Alison dos Santos é uma das revelações do atletismo brasileiro e um dos atletas mais promissores da modalidade. Neste sábado (4), o campeão dos Jogos Pan-Americano em Lima-2019 na prova dos 400 metros com barreiras, concedeu entrevista exclusiva ao instagram do Olimpíada Todo Dia e contou detalhes sobre sua carreira, histórias inspiradoras, Tóquio, evolução rápida, desafio e Usain Bolt.
Finalista do Campeonato Mundial de 2019, disputado em Doha, no Qatar, Alison estava treinando nos Estados Unidos quando a situação no mundo se agravou por conta da pandemia de coronavírus. O competidor tem apresentado resultados expressivos e de 2018 para 2019 diminuiu em um segundo e meio sua marca na sua prova predileta. O próprio atleta e sua equipe de trabalho se surpreenderam com a rápida evolução.
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“Estamos trabalhando para isso, mas essa evolução rápida assustou a mim e a meu treinador também. Não esperava que fosse tão rápido assim. A cada competição era uma surpresa e corria melhor. Tenho trabalhado cada vez mais focado e empenhado em atingir meu objetivo. Estou batalhando para levar o nome do Brasil ao pódio, ter resultados e inspirar pessoas. São treinos pesados, mas faço com amor e tudo acaba sendo mais leve”, afirmou.
Meta para os Jogos Olímpicos
Com os 48.28 obtidos no Mundial, sua melhor marca na carreira, Alison busca agora correr abaixo de 48 segundos para conquistar uma medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio, que será realizado de 23 de julho a 8 de agosto de 2021.
“Para chegar com condições de medalha tenho que abaixar mais. Chegar em uma competição correndo 48 segundos é uma coisa bem diferente do que se conseguir chegar correndo 47 segundos, a confiança muda muito. Gostaria de abaixar dos 48 segundos esse ano, mas não sei como será a temporada. Meu objetivo é chegar na Olimpíada correndo 47 segundos para ter chance de uma medalha e brigar forte em uma final”, disse.
Adiamento dos Jogos Olímpicos
Com índice olímpico já conquistado, Alison dos Santos terá que esperar mais um ano para debutar em uma Olimpíada. Mesmo sabendo que pode melhorar ainda mais seus resultados com mais tempo para treinamentos, o atleta também está preocupado com a indefinição do calendário.
“Falando em idade, ano que vem estarei melhor, mais velho, forte e correndo mais rápido. Só que o grande problema é que estamos perdendo tempo na temporada. Estou em casa, as pistas estão fechadas e não consigo treinar como deveria. Em 2021 será bem diferente e, assim como estarei mais preparado, os meus oponentes também terão mais um ano para treinar e todos estarão em igualdade”, comentou.
“A preocupação maior é não saber quando voltaremos a competir. No meio dessa pandemia é tudo incerto, não temos respostas. Fica difícil trabalhar sem imaginar o que vai ter daqui para frente. Isso atrapalha muito a programação”, completou o corredor.
Desafio e aposta com Gabriel Constantino
Antes de regressar ao Brasil, Alison estava junto com Gabriel Constantino, especialista na prova dos 110 metros com barreiras, em fase de treinos em camping na Califórnia, nos Estados Unidos. Ambos ficaram assustados e preocupados com o avanço do coronavírus e decidiram voltar ao país para não ficarem impossibilitados de saírem de lá. Mesmo com essa situação, os dois não perderam o humor e fizeram um desafio.
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“Estávamos brincando e ele inventou que ganhava de mim nos 400 metros sem barreira para equilibrar a disputa. Mas em quaisquer 400 metros que ele quiser não dá para ele. Fizemos essa aposta e íamos cumprir esse desafio no Troféu Brasil, mas não será possível. Mas qualquer dia desses a gente faz esse desafio e corre junto. Ele estava com medo e como estou confiante e sei que vou ganhar quero até apostar em dólar”, brincou Alison.
Alison também elogiou a parceria com os seus companheiros do atletismo e elogiou outro talento de Gabriel. “O grupo em si todo mundo se gosta, se fala, brinca, se respeita. É uma amizade sensacional, algo surreal. O Gabriel é uma pessoa incrível e, além de atleta, ele canta bem. Ele é talentoso e certamente vai dar certo depois de encerrar a carreira no atletismo”, destacou o competidor do Pinheiros.
Começo e ídolo na modalidade
Nascido em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, perto de Ribeirão Preto, Alison chegou a praticar outros esportes antes de escolher o atletismo. “Cheguei a treinar basquete e fiz judô quando tinha de 14 para 15 anos. Depois passei a treinar judô e atletismo ao mesmo tempo, mas ficava cansado e atrapalhava o rendimento. Aí tive que optar por um e o atletismo me deu a oportunidade de receber alguma coisa. Fui pegando amor pelo esporte que me transformou. As pessoas foram me ensinando e em 2015 larguei o judô e comecei a treinar atletismo”, revelou.
Alison foi descoberto pela técnica Ana Cláudia Fidélis, do projeto do Instituto Edson Luciano Ribeiro (INELUR). Atualmente, o atleta é treinado por Felipe de Siqueira, com quem começou a trabalhar em 2018. Em seu primeiro ano como atleta profissional, o corredor confessou ter o jamaicano Usain Bolt como ídolo.
“No começo treinava de tudo como, por exemplo, salto em altura, em distância, prova de velocidade. Inclusive, minha primeira medalha no atletismo foi no dardo, com 15 anos. Só depois passei a treinar provas com barreiras. Minha ex-técnica viu que era uma prova que poderia progredir e hoje é a prova que mais amo no atletismo. Ela acreditou em mim antes de eu mesmo acreditar”, disse.
“Quando comecei a praticar atletismo fui pesquisar os atletas e encontrei o Bolt, figura máxima naquela época. O atleta que mais me inspirava era ele, pois era surreal, um atleta incrível desde quando começou a carreira até se aposentar”, afirmou.
Quarentena e coronavírus
Um dos destaques do atletismo brasileiro na Universíade de Nápoles, na Itália, o Campeonato Mundial Universitário, Alison ganhou a medalha de ouro nos 400 metros com barreiras, com a marca de 48.57. Sem poder treinar na pista e competir, o atleta adaptou seus treinos nesse período de quarentena por causa da pandemia de coronavírus.
“Nessa quarentena estou mais focado em fortalecimento, com trabalho de abdômen e posterior para quando voltar a treinar não sofrer um baque tão grande. Não tem muito o que inventar, é não perder tanto o condicionamento. Moro em apartamento e estou fazendo um trabalho tranquilo, com calma e sem afobar. Não estou fazendo nada de explosão porque não tem calendário de competição”, explicou.
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“Quando mundo parou estava nos Estados Unidos e foi uma surpresa como isso se alastrou na velocidade que foi. Estava aquela loucura para poder voltar ao Brasil, com voos sendo cancelados e a gente preocupado de não ter voo. Mas conseguimos um voo na nossa companhia aérea e achei melhor voltar”, concluiu Alison.