Cláudio Roberto Sousa finalmente receberá a prata do revezamento 4×100 m dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, depois de quase 20 anos de atraso. A informação foi dada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB), que manteve contatos com o Comitê Olímpico Internacional (COI), sobre o fato de o ex-velocista nunca ter tomado posse da medalha.
Na última semana, Cláudio Roberto recebeu um documento do COI, enviado pelo COB, em que confirma que a medalha de prata, um broche e o diploma de medalhista olímpico serão mandados ao Brasil até o final do verão europeu, entre agosto e setembro. O prazo deve ser suficiente para a confecção da nova medalha pelo Museu Olímpico do COI, já descontadas as dificuldades adicionais causadas pela pandemia do novo coronavírus.
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“Estou muito feliz e agradecido a todos que se empenharam na solução desse problema. Acho que eu era o único medalhista olímpico sem medalha”, comentou o piauiense, que tem um projeto social e dá aulas de atletismo em Teresina, cidade em que nasceu.
“É uma felicidade total. Recebi no domingo uma ligação do presidente do COB, Paulo Wanderlei. Ele me deu os parabéns pela medalha e por minha paciência. Todos que me conhecem sabem que sou tranquilo, sou passivo em relação a isso, mas graças a Deus essa passividade faz com que pessoas falem por mim. Agradeço especialmente ao Paulo Wanderley e ao Jorge Bichara, que lutaram pela medalha”, disse.
Entenda a situação
Cláudio Roberto era reserva da equipe que foi aos Jogos Olímpicos de Sydney 2000 e correu a eliminatória da prova, vencida pelos brasileiros. Na final, ele foi substituído pelo titular Claudinei Quirino, que fechou o 4×100 m. O grupo teve ainda Vicente Lenilson, Edson Luciano Ribeiro e André Domingos.
O quarteto vice-campeão em Sydney 2000 recebeu a medalha no próprio estádio, na cerimônia do pódio, no dia 30 de setembro. A de Claudinho, como é chamado, ficou de ser entregue depois, mas nunca foi recebida.
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O COB em 2001, ainda presidido por Carlos Arthur Nuzman, entrou em contato com o COI, que teria afirmado que a responsabilidade de prover a medalha era do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Sydney. Em 2003, nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, na República Dominicana, o atleta ganhou do COI um broche, destinado aos medalhistas olímpicos como prêmio de consolo.
Réplica
Sem novidades sobre o assunto durante quase 15 anos, Cláudio Roberto foi homenageado na Assembleia Geral da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), da qual é membro, em 2016, em um evento em São Paulo. Ele recebeu uma réplica da medalha numa iniciativa de André Domingos, seu companheiro de equipe, e de Arnaldo Oliveira, medalhista de bronze no 4×100 m de Atlanta 1996.
“Essa medalha foi muito importante. Nos últimos quatro anos em todas as ações que participei como um dos Heróis do Atletismo fiz questão de mostrá-la. Ela era um símbolo que me faltava nas minhas palestras e apresentações”, lembrou Claudinho, que terá de mandar essa réplica ao COI. “Não entendo isso. A medalha me foi dada por amigos. Nunca escondi que era uma réplica. Mas terei de mandar porque essa é uma condição para receber a nova”.
Vitória do atletismo
A cessão da medalha pelo COI começou a ganhar força no final de 2019, quando Cláudio Roberto conversou com representantes do COB em um evento em Teresina. A partir, daí as tratativas recomeçaram. Quando a nova medalha chegar ao Brasil e as condições da pandemia estiverem melhores, o COB promete fazer uma solenidade para entregá-la ao ex-velocista.
“Vamos reparar uma injustiça histórica. A participação naquele revezamento foi fundamental para o Brasil chegar à decisão e depois conquistar a medalha de prata”, afirmou Paulo Wanderley, presidente do COB. “Assim que o COB receber a medalha, providenciaremos uma cerimônia de entrega à altura do feito do Cláudio Roberto. O Comitê tem trabalhado para valorizar a memória do esporte olímpico brasileiro e, sem dúvidas, essa homenagem fará jus a um dos grandes velocistas do Brasil”, completou.
O presidente do Conselho de Administração da CBAt, Warlindo Carneiro da Silva Filho, comemorou. “Com isso, já resgatamos cinco medalhas olímpicas, nove contando com as do revezamento 4×100 m feminino, em Pequim 2008. Agora, resgatamos mais uma. Parabenizo o Claudinho, uma pessoa sensacional, pela tranquilidade com que esperou desde Sydney 2000. Parabenizo o André Domingos e o Arnaldo Oliveira, que fizeram uma homenagem ao Cláudio com a réplica da medalha na assembleia da CBAt. Estamos todos felizes e emocionados com mais essa vitória do atletismo brasileiro”, comentou.
“Nós temos que carregar algumas qualidades, uma delas é paciência, resiliência, respeito. Tudo isso faz parte dos valores olímpicos. É o que eu tive. Nunca desistir do sonho e o meu durou 20 anos. O sonho de ir para Olimpíada e ganhar uma medalha demorou menos, mas foram 20 anos acreditando que esse sonho iria se realizar. A mensagem que fica é para persistir no sonho. Muita coisa acontece no caminho, mas é para valorizar a caminhada”, finalizou Cláudio Roberto.