Daqui a exatamente um ano será dada a largada para que as mulheres tomem as ruas de Sapporo e corram os 42,195 km da maratona feminina da Olimpíada de Tóquio. A prova foi transferida da capital japonesa pelos organizadores, em razão do temor pelas altas temperaturas do verão local. Em uma dos eventos mais marcantes do programa olímpico, o Brasil busca retomar o caminho de grandes resultados.
A maratona feminina faz parte do programa olímpico desde Los Angeles-1984. Desde então, o Brasil só não esteve presente em uma edição, Sydney-2000. O melhor resultado do país foi Márcia Narloch, em Barcelona-1992, com o 17º lugar. Desde então, a melhor colocação foi a 39ª posição, quatro anos mais tarde da mesma Narloch, na Olimpíada de Atlanta.
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Para os Jogos Olímpicos de Tóquio, o Brasil não tem nenhuma atleta classificada até o momento. O caminho para a conquista da vaga no Japão traz duas opções. A primeira é conseguir o índice para a prova, que é de 2h29min30s, em uma maratona que tem a chancela da World Athletics (Federação Internacional de Atletismo).
A outra é conseguir a vaga através do ranking da federação internacional de atletismo, que leva em consideração o resultado, a competição e a marca do atleta para creditar a pontuação e classificação. O período para a obtenção dos resultados vai até 31 de maio de 2021 no caso da maratona feminina.
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Para tentar entender o cenário da maratona feminina para o Brasil, a reportagem do Olimpíada Todo Dia conversou com Lauter Nogueira, comentarista de atletismo em seis edições de Jogos Olímpicos e 11 Mundiais de atletismo.
O Brasil estará em Tóquio
Por conta da pandemia do coronavírus, o mundo esportivo como um todo parou. Sem competição e com dificuldades dos atletas para realizar treinamentos, a World Athletics suspendeu a janela para obtenção de índices em abril deste ano e ela só voltará a validar as marcas a partir de 1º de dezembro.
Com isso, o Brasil ainda terá um período para correr contra o tempo e fazer o índice. No momento, as melhores atletas do país, que representam o Brasil nas maiores competições no mundo, são Valdilene dos Santos e Andreia Hessel.
Na última temporada, as duas atletas tiveram resultados parecidos em duas das maiores competições que estiveram. No Mundial, o melhor resultado foi de Valdilene, com 2h59min00s e foi a 29ª colocada. Já Andreia terminou os 42 km em 3h06min53s e foi a 36ª.
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Já nos Jogos Pan-Americanos de Lima, a história foi um pouco diferente. Nos primeiros quilômetros da prova na capital peruana, Valdilene chegou a liderar, mas acabou na sexta colocação com 2h36min20s. Já Andreia foi um pouco pior e terminou sua participação com o oitavo lugar, com 2h35min40s.
“O Brasil vai ter pelo menos uma atleta na maratona feminina, eu acho. De um jeito ou de outro, através da obtenção de índice ou do ranking, eu penso que ao menos uma delas vai se classificar”, comentou Lauter.
Apesar das marcas do último ano estarem um pouco longe do índice olímpico, a dupla brasileira já fez marcas muito mais próximas do resultado que dá a vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
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Valdilene dos Santos está há pouco mais de dois minutos da marca. O melhor resultado da corredora em uma maratona feminina é de 2h32min01s. Já Andreia Hessel também está próxima. A melhor marca da carreira da atleta é 2h34min55s.
Em busca da retomada do passado
Em Jogos Olímpicos, os melhores resultados brasileiros na maratona feminina aconteceram há mais de 20 anos. Os desempenhos conquistados em Barcelona-1992 e Atlanta-1996 têm os três melhores resultados do país na prova.
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Perguntado sobre o porquê dessa queda no desempenho olímpico das maratonistas brasileiras nas últimas edições, Lauter Nogueira é direto. “Uma boa maratonista precisa ser uma boa atleta em provas de fundo nas pistas (5.000 m e 10.000 m) e isso não acontece no país mais por muitos motivos. Nos últimos 10, 15, 18 anos, os brasileiros, de uma maneira geral, vem deixando de competir nas provas de fundo e focando nas provas de rua e essa queda nos resultados é o reflexo disso”.
Para uma pessoa que vê a distância das provas citadas e compara com o tamanho de uma maratona pode pensar que o comentarista possa estar enganado, mas não é bem assim. Apesar dos treinamentos serem diferentes, segundo Lauter, as provas de fundo do atletismo preparam o maratonista para as maiores distâncias.
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“Sim, a preparação para as provas é diferente, mas as maiores distâncias da pista preparam para a maratona. Nos 5.000 e 10.000 m, o atleta vai preparar o corpo e o físico para um intensidade de prova maior, vai entender qual o tempo certo que o pé tem que ter de contato com o solo e vai preparar o físico para a oxigenação certa e produção de ácido láctico. Isso tudo influencia no resultado. A ciência esportiva já comprova que um bom maratonista é um bom corredor de 5.000 e 10.000 m”.
O que esperar de Tóquio
Na Rio-2016, o melhor resultado do Brasil na maratona feminina foi o 69º lugar de Adriana da Silva. Em Londres-2012, ela foi a única representante do país e terminou na 46ª colocação. Em Pequim-2008, Marily dos Santos ficou em 51º e em Atenas-2004, Márcia Narloch e Marlene Fortunato não completaram a prova. Com esse histórico, o que é possível esperar das brasileiras no Japão?
Para Lauter Nogueira, levando em conta os resultados do ciclo até a pausa por conta da pandemia, o Brasil precisa melhorar. “Como para mim, pelo menos uma delas estará lá, temos que ser realistas. A 17ª colocação da Narloch em Barcelona-1992 não será superada. Levando em consideração que boa parte da elite da prova tem feito marcas na casa de 2h10min, 2h12min, algumas conseguindo fazer abaixo disso, elas não vão estar entre as primeiras. Acredito que para o padrão dos nossos últimos anos, elas podem ir bem. Mais do que isso é pensar em algo irreal”.