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Atletismo

Da origem indígena, Mirelle Leite luta para firmar talento

Pernambucana teve família expulsa da tribo e começou a treinar para ajudar a sustentar os irmãos. É campeã brasileira sub-18 dos 2.000 m com obstáculos

Mirelle Leite atletismo
Mirelle Leite, ao centro (Fernanda Davoglio/CBAt)

Campeã brasileira sub-18 dos 2.000 m com obstáculos e vice-campeã dos 3.000 m da mesma categoria no ano passado, em Porto Alegre, a pernambucana Mirelle Leite da Silva é um exemplo de superação e importância que o atletismo tem na inclusão social de jovens brasileiros.

Mirelle é descendente da etnia indígena Xukuru. Nascida em Pesqueira no dia 11 de março de 2002, mudou-se para cidade em consequência de um conflito na tribo, que causou uma divisão, levando uma parte à expulsão da reserva. Ela teve o pai assassinado e, como a mais velha de uma família de nove irmãos, assumiu a responsabilidade de cuidar dos mais novos, enquanto sua mãe trabalhava de diarista para levar alimento para casa.

Quando já estava próxima de atingir resultados de destaque no nível nacional, aos 15 anos, Mirelle Leite engravidou e interrompeu a promissora carreira. Uma situação que era ruim piorou, mas mostrando a força guerreira de seu povo reiniciou sua carreira após o nascimento de Lucas Gabriel, agora com 3 anos.

“Nunca deixei de acreditar”

“Comecei a praticar o atletismo quando eu tinha 12 anos. Vi que algumas meninas ganhavam algum dinheiro nas corridas e então decidi participar também. Em pouco tempo eu já demonstrava qualidades, vencendo alguns campeonatos pernambucanos e jogos escolares regionais. Passei por momentos bem difíceis, como na gravidez, mas nunca deixei de acreditar em mim e de pensar em voltar a competir”, conta Mirelle.

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O esporte passou a ser o seu ganha-pão. “O atletismo significa muitas coisas boas, me proporcionou uma vida melhor, mesmo treinando sem as condições adequadas. Quero dar uma vida melhor para a minha mãe e o meu filho no aspecto pessoal e poder treinar bem, ficar entre as melhores no esportivo”, concluiu a atleta

Marcas expressivas

O treinador Abraão Nascimento, também coordenador do clube, confia no potencial da atleta. “Mesmo treinando em condições adversas, correndo em calçamento irregular de paralelepípedos, usando mesas e bancos de uma praça como obstáculos, Mirelle tem conseguido alcançar marcas expressivas”, disse Abraão, que tem um brilhante trabalho de apoio aos atletas em Pernambuco.

Ela é treinada no dia a dia por José Hildo Santos, em Pesqueira, em dois períodos, às 5 horas e às 17 horas. “Com a melhoria das condições de treino e de qualidade de vida, Mirelle terá condições de alcançar melhores marcas em pouco tempo”, garantiu o treinador.

No Brasileiro Sub-18 de 2019, em Porto Alegre, venceu os 2.000 m com obstáculos, com 7min02s85, e ficou em segundo nos 3.000 m, com 10min12s47.

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Foi a terceira colocada nos 6 km sub-20 da Copa Brasil de Cross Country, neste ano de 2020, em Serra (ES), com 24min03. Com o resultado, foi convocada para o Campeonato Pan-Americano de Cross, no Canadá, onde ficou em oitavo lugar, a melhor qualificação entre as brasileiras no sub-20.

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