Principal nome do badminton, Ygor Coelho fez críticas à confederação no mesmo dia em que estreou com vitória no Canadá Open
Ygor Coelho é o maior nome da história do badminton brasileiro. Em 2017, alcançou a marca de 29 partidas no circuito internacional com 25 vitórias e apenas quatro derrotas. Dois cinco torneios que disputou, fez final em quatro, dois quais ganhou dois (Campeonato Pan-Americano e Challenge do Peru) e foi vice em dois (Copa Internacional do Brasil e Aberto da Polônia). No outro, foi eliminado na semifinal e ganhou a medalha de bronze (Orleans na França). Os resultados o fizeram dar um salto no ranking. Depois de terminar 2016 em 76º., ele subiu 33 posições e agora ocupa o 43º. lugar, o melhor posto ocupado por um atleta do país em todos os tempos. E a tendência é de crescimento. Ele aposta num bom desempenho no Aberto do Canadá, que começou nesta terça-feira, para se aproximar e, quem sabe, entrar no seleto grupo dos 30 melhores do mundo. Apesar de tantos feitos, Ygor não está feliz. Em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia, horas antes de estrear com vitória no torneio canadense contra o americano Sattawat Pongnairat (21/19 e 21/11), ele fez um desabafo sobre a situação do esporte no país.
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“O badminton do Brasil está uma mega confusão. Na verdade, eu também não sei o que está acontecendo direito. Eles (Confederação Brasileira de Badminton) pagam um treinador português para estar na seleção. Mas que seleção que ele comanda? Não existe mais seleção. A seleção está sendo representada por mim no momento sem o apoio da confederação. Eles nem sequer pagaram o meu pan-americano”, explicou Ygor Coelho, que tem contado com o apoio dos seus patrocionadores individuais para bancar os treinos fora do país e as competições que disputa e também do Comitê Olímpico Brasileiro para poder estar presente no Mundial, que será disputado em dezembro, em Glasgow. Uma explicação para a mudança está no fato da Confederação Brasileira ter sofrido uma queda de quase um terço de seu orçamento do ano passado para este por conta de cortes das verbas destinadas à modalidade que vinham da Lei Agnello/Piva.
“Em outros países eu sou considerado uma promessa. Na confederação, eles dão a entender que não estão nem aí. Estão me ajudando para o mundial graças ao COB porque eu consegui ser campeão pan-americano. Senão, não teria ajuda. O COB acredita em mim. Me ajudou também para Nanjing (Jogos da Juventude de 2014) quando não tinha dinheiro”, relembra Ygor Coelho, que resolveu colocar a boca no trombone depois que viu quem eram os outros brasileiros a competir junto com ele no Aberto do Canadá: Samia Lima, Jaqueline Lima e Fabrício Farias, todos atletas da Seleção Brasileira Juvenil, que são de Teresina, local onde a confederação construiu um centro de treinamento.
“Na minha época de juvenil, eu não tive apoio. O dinheiro da seleção era usado para a seleção adulta. Agora, não existe mais seleçao adulta e existe seleção juvenil. Suspeitam que o dinheiro da seleção adulta está sendo usado para eles estarem aqui. Eu queria ouvir do presidente (Francisco Ferraz de Carvalho) porque eles estão aqui para representar a seleção adulta no Canadá”, reclama o jogador, ressaltando que se fosse para ser a seleção principal do Brasil a estar no Aberto do Canadá, outros atletas deveriam estar fazendo parte da equipe como, por exemplo, Lohaynny Vicente, que, junto com Ygor, representou o Brasil na Olimpíada do Rio de Janeiro. “Mas cadê ela? Será que ela está treinando? Como que a gente vai evoluir assim? Ela foi campeã do último nacional, mas não tem ajuda para seguir na carreira. É muito triste a situação do badminton nacional”.
Para se ter uma ideia, a última competição internacional de Lohaynny Vicente foi a Olimpíada do Rio de Janeiro. Depois disso, ela não mais disputou nada fora do país. No começo deste ano, ela passou por uma cirurgia estética que a fez perder os primeiros torneios da temporada, mas a ausência de competições no exterior a fizeram despencar do 66º. lugar, posição que ocupava na época dos Jogos, para a 297ª. colocação. Hoje ela está atrás no ranking mundial das brasileiras Fabiana Silva (160º.), Paloma Silva (229º.), Mariana Freitas (241º.) e Manoela Koepel (295º.), mas está a frente de Samia Lima e Jaqueline Lima, que foram levadas para o Aberto do Canadá, que atualmente ocupam o 305º. lugar. No masculino, Fabrício Farias está atrás no ranking de Ygor Coelho, de Igor Ibrahim (369º.) e de Alisson Vasconcelos (370º.).
Além de reclamar do fato de terem escolhido atletas juvenis para representar o Brasil no Aberto do Canadá, Ygor Coelho vai mais longe, alertando para o fato de todos os jogadores serem do mesmo local, do estado do Piauí. “A seleção juvenil vai jogar o Pan Americano da categoria na semana que vem em outra cidade do Canadá, mas apenas três deles estão aqui e todos do Piauí, sendo que a seleção não é só eles e estão ainda acompanhados da técnica da seleção”. Ele questiona o motivo pelo qual outros atletas da mesma seleção não tiveram a mesma oportunidade.
“Por exemplo, o meu irmão, Donnians Lucas (número 2 do ranking), e o número 1 do país na categoria, Jonathan Matias, querem tentar vaga para os Jogos da Juventude ano que vem em Buenos Aires, mas eles não tem dinheiro para competir fora do país e nem oportunidade. Não é justo três atletas somente, todos do mesmo estado e com a técnica da seleção estarem aqui somando pontos para isso. Não sei nem com que recursos eles estão aqui”, reclamou Ygor Coelho. “Não é só pelo meu irmão ou pelo Jonathan, que também é da minha equipe, tem a mesma idade dos que estão aqui e é número 1 do ranking nacional da categoria. Mas tem também o menino do Paraná, Vinícius Alecrim. A injustiça é com todos que querem tentar os Jogos da Juventude. A Norma é técnica do Piauí e da seleção juvenil também. O presidente também é de lá. Eu tenho orgulho de jogar pelo meu país, mas hoje eu não tenho orgulho do que eles estão fazendo, matando talentos escolhendo atletas do próprio estado deles. Imagina os jovens do Paraná, do Rio e de outros estados desistirem porque só tem recurso para um estado? Eu acho isso muito errado. É sacanagem mesmo! Dá raiva de ver isso e ficar calado”, desabafou mais uma vez.
Apesar de toda a revolta, Ygor Coelho segue em frente no Aberto do Canadá de badminton. Com a vitória na estreia, ele passou para a segunda rodada e enfrenta nesta quarta-feira o húngaro Gergely Krausz por uma vaga nas oitavas-de-final. Dos outros participantes brasileiros, Samia Lima e Jaqueline Silva não passaram do qualifying, enquanto Fabrício Farias caiu na primeira rodada da chave principal diante do escocês Kieran Merrilees por 21/6 e 21/13.