Vice-campeão mundial em 1999 e presente em duas edições dos Jogos Olímpicos, Sanderlei Parrela é dono do recorde brasileiro dos 400 metros rasos do atletismo há mais de 20 anos. Hoje treinador especializado justamente nessa prova, o paulista explicou por que sua marca segue sem ser batida e até fez críticas, mas deu dicas para que a nova geração de atletas possa superar seu tempo.
Sanderlei Parrela bateu o recorde sul-americano e brasileiro justamente na final do Campeonato Mundial de Sevilha, na Espanha, em 1999, quando fez a marca de 44s29 e levou a prata. O colombiano Anthony Zambrano superou o paulista no Mundial de Doha, no ano passado, mas o tempo segue como melhor do Brasil. Aos 45 anos e aposentado há mais de uma década, Sanderlei aponta alguns fatores para que seu recorde persista há duas décadas.
“O Sanderlei foi um atleta, cada é cada um, mas tem coisa que serve para todos. Não adianta querer correr 44s sem ter disciplina, sem abdicar de algumas coisas. Eu aprendi que seu foco está onde está sua energia. Se meu foco está em várias coisas, a energia estará dividida. O atletismo é sua profissão, você precisa se cuidar. O treino não termina na pista, ele continua fora também. Quando atleta, eu fazia alongamento antes de dormir para o treino do outro dia”, disse em live da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).
“Falta os atletas encararem e ver que correr na faixa de 44s não é fácil, não vai cair do céu. Tem que ter muita dedicação, muito treinamento, confiança no seu treinador e precisa abdicar de muita coisa. Não existe outro caminho, pelo menos eu não conheço”, acrescentou.
Críticas
Sanderlei Parrela correu os 400 metros abaixo dos 45s mais de 15 vezes durante a carreira e terminou os Jogos Olímpicos de Sydney-2000 em quarto lugar, muito próximo da medalha. Com bagagem na prova, o treinador vê potencial na nova geração do Brasil, mas acredita que os atletas precisam se doar mais para o atletismo.
“Eu vejo que muitos atletas querem ir para a Olimpíada, ser finalista. Todo mundo quer, mas na hora que você apresenta tudo que é necessária para chegar lá muitos não entendem. Acham que as coisas vão cair do céu. A carreira do atletismo precisa ser valorizada pelos atletas, ela acaba muito rápido. E quando acaba, não tem mais jeito”, afirmou.
+ Todas as medalhas do Brasil na história do Mundial de atletismo
“O trabalho entre atleta e treinador precisa encaixar, é necessário sorte para não ter lesão…são várias coisas que andam juntas para que você consiga fazer dar certo. E é necessário ser constante. Pode acontecer de um atleta pular de 46s para 44s? Pode, mas é uma exceção. É preciso ser constante. Esse é o caminho, treinar um pouco mais e acreditar mais”, concluiu.
“É preciso acreditar”
Apesar do tom crítico quanto aos novos atletas, Sanderlei Parrela pediu para aos brasileiros que competem os 400 metros em alto rendimento tenham maior atitude e depositem a confiança de que podem bater o recorde da prova.
“Sonhe, mas não deixe ficar apenas no sonho. Tire ele da cabeça, coloque no papel e se pergunte qual o caminho que eu preciso trilhar para conquistá-lo. Chegue para o treinador e diga: ‘Eu acredito que sou capaz de alcançar esse resultado. Você acredita? Você pode me guiar nesse caminho?’. O segredo é dedicação, perseverança e resiliência. Pessoas chegaram a dizer que não correria os 400 metros nem para 45s. Se eu tivesse dado ouvidos, jamais teria chegado onde cheguei. É preciso acreditar”, afirmou.
+SIGA O OTD NO YOUTUBE, NO INSTAGRAM E NO FACEBOOK
“Desafie-se, saia da caixinha e pense alto. Falta ambição para os nossos atletas. O atleta quer ser finalista olímpico e mundial, mas pensa pequeno demais. Eu me dediquei muito, acreditei demais, e se vocês fizerem o mesmo aumentarão as chances de correr 43s e realizar o sonho do recorde. Muitos só ficam no falar, e falar no atletismo não adianta nada, o que conta é dedicação, perseverança e o relógio”, finalizou.