exames de pré-temporada foi constatado um problema no coração da atleta e tudo mudou. 

Mariana Galon e Wilian Gabriel
Casal se “conheceu” nas quadras e vive o outro lado do esporte na França (Arquivo pessoal)

Foi encontrada uma miocardiopatia hipertrófica, que é uma dificuldade no bombeamento do sangue pelo coração, e ela recebeu a notícia que não poderia mais seguir como atleta profissional. “O grau do meu problema impede que eu siga sendo atleta de alto rendimento, mas eu consigo levar uma vida normal, consigo manter uma rotina de exercícios e tudo, mas com baixa intensidade”. 

Com o novo cenário em sua vida, Mariana Galon viu-dr tendo de direcionar para onde iria. Depois de quase 20 anos nas quadras, a primeira alternativa foi seguir dentro do esporte, mas ela não esperava que fosse encontrar o marido tão rápido. “Eu dou risada quando perguntam da gente porque em novembro de 2019 eu estava solteira, em dezembro a gente se conheceu mesmo, fevereiro começamos a namorar de maneira oficial, em junho casamos e em agosto chegamos na França”. 

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Quando a ex-levantadora fala o “a gente”, Mariana está se referindo a Wilian Gabriel, ponteiro que atuou em 2019/2020 em Itapetininga e nesta temporada será atleta do Saint-Nazaire VB Atlantique, da França. 

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Entender o lado dele

O casamento da forma como aconteceu e na velocidade que ocorreu fez com que Mariana Galon acelerasse todo o processo da “nova função”, como a mesma reconhece. “Eu estava acostumada com essa vida, mas estava do outro lado. Hoje eu preciso me ligar muito com algumas coisas que eu era mais desligada. Ele está aqui para jogar e precisa focar 100% nisso. Claro que ele quer dividir as coisas do dia a dia comigo, mas eu deixo ele mais só na vida de atleta que eu sei como é pesada e difícil”.

Mariana Galon Wilian Gabriel
Em cerca de oito meses, Mariana Galon saiu de solteira para casada na França (Arquivo pessoal)

“Hoje eu vivo em função dele, podemos dizer assim. Eu vou para onde ele for e eu preciso fazer com que ele consiga render tudo que pode e dando o suporte necessário para que isso aconteça. Seja ajudando na análise do jogo, ajudando na alimentação, na massagem pós treinos e jogos, eu entendo o que eu preciso fazer”. 

Esposa e advogada

Maria Gabriela conheceu Alexey Borges, armador do Bauru Basket, há cinco anos. Depois de alguns anos sendo amigos, o casal decidiu arriscar e o namoro virou casamento em 2019. Maria, que na época estava na faculdade de direito, tinha amigos e vivia o basquete na cidade de Franca como torcedora. O primeiro fim de temporada pós noivado e casamento assustou.

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“Eu estava terminando a faculdade e não tinha como me planejar direito. A temporada do basquete acaba em maio/junho e eu me formei em dezembro na faculdade. Não tinha como me planejar porque eu precisava esperar para ver aonde ele iria jogar. Lembro que eu viajei para a minha lua de mel com o Alexey sem saber direito aonde eu iria morar na temporada seguinte e eu sempre gostei de me planejar com antecedência”. 

Maria Gabriela e Alexey Borges
Maria Gabriela e Alexey vivem e mostram o outro lado do esporte todos os dias (Arquivo pessoal)

Desde que terminou a faculdade, noivou e casou com Alexey, Maria Gabriela teve alguns desafios pela frente. O casal terminou uma temporada em Franca, esteve na última em Mogi das Cruzes e em 2020/2021 o armador atuará em Bauru. Com isso, Maria teve que se adaptar com constantes mudanças. 

