Profissional aos 15 anos. Conseguir fazer o que gostava, seguir os passos do pai e ser atleta. Tudo tão rápido e tão cedo. Assim foi com a carreira Vitor Benite, atualmente no San Pablo Burgos, da Espanha. Ele conversou de maneira exclusiva com o Olimpíada Todo Dia e fez um balanço de sua trajetória.
Nascido em Jundiaí, Vitor Benite começou a carreira nas escolinhas de basquete do Flamengo, no período em que morou com a família no Rio de Janeiro. Já adolescente, o ala “pulou” algumas etapas e estreou no profissional ainda com idade de aluno do ensino médio.
“Eu lembro bem dessa época. Comecei muito cedo a jogar no adulto, na época com 15, 16 anos, atuava na A2 do Campeonato Paulista. Desde pequeno eu já me adaptei a jogar com os mais velhos. Foi um período que eu precisei ter muita personalidade porque, atuando ao lado de atletas já consolidados, eu precisava fazer o meu jogo aparecer”.
Na primeira temporada jogando contra a elite do basquete paulista, em 2007/2008, Benite sabia que precisava manter o nível e o estilo de jogo. Mesmo enfrentando jogadores mais experientes, fortes e rápidos, o ala precisava, e conseguia na maioria das vezes, achar os espaços. Assim passou a se destacar partida após partida.
Na mesma temporada uma partida é marcou a carreira de Benite. “Lembro quando atuei pela primeira vez contra Franca. Quando se é jovem você tem aquilo de ‘jogar contra a capital do basquete’. No meu caso ainda mais, pois era contra o time do Hélio Rubens com Helinho, Rogério e todos os ídolos que você pode pensar. Foi muito especial”.
Tempo e times
Depois daquele ano, o atleta foi obrigado a se mudar. Ao fim da temporada de 2007/2008 o time de Rio Claro acabou, e Benite começou a buscar novos desafios. Conforme o tempo e os times foram passando, o ala escolhia novos objetivos e eles serviam de base para as escolhas da carreira.
“Eu fui dando os passos conforme as coisas foram acontecendo. Em Rio Claro o time acabou e eu precisava seguir. Fui para o Pinheiros e joguei o primeiro NBB, depois o Franca e assim foi. Mas eu sempre escolhi os times que se encaixavam nos meus objetivos, sempre me tirando da zona de conforto. As vezes fui criticado, mas todas as vezes eu pensei dessa maneira. Nunca tive medo de arriscar algo novo e consegui com isso uma evolução tanto do meu jogo, como atleta, e também como pessoa”.
Melhor momento no Brasil e maior lesão da carreira
Depois de passar por Rio Claro, Pinheiros, Franca e Limeira, Benite chegou ao Flamengo. Na época, Brasília e o time carioca protagonizavam como as duas maiores forças do basquete nacional e colocavam perante o ala mais um desafio na carreira. Nas três temporadas em que esteve defendendo as cores rubro negras, Benite teve médias de 12,7 pontos em quase 27 minutos por partida, levando em consideração somente as edições do NBB.
Apesar de conquistar o título nacional em todos os anos que defendeu o Flamengo e fazer o clube carioca o segundo brasileiro a conquistar o intercontinental de clubes, a passagem pelo Rio de Janeiro teve outra marca importante na carreira de Benite.
Em sua segunda temporada, o ala disputou somente quatro partidas. Isso aconteceu porque na terceira partida pelo NBB, ele rompeu o ligamento cruzado do joelho esquerdo e ficou fora das quadras durante quase toda a temporada de 2012/2013.
“Tive uma lesão logo no começo e voltei para jogar a final. Fiz um trabalho maravilhoso nesse período, e agradeço toda a equipe médica que esteve comigo para voltar para a decisão. Voltei a jogar em 5 meses e 15 dias. Aprendi muito mentalmente, com essa superação. Aprendi a não colocar um limite e ir buscando sempre um objetivo. Essa lesão me deixou muito mais consciente das coisas que eu posso fazer como atleta e como pessoa”.
Saída para a Europa
Aos 25 anos, tricampeão nacional e campeão intercontinental, Benite decidiu que era o momento de dar um salto na carreira e ir para o continente europeu. Como aconteceu com Marcelinho Huertas, Thiago Splitter e Anderson Varejão, o ala escolheu começar sua experiência na Espanha, mais precisamente no Murcia.
Diferente do que acontece com a maioria dos jogadores de grande parte dos esportes, Benite optou por criar uma relação mais longa com o clube e a cidade em que estava. Mesmo depois de uma primeira temporada mais complicada, pelas diferenças dentro e fora da quadra que enfrentou.
Durante as três temporadas em que esteve em quadra defendendo as cores do Murcia, foi crescendo a cada ano, conseguindo boas marcas pela equipe e fechando seu período no time como o capitão da equipe.
“Meu período no Murcia foi excelente. Diferente do que acontece com a maioria, que opta por ficar uma temporada somente nas equipes, eu fiquei três anos no time e consegui ter uma identificação com a torcida e fiz grandes amigos, que levo até hoje, por lá”.
Desafio na Croácia
Já atuando como um jogador consolidado na Europa, o brasileiro colocou um novo desafio em sua carreira: a Croácia. Para a temporada de 2018/2019, trocou o vermelho e amarelo do Murcia pelo preto e laranja do Cedevita Zagreb. Apesar de toda as metas e objetivos para este novo passo em sua carreira, as coisas não saíram como se esperava.
“A equipe trouxe uma nova metodologia de basquete para aquela temporada. Foram nove novos jogadores, sete deles estrangeiros, e um novo técnico. Somado a isso também existia um desentendimento entre a diretoria e o dono do clube. Com isso, após sete partidas, o mandatário do time mandou parte da diretoria embora e informou que os estrangeiros da equipe também teriam suas questões resolvidas. Por conta disso, seis meses depois eu voltei para a Espanha”.
O retorno para o país na Europa que se tornou sua segunda casa foi feito em circunstâncias diferentes. Pela primeira vez na carreira, Benite teve que trocar de time no meio de uma temporada. Por conta de toda a situação na Croácia, o brasileiro buscou alguns clubes e, depois de negar algumas propostas, disse sim para o San Pablo Burgos.
Temporada consistente
Já há mais de um ano em Burgos, Benite vem fazendo uma temporada consistente até o momento, sendo o oitavo maior cestinha da Liga ACB com 13,5 pontos por jogo.
“A escolha pelo Burgos se deu, primeiramente pela situação. Eles precisavam de um jogador como eu, eu precisava de um clube e disse sim para a proposta. Mas além disso, eles se mostraram um clube preocupado com os próximos anos, então eu assinei sabendo que não seriam apenas seis meses, era algo maior e me motivou ainda mais”.