“Quando eu terminei a prova, fiquei perguntando para as pessoas se era de verdade, se era real”. A frase é de Matheus Corrêa, 21, sobre como foi o fim da prova em que garantiu o índice para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Classificado para a prova dos 20km da marcha atlética no Japão, o brasileiro não esconde que ainda não consegue se imaginar realizando um de seus sonhos. “Não sei quando vou acreditar, quando a ficha vai cair”.
Segundo Matheus Corrêa, a preparação de 2021 estava sendo feita visando outras coisas, sem ter em mente o índice para a Olimpíada de Tóquio. “Na semana que eu consegui o índice, estava com treinos bons mas não estava no ápice do meu rendimento, esperava um tempo ok, não o índice. Eu estava me preparando para o Sul-Americano e ele foi adiado para o fim do mês, aí a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) organizou o Troféu Cidade Bragança Paulista, em uma pista que sinceramente eu não conseguia ir bem, e eu fiz o índice”, comentou o atleta que com a marca de 1h20min49s, além da vaga olímpica, estabeleceu o novo recorde sub-23 do continente.
Apesar de ainda não acreditar que conseguiu o índice e agora é um atleta olímpico do Brasil, Matheus Corrêa não esconde que estar em uma Olimpíada sempre esteve entre seus sonhos. “Desde que eu comecei eu queria a Olimpíada, queria estar em uma edição dos Jogos Olímpicos. Desde 2016 o meu status do Whatsapp está ‘siga seus sonhos e uma bandeira do Japão’, e eu consegui realizar”.
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Competindo com a referência
Se Matheus Corrêa conquistou o índice e o melhor resultado de sua vida na competição no interior paulista, Caio Bonfim, maior nome da atualidade na marcha atlética masculina, não ficou para trás. Com 1h20min15s, o atleta venceu a competição e estabeleceu o novo recorde sul-americano, e consequentemente brasileiro, da categoria adulto.
Mesmo focado em sua prova, Caio ainda achou uma maneira de ajudar Matheus Corrêa no decorrer de sua marcha. “Eu nunca fiz tempos bons em Bragança Paulista, não gosto muito de competir em pista, porque é uma pista de 400m e a prova tem 20 km. Mas eu acabei segurando a competição com o Caio Bonfim e no meio da prova ele comentou que se eu baixasse o meu tempo em 3s por volta, conseguiria o índice. Ele acelerou o ritmo, eu fui atrás dele, pegando o vácuo e aconteceu a marca para a Olimpíada”.
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Mas Caio Bonfim é muito mais importante para o jovem Matheus. Além de ser um dos responsáveis para que o jovem atleta conseguisse o índice para a Olimpíada de Tóquio, Caio é visto como referência.
“Quando eu comecei a treinar, o Caio era o cara que eu assistia na televisão e agora ele treina comigo. Ele sempre foi Top 3 no mundo, estar junto com ele, buscando igualar as marcas. Eu prefiro ser vice com a marca que eu tive, com o desafio que eu tive que foi igualar o Caio, do que vencer um torneio liderando de ponta a ponta sozinho com um tempo bom, mas pior do que esse. Você ter competitividade e alguém para ir junto é excelente. Competição é isso, disputa, é muito melhor ter alguém na sua cola e tudo mais. A troca de experiência é muito boa, estar junto, conversar de marcha atlética, é muito bom”.
Igual formiguinha
Convenhamos, a marcha atlética não é um esporte comum no Brasil. Não é rotineiro ver jovens escolhendo ou sendo direcionados para a modalidade como são para demais esportes e com Matheus Corrêa não foi diferente. Nascido em Blumenau, o atleta começou sua vida esportiva no futebol mas logo percebeu que seria melhor trocar de modalidade.
“Comecei no futebol mas logo vi que não era pra mim. Na minha cidade tinha um projeto de iniciação esportiva e eu fiquei entre a natação e o atletismo. Tentei ir para a piscina primeiro mas perdi a seletiva. No atletismo eu comecei querendo correr e a minha professora me levou para treinar com o técnico dela depois de um tempo, o Ivo que ainda é meu treinador até hoje. Depois de um tempo ele começou a falar para eu tentar ir para a marcha atlética e eu enrolei e neguei por 1 ano, mas depois que comecei não parei mais”.
Depois de oito anos marchando, Matheus Corrêa chegou ao sonho olímpico. Apesar disso, o atleta sabe que a sua carreira foi sendo construída aos poucos e sabe que ainda não está no seu melhor momento. “Foi um passo de cada vez, igual formiguinha mesmo. Fui conquistando uma coisa de casa vez. Brasileiro, sul-americano, participação em mundial e assim foi. O esporte mudou a minha vida. Me deu a oportunidade de fazer coisas que eu nunca imaginei que faria”, finalizou o atleta.