Após bater o recorde mundial do arremesso de peso F53 e ganhar a medalha de prata em uma classe acima, a F54, contra atletas com menos comprometimento físico-motor do que ela, Beth Gomes comemorou a conquista cantando marchinhas de carnaval em homenagem aos pais adotivos Manoel Ferreira e Ruth Amaral, compositores de músicas que ganharam o Brasil na voz de Sílvio Santos.
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Perguntada pela reportagem se teria alguma marchinha para comemorar o momento, Beth Gomes não titubeou e saiu cantando: “Me dá um gelinho aí, eu tô a cem por hora. Se não parar o calor, eu jogo a roupa fora”. Em seguida, lembrou dos pais e cantou mais:
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“Essas são as marchinhas que os papais do coração fizeram. Eu tive o privilégio de ter dois pais e duas mães. Meus pais biológicos faleceram, o João e a Marcelina, e o papai Emanuel e a mamãe Ruth, já amigos da família, nos adotou como filhos para a gente não ficar órfão. Então, se tornou uma família. Acho que hoje eles estão lá no céu, brindando, com muita alegria e pra ficar feliz, né? As duas mamães eram corintianas, né? Então: ‘Doutor, eu não me engano, meu coração é corintiano'”, cantarolou a atleta.
Grande família
A mãe biológica de Beth, Marcelina, faleceu em 1990, três anos antes dela ser diagnosticada com esclerose múltipla. O pai, João, morreu em 2010 e então a atleta foi adotada pelos pais de Rosana, sua médica neurologista, de quem a família já era muito próxima. Manoel, o pai adotivo, morreu em 2016 aos 86 anos, enquanto Ruth, a mãe adotiva, faleceu em 2021, poucos dias antes da atleta conquistar o ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Quando recebeu a notícia, ela já estava no Japão.
Agora, em Paris, a primeira medalha de Beth Gomes nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024 foi até certo ponto inesperada. A atleta era a única F53 da prova, que contava com mais seis atletas da classe F54, todas com menos comprometimento dos movimentos do que a brasileira. Para chegar ao pódio, ela teria que se superar e foi o que ela fez.
Com o recorde mundial da classe F53, ela alcançou 7,82 m e ficou atrás apenas da mexicana Gloria Guadarrama, que marcou 8,06 m e ficou com a medalha de ouro. O pódio teve um sabor especial porque remeteu Beth à injustiça sofrida por ela antes dos Jogos Paralímpicos do Rio, em 2016.
Correção de uma injustiça
“Foi o evento teste em maio antes das Paralimpíadas de 2016. Como minha patologia é uma doença auto-imune, progressiva, eu estava na classe F54 e passei por uma reclassificação internacional como atleta paralímpica e a classificadora simplesmente me jogou para a classe F55, que são atletas
que têm toda a mobilidade, todo o controle de tronco. Eu já estava com as lesões na mão, sem controle de tronco e ela achou que era essa classe. Bateu o martelo e eu já era chance de medalha para o Brasil. E ela bateu o martelo em dois anos para nenhum classificador mexer na minha classe. E eu fiquei fora dos Jogos Paralímpicos do Rio 2016 porque não tinha prova na 55 do arremesso de peso. Se tivesse, eu era chance de medalha também, mas infelizmente eu fiquei de fora. Foi um período muito ruim”, lamenta.
Mas Beth Gomes espera que toda a sua volta por cima sirva de inspiração para muita gente. “Hoje eu estou aqui representando os arremessadores na minha classe F53, na junção da F54 e trazendo essa
medalha de prata com recorde mundial para o nosso Brasil, para nossas crianças, nossos adolescentes, que estão aí iniciando no esporte. Eu só digo uma coisa: continue porque vale a pena o esporte, salva vidas, tira jovens das ruas, das drogas. Então, enquanto o Beth Gomes estiver aqui, eu vou ser o incentivo de todas essas crianças através também do meu instituto Beth Gomes”, afirmou.
Ouro de tarde?
A medalha de prata conquistada pela manhã, entrentanto, não deve ser a única do dia nesta segunda-feira. Beth Gomes volta a competir a partir das 14h no horário de Brasília no lançamento de disco F53, prova em que ela é a recordista mundial e favoritíssima à medalha de ouro.