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Santiago 2023

Ex-paraquedista pousa no Chile atrás do ouro no badminton

Jonathan Matias não foi para Lima há quatro anos para servir o exército. Voltou atrás, deixou o serviço militar e chega em Santiago embalado e sonhando com uma final brasileira

Jonathan Matias badminton Santiago 2023
(Gaspar Nóbrega/COB)

Santiago – “Eu chorei, não vou mentir, não. Tava conversando antes de viajar lembrando que chorei quando os meninos estavam em Lima e eu não estava. Foram sentimentos que eu não sabia que tinha.” Esse é Jonathan Matias, sobre o desvio que teve na carreira como atleta de badminton. Em 2019, o ano dos Jogos Pan-Americanos na capital peruana, ele estava no quartel da Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio. Mas retomou a trajetória esportiva em tempo. Hoje está em Santiago 2023 em plena ascensão na carreira e sonhando em fazer a final com quem o colocou na quadra: Ygor Coelho, atual campeão pan-americano e maior nome da história da modalidade no país.

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“Fiquei um pouco frustrado em 2018 por não ter conseguido me classificar para os Jogos (Olímpicos) da Juventude e meio que desanimei. Pensei: ‘badminton já deu, vou fazer outra coisa da minha vida’.” Influenciado pela família, tentou a sorte como militar. “Meu pai foi paraquedista, meu padrasto, tio. Quis saltar de avião também”, conta. Porém, apenas três meses depois de entrar para o serviço militar, já percebeu o equívoco. “Estava tudo muito legal até o momento que eu me formei. Nesse dia perdeu todo o brilho. Não tinha mais nada para conquistar e eu gosto de desafio.” Assim, Jonathan Matias avisou os superiores que não seguiria no ano seguinte. Até pendurar a farda, saltou quatro vezes.

A volta, porém, não foi simples. “Estava difícil, os outros atletas tinham me passado. De repente, tudo foi se encaixando no momento certo e hoje eu estou aqui. Fico muito alegre, valeu a pena todo o esforço que eu fiz, abri mão de muitas coisas”, conta, pouco antes de treinar nesta quarta-feira (18), no Centro de Entrenamiento Olímpico do Chile.

Ascensão

Dois anos após retomar a carreira, Jonathan Matias começou a colher frutos. Ano passado, foi campeão dos Jogos Sul-Americanos em Assunção, no Paraguai, e neste ano, antes de Santiago 2023, ganhou o primeiro Challenger da carreira, na Nigéria. “É um turbilhão de conquistas. Ganhei os Jogos Sul-Americanos o ano passado, bati na trave num challenger. Esse ano ganhei meu primeiro challenger, joguei mundial, fui bronze no Brasil e joguei super series, que é o torneio mais top que temos. Ainda não joguei o 1000 nem o 750, mas joguei o 500 que já é um dos melhores”.

No Mundial, o sorteio não ajudou e ele enfrentou o então campeão e terceiro do mundo logo na estreia, o tailandês Kunlavut Vitidsarn. “Fiz o que podia, dei o melhor. Fiz um excelente jogo, mas faltam alguns detalhes ainda para poder chegar nesse nível. Ali, qualquer errinho os caras vêm e aproveitam, e falam ‘cabô, agora vai lá descansar’.

Na capital chilena, deve ter um gigante pela frente nas quartas de final, o canadense Brian Yang, atual número um das Américas e vice-campeão em Lima 2019. “Nos primeiros jogos estou tranquilo. Então é fazer o que eu treinei, estou bem preparado para chegar, quem sabe, na medalha de ouro. Em Cáli, bati na trave com o canadense e agora é o momento de ele (Brian) bater na trave e eu ir pra final.”

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Criatura e criador

Se realmente chegar na decisão de Santiago 2023, pode ter pela frente ninguém menos do que o atual campeão dos Jogos Pan-Americanos e o maior nome da história do badminton brasileiro. Mais que isso, o cara que o apresentou para o badminton: Ygor Coelho. “Ele mora do lado da minha casa”, diz Ygor, também nesta quarta (18) um pouco antes de treinar no Centro de Entrenamiento Olímpico do Chile. “São de uma nova geração, a mais forte do Brasil atualmente e é a galera que me viu jogar na Rio 2016, Nanjin 2014 e Tóquio 2020. É ótimo, tipo uma família. Não só ele, o Davi também.”

Ygor Coelho badminton Santiago 2023
Ygor Coelho é o atual campeão dos Jogos Pan-Americanos (Gaspar Nóbrega/COB)

Ygor vai com a missão de defender o histórico título de Lima 2019, quando bateu Brian Yang em uma final espetacular. Desta vez, pode voltar a encontrar o canadense na disputa do ouro, mas, antes teria outra parada duríssima, o guatemalteco Kevin Cordón, na semifinal. Cordón foi quarto colocado nos Jogos Olímpicos de Tóquio e duas vezes campeão Pan-Americano. “Fui pra duas competições antes daqui, na Guatemala e na Bélgica. Ganhei na Guatemala, contra o Kevin na final”, lembra o brasileiro. Além dele, Ygor está de olho no salvadorenho Uriel Canjura. “Tem feito um grande ano e foi finalista do Campeonato Pan-americano”.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, os Olímpicos de Paris, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e de Santiago

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