Pitacos olímpicos (parte 2)
Qual é o real valor de uma medalha de ouro olímpica? Embora pareça óbvia, a pergunta é perfeitamente compreensível quando se analisa com um pouco mais de cuidado o esporte olímpico brasileiro. Seria estupidez achar que qualquer ouro conquistado pela equipe americana de natação (com exceção dos oito de Michael Phelps, é claro) tenha o mesmo grau de importância da vitória de César Cielo, nos 50m livre, por exemplo. Como comparar um país que já ganhou 214 medalhas de ouro na natação ao longo da história dos Jogos com o Brasil, que só agora emplacou o seu primeiro campeão olímpico?
Da mesma forma que o feito de Maureen Maggi no salto em distância jamais poderá ser equiparado a uma conquista de uma saltadora russa, país com mais tradição nesta prova. Até mesmo diante de tudo o que Maurren passou depois do episódio do doping.
A própria vitória das garotas da seleção brasileira feminina de vôlei teve um peso especial, a despeito da recente tradição vencedora que a modalidade passou a ter por aqui nos últimos 25 anos. Sim, porque se o vôlei masculino consolidou esta imagem com títulos, o feminino precisou superar até mesmo a desconfiança interna, fruto da histórica derrota para a Rússia, na semifinal dos Jogos de Atenas-04. Por isso, se alguém me perguntar o valor de uma medalha de ouro olímpica, direi que para o esporte brasileiro, ela tem um valor incalculável.
Apoio, só da família
Se alguém ainda duvidar da diferença de um campeão olímpico no Brasil e nas grandes potências olímpicas, basta ver o caso de César Cielo. O nadador envolveu-se em uma polêmica nesta semana, quando declarou que não queria associar sua conquista à imagem da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), alegando que não teve respaldo da entidade, inclusive financeiro, durante sua preparação.
Na verdade, se não fosse o apoio dos pais, que ajudaram a bancar sua estadia em uma universidade americana, provavelmente seria muito mais complicado para Cielo conseguir subir ao pódio do Cubo D’Água e ouvir o Hino Nacional. Será que Michael Phelps passou pelo mesmo sufoco?
Recuo estratégico
A CBDA reagiu imediatamente às críticas de Cielo. Após uma reunião com os dirigentes, o nadador voltou atrás e reconheceu que errou ao falar que não teve apoio financeiro. Afinal, o dinheiro estava em sua conta bancária mas ele nem tinha conferido. Porém, ninguém pode esquecer que foi a esta mesma CBDA quem retirou o patrocínio dos Correios quando Cielo decidiu treinar nos EUA — e que só voltou a bancá-lo às vésperas do do Pan do Rio-07.
A entidade também não queria que o técnico australiano de Cielo (Brett Hawke) acompanhasse o pupilo em Pequim, integrando a delegação brasileira. Definitivamente, a CBDA tem muito pouco (ou quase nada) a ver com o histórico feito de César Cielo.