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“Eu decidi seguir com a minha carreira, mas encontrei alguns obstáculos. Primeiro, que para alugar um escritório eu precisaria fazer um contrato de, no mínimo, 12 meses e a temporada e os contratos do Alexey são de 10. A alternativa foi manter o meu escritório em casa e trabalhar de maneira virtual. Segundo, que o meu planejamento é sempre até maio, junho. Eu acho horrível, por uma série de fatores e sempre que chega essa época do ano é uma tensão só”. 

Maria Gabriela e Alexey Borges e o outro lado do esporte
Há pouco mais de 14 meses, Maria Gabriela e Alexey se casaram (Arquivo pessoal)

Fisioterapeuta, nutricionista, psicóloga, esposa….

Quando Maria Gabriela disse para Alexey que aceitaria ele “na saúde e na doença”, a vida logo colocou esta afirmação à prova. Na última temporada, o armador teve uma lesão no joelho, teve que passar por cirurgia e ficou fora das quadras por um tempo. 

Maria Gabriela e Alexey Borges
Após o casamento, Maria Gabriela e Alexey foram moram em Mogi das Cruzes
(Arquivo pessoal)

“Acredito que ser esposa é ser tudo. Estar do lado do Alexey só quando as bolas estão caindo, quando os bons jogos estão acontecendo é fácil. Ele teve um problema no tornozelo em Franca e jogou as finais de um NBB tomando infiltração antes de todos os jogos e falaram que ele estava mal por ser final, que tinha sentido. Na última temporada ele estava no melhor momento da carreira e machucou o joelho. Pouca gente sabe, mas a lesão acabou sendo um pouco mais séria do que se pensava e a recuperação foi feita de uma maneira correta, que garantiu que ele só voltou para a quadra 100%. Mas nesses momentos eu precisei ser forte e estar ali para ele. Nessas horas, a gente (esposa) vira psicóloga, nutricionista, fisioterapeuta, tudo que dá pra ajudar a superar esse momento. É ser 50 profissões em uma pessoa”. 

O marido que quer ajudar

Quando eu conheci a Erika ela já era a atleta que é. Já tinha conquistado grande parte das coisas que conquistou, já tinha disputado Jogos Olímpicos, tudo. Eu não posso e não vou mudar a vida dela, eu vou somar com o que eu posso e ajudar ela, se assim ela quiser. Penso que como marido é isso que eu posso fazer’. 

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A fala acima é de Addler Mendes. Ele é casado com a pivô Erika Souza, da seleção brasileira de basquete, há quatro anos. O casal se conheceu na academia que Addler era dono, no Rio de Janeiro, durante um período de férias com treinos de Erika e desde então não pararam mais de se falar. 

Addler Mendes e Erika Souza
Casal com a medalha de ouro conquistada em Lima 2019 (Arquivo pessoal)

Quando decidiram morar juntos na Espanha, Addler Mendes ficou sem saber muito o que poderia fazer para ajudar Erika. Formado em educação física, em um primeiro momento o marido se colocou a disposição para ajudar na parte de recuperação da esposa, quando era necessário.

Entretanto, um episódio mais recente, na temporada 2018/2019, fez com que Addler conseguisse ter a prova material da importância de sua presença na vida do outro lado do esporte.

“A Erika teve uma lesão no joelho em um treinamento. Ficou um período fora dos treinamentos e jogos e quando voltou estava totalmente fora de ritmo e um pouco acima do peso. As críticas vieram de forma pesada, relacionando a idade e ela desabou. Lembro de conversar um pouco com ela e, com a autorização do clube, fechar um planejamento para que ela só voltasse a jogar no final four da Copa da Rainha. Ela treinou muito, chorava quase todos os dias, mas seguiu. Treinava comigo, com o clube, basicamente só treinava. No Final Four ela foi a MVP, não lembro os números ao certo, mas foi cestinha e foi ovacionada no ginásio por quase oito mil pessoas. Naquele momento eu percebi, que tudo que ela tinha feito, que a gente tina planejado junto, valeu a pena”.

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