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Da Chacrinha para o mundo: conheça a promessa do badminton

Nascido na comunidade da Chacrinha, Jonathan alçou o maior vôo da carreira e vai jogar na Liga Dinamarquesa de badminton, no mesmo time de Ygor Coelho. Conheça a história dele

Jonathan Santos - Badminton - Liga Dinamarquesa de badminton
Jonathan Santos vai disputar a Liga Dinamarquesa de badminton (Instagram/@jonathan__matias_)

Era 18h do dia 21 de agosto de 2020 quando a vida de Jonathan Santos mudou para sempre. Nascido e criado na comunidade da Chacrinha, no Rio de Janeiro, o jovem atleta desembarcou na Dinamarca para alçar o maior vôo da carreira – e da vida – até agora. E não, não é no futebol. A partir desta semana, ele vai disputar a Liga Dinamarquesa de badminton, a mesma do amigo e inspiração, Ygor Coelho. Mais do que isso, ele vai realizar um sonho.

Chegar até aqui, no entanto, não foi fácil. Filho de Sílvia, mãe solteira, ele precisou superar uma série de obstáculos, principalmente a falta de recursos financeiros. Mas uma vez que ele descobriu sua verdadeira paixão, nada impediu Jonathan de ir atrás do que ele realmente queria. 

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Paixão “à segunda vista”

Assim como muitas crianças brasileiras, tudo começou com o futebol. Toda vez que ia jogar bola, no entanto, ele voltava com algum machucado. Por isso, sua mãe não o deixou continuar no futebol e foi quando Jonathan conheceu o badminton. 

“Conheci o badminton na Miratus (Centro de Treinamento), quando ainda era de concreto. Ninguém me chamou. Eu vi alguma coisa sendo construída, um monte de gente indo e fui ver o que era. E eu não gostei, porque a raquete era pesada, eu batia ela no chão e o pessoal reclamava, falando que eu não podia bater a raquete. Eu falava que não conseguia e eles continuavam reclamando. Aí falei: ‘quer saber de uma coisa, também não vou participar desse negócio, não’”, contou Jonathan ao Olimpíada Todo Dia. 

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Mas quis o destino que o badminton voltasse à vida dele. Dois anos depois, na inauguração da quadra, um convite especial mudou tudo. Ygor Coelho, também da comunidade da Chacrinha, chamou Jonathan para conhecer a Miratus, fundada por seu pai. E desta vez, foi para valer. 

“O esporte foi importante na vida do meu filho. Ele ele era muito hiperativo, então num primeiro momento, eu coloquei ele nesse esporte para gastar energia mesmo. A princípio foi isso. Mas com o decorrer do tempo ele foi se apaixonando pelo badminton, de chegar ao ponto de não ir a festas comigo e perguntar se poderia ficar treinando. Com toda essa dedicação, com três meses de treino, ele já começou a viajar e disputar campeonatos”, relembrou sua mãe, Sílvia. 

Ygor Coelho - Jonathan Santos - Badminton
Jonathan e Ygor Coelho jogando juntos no começo das carreiras (Instagram/ @jonathan__matias_)

Os primeiros passos

A vida de Jonathan mudou e ele passou a treinar cada vez mais forte. E um episódio em especial ficou marcado na cabeça do jovem atleta.

“Até 2014, eu tinha uma visão de badminton. Queria ser campeão nacional, pan-americano no máximo, mas nunca olhava para o badminton mundialmente. Olhava só para a América, porque achava que era só aquilo. Via alguns jogadores top, mas nunca imaginei me tornar um. Até que eu vi o Ygor disputar a Olimpíada da Juventude. Foi aí que eu decidi que queria jogar também. Mundial, Olimpíada… Queria me tornar profissional”. 

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Nesse mesmo ano, Jonathan não pôde disputar Pan-Americano de badminton, porque não tinha como pagar pela viagem. Mas do ano seguinte em diante, participou de todas as edições. Foi campeão pan-americano em 2018 e em pouco tempo, ele já havia se tornado uma grande promessa do esporte brasileiro. 

“Foi uma coisa que eu não esperava. Em um ano eu já estava disputando torneios nacionais, ganhando medalha pan-americana… Foi tudo muito incrível e acho que me ajudou a querer continuar no badminton e sonhar cada vez mais. O esporte está transformando a minha vida. Cada hora eu me surpreendo com alguma coisa que eu conquisto no badminton e fico mais feliz ainda e motivado para treinar mais, porque quer dizer que eu posso ir muito além”. 

Desilusão e retorno

Apesar da paixão e dos sonhos no badminton, a cabeça de Jonathan ainda estava confusa. “Eu lembro em 2014, 2015, eu estava no quarto conversando com meu padrasto e falei que queria servir (no exército). Ele me disse que não valia a pena, que eu tinha futuro… Mas eu falava que era muito difícil, que as oportunidades aqui são poucas e que eu não sabia se teria cabeça para continuar no badminton”. 

