Melhor brasileiro da história do badminton, Ygor Coelho vai disputar a Liga Dinamarquesa, umas das mais fortes do mundo, e ficará mais próximo de Nadia Lyduch, técnica com quem tem trabalhado desde fevereiro, e terá Michael Kjeldsen (foto) o dirigindo no Hojbjerg, clube que vai defender
Nascido e criado na comunidade da Chacrinha no Rio de Janeiro, Ygor Coelho aprendeu a jogar badminton na Associação Miratus, projeto social criado pelo pai dele, Sebastião Oliveira, com quem treinou até conseguir se classificar para a Olimpíada de 2016. Depois dos Jogos disputados em sua cidade natal, o brasileiro trocou o país pela França, onde ficou por quase dois anos, trabalhando com a seleção do país e defendeu no último semestre o Union Saint Bruno na liga local. Com a evolução obtida neste período, ele chegou a ser Top 30 do ranking mundial, mas, para dar um salto ainda maior, vai se mudar para a Dinamarca, a nação mais tradicional do esporte na Europa, onde vai trabalhar com dois técnicos e defenderá o Hojbjerg na liga do país.
“Estou ansioso para trabalhar com o Ygor Coelho. Ele é um jogador que tem potencial para ser um dos dez melhores do mundo, mas ainda há muitas coisas que ele precisa aprender até chegar neste nível”, acredita Michael Kjeldsen, técnico do Hojbjerg Badminton Club, que revela que a contratação do brasileiro tem a ver com um trabalho a longo prazo feito pelo clube. “O Hojbjerg tem um plano de crescimento feito em 2015 para que até 2020 o clube vença a Liga Dinamarquesa. Na temporada 2017/2018, terminamos em quarto lugar. O Ygor Coelho se encaixa em nossos valores e nossa estratégia sobre o desenvolvimento de atletas de nível top e um clube de nível top. Nós temos certeza que o Ygor vai ter muitos benefícios ao se juntar ao Hojbjerg Badminton Club”, acredita o treinador do clube que não vence a Liga Nacional desde 1987.
Para se ter uma ideia da força do esporte no país, existem nove divisões abaixo da Badmintonligaen, nome oficial do campeonato, que é disputada por dez clubes, que reúnem em seus elencos alguns dos principais jogadores do mundo. Atual número 1 do ranking mundial e medalha de bronze na Olimpíada do Rio de Janeiro, Viktor Axelsen defende o Odense. “A Liga Dinamarquesa só tem jogador entre os top 50 do mundo e com potencial para estar nesse nível. São jogadores muito fortes e futuras promessas. O Campeonato dura nove meses e tem playoffs. A gente roda todo o país todo para jogar. Meu sonho era jogar na Liga e eu vou realizá-lo”, se empolga Ygor Coelho.
A grande vantagem de jogar a Liga Dinarquesa para Ygor Coelho será a possibilidade de se acostumar a jogar contra os melhores do mundo e estar mais próximo de Nadia Lyduch, técnica dinamarquesa que trabalha com o brasileiro desde o começo de fevereiro. “O Michael vai ser o meu treinador na maior parte do tempo porque ele vai estar focado na liga e, nos torneios internacionais, eu vou estar focado com a Nadia, que mora na cidade de Greve, que fica distante cinco horas de trem de Aarhus, que é a cidade do Hojbjerg. Eu acredito que de vez em quando eu vou poder ir encontrar a Nadia para estudar meus jogos e para treinar. Ela já me deu coisas para trabalhar como meu jogo de pernas. Tem uns treinos loucos em que vou ter que aprender a dançar para ter mais mobilidade, ser mais suave em quadra e ter mais ginga. Estou aceitando todos esses desafios. Eu acredito muito nela e, se eu der tudo de mim, eu irei muito longe”, se entusiasma o atleta.
Não será a primeira vez que Ygor Coelho trabalha com a dupla. Em 2014, logo após voltar da disputa dos Jogos Olímpicos da Juventude, o brasileiro se mandou para a Dinamarca, onde conhecey tanto Michael como Nadia. “Eu cheguei de Nanjing num dia e no outro fui para a Dinamarca. Foi uma aventura e foi até engraçado. Eu tinha 2,5 mil euros em dinheiro para viver três meses. Eu morava com um mexicano, que mais viajava do que ficava em casa. Então, eu aprendi a cozinhar com ele e no youtube”, se diverte Ygor Coelho.
Na época, Michael Kjeldsen tinha uma academia internacional em Copenhague, que recebia atletas de vários países. Além de treinar no local, Ygor Coelho foi convidado a defender o Greve, time de Nadia Lyduch, que disputava a divisão de acesso à Badmintonligaen. “Naquela temporada, o Ygor jogou em nossa segunda equipe e ele foi uma parte muito importante do time subindo da segunda divisão. Em 2014, também ganhamos a liga dinamarquesa com nossa equipe principal. Foi uma temporada muito boa”, lembra a treinadora.
A parceria só não continuou na Dinamarca naquela época porque Ygor Coelho foi chamado para fazer parte da Seleção Brasileira. “O Michael achava que eu ainda não tinha nível para ir para uma Olimpíada. Ele achava que eu tinha que ficar treinando dois anos com ele para ser um dos melhores do mundo. Então, eu fiz oitavas de final de um torneio na Finlândia, quartas de final do Brasil Open, ganhei o Portugal Internacional Júnior e o Porto Rico Series. Logo em seguida, fui chamado para a Seleção Brasileira e tive que sair da Dinamarca porque a CBBd não ia me apoiar se eu continuasse fora do país. Eu tive que voltar para o Brasil e ficar dois anos no país”, conta o brasileiro, que na época tinha apenas 17 anos.
No ano seguinte, em 2015, Ygor Coelho retornou para a Dinamarca, mas não trabalhou com Michael Kjeldsen. Foi exatamente quando estreitou as relações com Nadya Lyduch. “Eu voltei para lá nas minhas férias da Seleção. Não queria parar porque estava perto da Olimpíada. Não fui treinar com o Michael porque a academia dele em Copenhague tinha fechado. Então, lembro que fiquei na casa dos pais da Nadia”, se recorda o jogador, que conseguiu ótimos resultados assim que voltou da Europa. Menos de duas semanas depois, ele foi o primeiro brasileiro a ser campeão do Brasil Open, derrotando na final Kevin Cordon, da Guatemala, bicampeão dos Jogos Pan-Americanos. Era o começo da arrancada dada pelo atleta para conseguir a vaga para representar o país na Olimpíada do Rio de Janeiro.
Depois de realizar o sonho olímpico no Rio de Janeiro e crescer muito no ranking após a passagem pela França, Ygor Coelho quer se aprimorar ainda mais. O objetivo continua entrar para o Top 20 do mundo em 2018. Mas a mudança para a Dinamarca só vai acontecer em agosto. O trabalho, no entanto, está em andamento. Na semana que vem, Nadia Lyduch chega ao Brasil para acompanhar de perto o brasileiro. Depois disso, ele vai defender o país nos Jogos Sul-Americanos e seguir para disputar torneios do circuito mundial nos Estados Unidos e no Canadá. O plano segue com um período de treinos na Holanda com a seleção do país e com Jonas, irmão de Nadia, antes dele embarcar para o Mundial, que será disputado de 30 de julho a 5 de agosto, em Nanquim, na China. Tudo isso antes da “Operação Dinamarca” começar para valer!