Além de sacramentar a despedida do Brasil dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, a vitória sobre a Nigéria por 86 a 69, há exatos três anos, na Arena Carioca 1, também marcou um inesperado até logo de Cristiano Felício para a Seleção Brasileira Masculina. Daquela triste segunda-feira até esta quinta (15), data da estreia do time comandado por Aleksandar Petrovic no Torneio Internacional de Lyon, contra a Argentina, foram três anos sem vestir a camiseta verde e amarela em jogos oficiais.
Felício até flertou com um retorno em junho do ano passado, quando a Seleção Brasileira enfrentou a Venezuela, em Caracas, e a Colômbia, em Medellín, pela terceira janela da classificatória para a Copa do Mundo da China. Mas um seguro extra exigido pelo Chicago Bulls impediu que o jogador se apresentasse ao técnico Petrovic e acabou adiando seu retorno.
“Eu já estava no aeroporto para vir para o Brasil, mas por questões com o meu seguro não consegui embarcar. É sempre muito frustrante para um atleta não poder servir à Seleção. Desde a primeira vez que fui convocado tem sido uma honra vestir a camisa do Brasil e poder representar o meu país. São poucas as pessoas que têm esse privilégio,” destacou Cristiano Felício.
Mas isso é coisa do passado e desta vez sua convocação foi por méritos próprios. Ao contrário do que ocorreu nos Jogos do Rio, quando foi chamado pouco mais de uma semana antes da estreia contra a Lituânia para substituir Anderson Varejão, cortado com um problema nas costas, Felício foi um dos 15 convocados por Petrovic para a primeira fase da preparação para a Copa do Mundo da China, realizada em Anápolis de 25 de julho a 8 de agosto.
Os dois amistosos vencidos contra o Uruguai, o primeiro na cidade goiana e o segundo em Belém, até serviram para o jogador matar a saudade da torcida brasileira, mas o confronto desta quinta-feira, diante dos argentinos, finalmente marca o retorno oficial do pivô de 2,10m à Seleção Brasileira.
“Estava com muita saudade. Nesses três anos que fiquei longe estava sempre acompanhando meus companheiros pela televisão e a vontade de estar ali junto com todo mundo, ainda mais nos jogos em casa, sempre me deixou com ainda mais vontade de retornar,” afirmou o camisa 6 do Chicago Bulls.
De 2016 para cá muita coisa mudou na vida de Felício. Não só fisicamente falando, mas principalmente em termos profissionais. De promessa no basquete brasileiro à realidade na NBA, o campeão do NBB e da Copa Intercontinental com o Flamengo em 2014 ganhou experiência e maturidade encarando os principais gigantes da liga americana noite após noite.
“Em 2016 eu era muito moleque, ainda não tinha experiência de ter jogado torneios importantes, não tinha esse conhecimento do que é uma Olimpíada e da grandiosidade que é esse torneio. Essa falta de experiência me deixou muito ansioso e até com receio de fazer certas coisas que acabaram afetando meu desempenho dentro de quadra. Mas acredito que esses três anos em Chicago dividindo a quadra com caras experientes e renomados me deixou bem mais à vontade para poder mostrar meu jogo e deixar toda aquela ansiedade de lado. Acho que tudo isso pode me ajudar na Copa do Mundo,” afirmou Felício.
No entanto, a mudança mais perceptível nesse período longe do Brasil atingiu em cheio a personalidade do pivô da Seleção. Se nos tempos de Flamengo era raro ouvir sua voz durante os treinos e jogos do clube carioca, atualmente Felício é um jogador muito mais participativo.
Se quando chegou à Seleção o jogador contou com a ajuda e os conselhos de caras consagrados como Anderson Varejão, Alex e Marcelinho Huertas, após quatro temporadas atuando no melhor basquete do mundo ele acredita que chegou a hora de retribuir e auxiliar os mais jovens.
“Lembro que há seis, sete anos o pessoal sempre me cobrava que eu tinha que falar mais, me soltar, e acredito que na medida que fui ficando mais velho isso foi acontecendo naturalmente. Hoje acho que sou um cara que tento falar com todo mundo, dar dicas e passar para aqueles que estão chegando agora o que os mais velhos me passaram quando cheguei à Seleção. É importante também estar se comunicando com o pessoal mais experiente, como o Varejão e o Huertas, até porque nesses três anos o basquete FIBA mudou muito de ano para ano e estou tentando pegar o mais rápido possível essas regras. Tem sido bem bacana ver que estou tendo um pouco de voz nesse grupo,” destacou.
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Aos 27 anos, Felício faz parte, ao lado de Rafa Luz, Augusto Lima e Vitor Benite, de uma geração intermediária que se encaixa entre a dos experientes Anderson Varejão, Huertas, Marquinhos, Hettsheimeir, Alex e Leandrinho e a dos jovens Yago, Bruno Caboclo e Didi. Com essa mescla, o pivô do Chicago Bulls acredita que a Seleção tem tudo para ir longe na China.
Principalmente pelas mãos do técnico Aleksandar Petrovic, com quem Felício jamais havia trabalhado. Se o tempo de convívio talvez ainda seja muito curto para uma avaliação mais detalhada, os métodos de trabalho adotados pelo croata já foram aprovados pelo pivô do Chicago.
“Ele é um técnico bem mais solto dos que eu já tinha trabalhado, mas é um cara muito sério e que sabe o que está fazendo dentro de quadra. Implantou um sistema na Seleção que ao meu modo de ver está dando muito certo, ele gosta de jogar em transição e com muitas jogadas que podem funcionar. É um cara que fala com todo mundo, que deixa o ambiente muito leve e acredito que isso possa nos ajudar a produzir ainda mais nos jogos. Ele sempre está falando com algum jogador. Quer saber como estamos e o que achamos dos treinos. Isso está sendo muito bom,” elogiou o jogador, que aponta Grécia, Espanha, EUA e Sérvia como candidatas ao título da Copa do Mundo.
“O Antetokounmpo acabou de ser eleito o MVP da NBA, é um jogador que vem crescendo muito desde que foi draftado pelo Milwaukee e todo mundo sabe da força que ele tem e o jogador que ele é. Tenho a chance de jogar contra ele cinco ou seis vezes todo ano e já sei seu estilo de jogo, como ele gosta de jogar e aonde ele se sente desconfortável, até já conversei com o treinador sobre isso. Por tudo isso acredito que a Grécia seja uma Seleção que pode brigar por coisas grandes nesse Mundial. A Espanha é sempre forte, os Estados Unidos também, mas desta vez não como em anos anteriores, e a Sérvia, que foi vice-campeã olímpica e também vem muito forte. Acho que muitas seleções têm chances, por isso temos que ir para China com o objetivo de cometer o mínimo de erros possíveis para poder vencer cada jogo, pensar em cada fase e deixar tudo em quadra para conseguir a melhor classificação possível,” finalizou.