Os Jogos Olímpicos de Amsterdã-1928 marcaram a estreia do atletismo feminino no programa olímpico. Mais do que isso, no entanto, eles foram marcados por uma menina, de apenas 16 anos, que fez história. Elizabeth Robinson surpreendeu o mundo ao superar as favoritas, quebrar o recorde mundial e ainda se tornar a primeira mulher campeã dos 100 m rasos em Olimpíadas. Até hoje, ela é a mulher mais jovem a ter conquistado uma medalha de ouro olímpica. E tudo isso aconteceu somente em sua quarta corrida competitiva.
Elizabeth Robinson nasceu em 23 de agosto de 1911, em Riverdale, nos Estados Unidos. Uma adolescente bem-humorada, que gostava de tocar violão e atuar em peças da escola, mas que tinha um talento raro. E esse talento foi descoberto por um professor seu, Charles Price, que havia sido atleta e viu Betty correr atrás de um trem e alcançá-lo, mesmo estando muito longe.
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No dia seguinte à corrida para o trem, Price cronometrou Elizabeth correndo 50 metros por um corredor na escola e ficou ainda mais impressionado com sua velocidade. Ele então a encorajou a treinar com a equipe masculina, já que não havia equipe feminina de corrida na escola.
Ascensão meteórica
E não demorou muito para Elizabeth Robinson começar a disputar de igual para igual com as melhores velocistas femininas dos Estados Unidos. Em março, poucas semanas depois de ser descoberta, Betty fez sua estreia em um evento regional, terminando em segundo lugar.
E já na sua segunda corrida nos 100 m, em junho, ela venceu a prova e registrou o tempo de 12s, batendo o recorde mundial oficial daquele ano, de 12s2. O tempo, no entanto, não foi homologado por causa do vento. Um mês depois, entretanto, Robinson foi selecionada para representar os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Amsterdã-1928. Mal sabiam eles, que ela faria história.
Das quatro mulheres estadunidenses que buscam uma vaga na final dos 100m, apenas uma conseguiu passar: Elizabeth Robinson. Um fato curioso, no entanto, quase a deixou de fora da decisão. A jovem de 16 anos levou dois tênis esquerdos e precisou enviar alguém de volta para a base da equipe no navio para pegar o direito. Ela mal conseguiu chegar à linha de partida a tempo e até considerou correr descalça.
A final dos 100m em Amsterdã-1928com seis mulheres foi reduzida para quatro velocistas, depois que duas foram desqualificadas por queimarem a largada. Quando a largada finalmente aconteceu, Robinson correu como nunca, estabeleceu o recorde mundial de 12s2 e se tornou a primeira mulher campeã nos 100 m em Olimpíadas.
Robinson conquistou ainda a medalha de prata no revezamento 4x100m em Amsterdã-1928. Ela foi a última a correr e mais uma vez, superou as favoritas do Canadá. Ela logo caiu nas graças da torcida. Afinal de contas, ela tinha 16 anos e era atleta há somente cinco meses.
Vencendo a morte
Elizabeth voltou para casa nos braços da torcida. Quando a euforia baixou, ela voltou para o colégio para o seu último ano e depois começou a graduação em Educação Física. Apesar de ter sido campeã nos 100 m em Amsterdã-1928, ela queria mais. Betty queria defendeu seu título e Los Angeles-1932, em casa. E foi trilhando seu caminho até lá batendo novos recordes a cada competição. Mas o imponderável aconteceu.
O dia 28 de julho de 1931 mudou a vida de Elizabeth e marcou, provavelmente, sua maior vitória. Ela estava viajando em um bimotor pilotado por seu primo quando o motor falhou e a aeronave caiu. Com muitos ferimentos e queimaduras graves, Robinson foi dada como morta quando a equipe de resgate encontrou o corpo entre os destroços. Ela e seu primo foram colocados no porta-malas de um carro e levados para uma funerária, mas na chegada eles foram encontrados vivos.
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Elizabeth Robinson foi, então, levada a um hospital onde permaneceu em coma por sete meses. Ela teve uma perna quebrada, um braço esmagado e uma concussão severa, o que tornou impossível sua participação na Olimpíada de 1932. Com uma perna mais curta que a outra, os médicos diziam que ela nunca mais poderia competir e mancaria para o resto da vida.
Mas a alma de campeã falou mais alto. Dois anos depois, ela já conseguia andar normalmente e, apesar de não conseguir correr tão rápido quanto antigamente, decidiu tentar competir em Berlim-1936. E não é que conseguiu?
A superação e a consagração
A lesão na perna de Elizabeth Robinson foi tão grave que ela não conseguia se ajoelhar para a largada e não conseguiu competir nos 100m. No entanto, ela ainda era capaz de correr no revezamento. E não só ajudou, como conquistou sua terceira medalha olímpica.
A favorita Alemanha acabou desqualificada depois de a última velocista, Ilse Dorffeldt, derrubar o bastão. Betty foi a terceira da equipe dos EUA e Helen Stephens, campeã dos 100 m, fechou a prova, garantindo a medalha de ouro. Depois de ser a primeira mulher campeã nos 100 m em Olimpíadas e ter vencido a morte, Elizabeth Robinson subiu ao pódio pela terceira e última vez, quando se aposentou das pistas.
Ela, no entanto, continuou envolvida no esporte. Foi cronometrista da AAU (União Atlética Amadora) dos EUA por muitos anos e também uma oradora ativa, dando palestras para a Associação Atlética Feminina para promover a corrida feminina. Em 1977, ela entrou para o Hall da Fama do Atletismo do país e mais tarde, para o Hall da Fama Olímpico dos EUA.
Em 1996, Elizabeth Robinson ainda teve a honra de carregar a tocha olímpica aos 84 anos, recusando ajuda, mesmo que já bastante frágil. Três anos depois, em 18 de maio de 1999, com câncer e Alzheimer, ela faleceu, deixando um legado histórico e inspirador.