Pois bem. Em janeiro de 2019, quando estava com a seleção no Piauí, decidiu deixar o badminton. “Eu já não me via mais dentro do esporte por muitas coisas que foram me frustrando e falei: ‘chega desse negócio, eu estou perdendo tempo’. Desisti e parei de jogar”. 

Ele voltou para casa e se voluntariou no exército. Entrou para o paraquedismo, onde viveu ótimos momentos. Até que o badminton o chamou de volta novamente.

Jonathan Santos
Jonathan Santos serviu o exército por um ano (Instagram/ @jonathan__matias_)

“Vi o pessoal ir para os Jogos Pan-Americanos de Lima. Eu estava conversando com a minha noiva e falei: ‘puxa, era para eu estar aí’, porque uma vaga era minha, certeza. Fiquei bastante triste porque eu poderia ter ido… Mas perdi a chance total. E aí falei para ela que não tinha concluído ainda meu livro no badminton. Que ainda tenho muita história para fazer e que tinha que voltar. Achei que eu nunca voltaria, mas o mundo me trouxe de volta”. 

Voando alto

O mundo, que o levou de volta ao badminton, também abriu as portas para Jonathan voar. Quando decidiu continuar a carreira esportiva, ele estava sem rumo, mas conseguiu voltar à seleção. E o sonho de disputar uma grande liga voltou com tudo. A seleção, no entanto, só manteria alguns nomes e Jonathan não teria onde treinar. Foi quando Ygor e Gwen Maitre, que cuida da carreira dele, lhe abriram as portas para passar um tempo treinando na Dinamarca. 

Jonathan Santos - Badminton - Dinamarca
Jonathan Santos embarcando rumo ao sonho (Instagram/ @jonathan__matias_)

O plano original era passar 60 dias lá, mas por causa da pandemia, ele acabou ficando 90. Quando estava prestes a voltar ao Brasil, uma ligação mudou tudo para Jonathan Santos. “O Ygor ligou para o treinador para ver como estava a situação e ele me perguntou se eu queria jogar a Liga na próxima temporada. Falei que claro, seria um prazer. Fiquei muito feliz, porque eu não esperava ele falar isso. Agora tenho um motivo a mais para me motivar cada vez mais e cada coisa que eu estou passando aqui é para mostrar que eu consegui”. 

“Eu tenho um orgulho imensurável pelo meu filho. Eu fui mãe solteira, os familiares diziam que ele seria bom para ser bandido… E hoje eu vejo que Deus honrou a vida do meu filho. É um orgulho ver que meu passarinho voou. Fico com o coração apertado toda vez que levo ele no aeroporto, mas agradeço por mais uma viagem, por ele estar conquistando mais alguma coisa. O meu filho já tem dois passaportes cheios de carimbos e eu nem tive a oportunidade de andar de avião. Ele só chegou onde chegou com muita garra e muita disposição de mudar o destino dele”, disse a mãe emocionada. 

Da Chacrinha para o mundo

Chacrinha - Ygor
Jonathan Santos e a família na casa na Chacrina (Arquivo pessoal)

Hoje, morando na Dinamarca, Jonathan Santos olha para o passado com orgulho e para o futuro com esperança. Ele passou se inspirado a inspiração. E entende que o que o define não é o lugar onde nasceu ou as condições financeiras que tem, mas sim sua força de vontade. 

“Todo mundo que muda o curso da história se torna inspiração. E quando você vem de uma comunidade, a inspiração se torna ainda maior. Acho que meu filho é inspiração, sim, como o Ygor Coelho foi. Essa juventude vai olhar para eles e se perguntar: ‘eles conseguiram. Por que eu não vou conseguir?’ E meu filho é um campeão. Um campeão dentro de casa, um campeão de história de vida, de garra. Que ele alcance o céu, que ele voe muito alto, porque a mãe dele vai estar aqui, batendo palma e vibrando”. 

“Eu era muito reclamão, porque achava que nunca tinha as condições para ser um bom atleta. Mas nunca foram as condições, eu era o problema. Independente do lugar, quem vai definir se vai ser bom ou não é o próprio atleta. Hoje, meu sonho é poder ganhar um Mundial e uma medalha olímpica e só depende de mim. Não posso mais falar que não estou num lugar bom para o badminton. Se eu quero chegar, sou eu que tenho que trabalhar mais do que todo mundo. Independente de onde você é ou está, não significa que não vá conseguir. Pode ser um pouco mais difícil, mas não impossível. Tudo que eu passei, foi para me deixar mais forte e concretizar mais que eu estou no caminho certo. E eu vou fazer valer a pena.

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