Natural de Marília, no interior de São Paulo, Daniel Martins não gosta de perder em nada. A chegada no atletismo se deu meio que por acaso, mas os resultados não negam que o caminho escolhido foi o certo. Maior nome da classe T20, para deficientes intelectuais, o brasileiro sabe porque não para de correr. “Se eu não correr, quem vai correr por mim?”.
Daniel Martins é o nome a ser batido nos 400 m rasos no mundo. Desde 2015, o brasileiro foi ouro em qualquer competição que participou. Sobre a sequência de vitórias, Daniel é claro sobre como pensa sobre as conquistas.
“Os resultados me dão uma responsabilidade muito grande. Sou tricampeão mundial, campeão paralímpico, campeão parapan-americano e recordista mundial e eu falo que eu tenho medo de perder, porque não gosto de perder, em absolutamente nada”.
“Pelo que eu lembro, o top 8 do ranking mundial no último ano foi todo de atletas da América do Sul e com uma galera mais vindo. Isso me fez abrir o olho e pensar que precisava ficar esperto, porque eu quero manter essa sequência de conquistas”, completou.
O ouro paralímpico quase não veio
“Quase ninguém sabe, mas eu estava machucado na Rio-2016”. Sim, o ouro paralímpico de Daniel Martins quase não aconteceu. Segundo o próprio atleta, existia uma ordem médica para que ele não fosse para os jogos do Brasil, mas a vontade do atleta foi o que decidiu.
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“Eu estava com o tornozelo estourado na Rio-2016. Tive uma lesão grave e o médico falou que eu não competiria na paralimpíada e eu bati de frente. Falei que iria de qualquer jeito e fui. Na semifinal fizeram uma botinha e deu mais confiança e eu conquistei o ouro. Depois da paralimpíada eu cuidei porque ficou bem ruim”.
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Segundo Daniel, a “sorte” foi que a sapatilha obriga os atletas a correrem na ponta do pé, porque se tivesse que apoiar o no tornozelo não seria possível correr.
Questionado se valeu a pena todo o esforço e o risco, a resposta vem quase no mesmo segundo. “Valeu a pena. Se for preciso eu arrebento tudo de novo, me quebro, me desmonto todo, a medalha paralímpica vale a pena”.
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Desconhecimento e preconceito
A história de Daniel Martins no esporte paralímpico não começou há muito tempo. Em 2012 foi comprovada a deficiência intelectual e ele ingressou no atletismo paralímpico. Contudo, não foi fácil o entendimento do que seria competir na classe T20. “Eu tinha um certo preconceito. A minha categoria é de deficiente intelectual e não queria ficar no meio dos doidos, mas hoje eu sou um dos doidos”.
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Mas o começo não foi fácil. Daniel não esconde que existiram dias ruins, em que chegou aos treinos chorando por ter ouvido coisas que não é preciso lembrar neste texto. Entretanto, o tempo fez bem para o atleta entender onde estava.
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“Eu já pensei e falei coisas não tão legais e sei disso. Eu amadureci muito. Tenho uma cabeça mais aberta, sei que vai ter preconceito, sei que vão falar, mas tento fazer com que entre por um ouvido e sair pelo outro. Busco ser exemplo no que eu faço e ser exemplo para as pessoas”, finaliza Daniel Martins.