Se as consequências da pandemia do coronavírus (COVID-19) começaram a aparecer no mundo esportivo brasileiro na última semana, a realidade é muito pior na Itália. Com quase 25 mil de casos confirmados da doença e 1.809 mortes, a Itália é o país europeu mais atingido. Desde o dia 09 de março, o governo decretou uma quarentena nacional para tentar conter a transmissão do vírus.
Essa nova realidade afetou a rotina de todos, inclusive de atletas, que tiveram que alterar agenda, viagens e planos de treinamentos. É neste contexto que eles tentam manter a preparação para a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Mesmo com a incerteza da realização da competição, prevista para o dia 24 de julho, a Olimpíada serve como foco para os atletas italianos, que tentam se manter otimistas.
“Eu estou preocupado com a emergência nacional e a falta de corridas, mas meu humor permanece bom”, diz Davide Re, recordista italiano dos 400m, que treina em Rieti. As restrições fecharam as instalações de treinamento interno, mas, como atleta de nível nacional, ele recebeu permissão para treinar em uma pista ao ar livre.
“Felizmente, como atleta nacional, tenho a oportunidade de ir a campo para que minha rotina não mude muito. Não podemos usar a academia, é claro, mas podemos usar os pesos na pista do lado de fora”, comemora Re.
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Tempo de foco e reflexão
Para Elena Vallortigara, do Salto em Altura, pouco mudou. “Na semana passada, consegui treinar todos os dias na pista, exceto na terça-feira, mas aí compensei em um campo de futebol. Se a instalação permanecer aberta, muda pouco, porque eu posso pular e treinar na pista.”
Não saber quando a temporada será retomada é a incerteza mais difícil para Vallortigara. “A melhor coisa é continuar meu trabalho de condicionamento, que eu faria durante este período de qualquer forma, e depois finalizar meus planos quando as notícias forem mais claras – inclusive sobre os Jogos Olímpicos. Fazer muitos planos sobre o que pode ou não acontecer é uma perda de energia neste momento”, opinou a saltadora.
Para Vallortigara, uma das maiores dificuldades é manter uma atitude positiva diante da situação complicada que vive o país e o mundo.
“Eu sinto que esse sentimento de pânico geral e insegurança tem um impacto em mim, como em todos. Tenho a sorte de poder ir ao campo e manter pelo menos alguma normalidade nos meus dias.”
“Eu tento manter o foco no alvo, porque acho que isso pode me ajudar, esperando que a normalidade volte em breve. Espero também que todos possam voltar às suas vidas habituais o mais rápido possível. Mas, enquanto isso, esse período também deve servir para todos refletirem”, concluiu a atleta.
Crippa segue preparação para Tóquio
Em meio à quarentena, o recordista italiano dos 10.000m Yeman Crippa continua sua preparação rumo a Tóquio de sua base em Trento.
“A situação é mais difícil e eu tenho que ter muito mais cuidado e sempre ter minha autodeclaração comigo”, disse ele, referindo-se a um documento estatal que permite que ele saia de casa.
“Por um tempo não estarei na pista e na academia, mas para o treinamento de bicicleta e estrada não há problema. Mas não é uma boa situação, porque as corridas e os campos de treinamento foram cancelados. Está ficando difícil, mas não vou desistir. Eu sei que vai dar certo, então minha preparação para Tóquio continua, embora com mais alguns obstáculos. Seria pior se não pudéssemos treinar.”
Como os outros, ele está levando muito a sério os atuais riscos à saúde e os decretos nacionais. Crippa esteve entre as principais figuras envolvidas na campanha #DistantiMaUniti (“Distante, mas unido”, em italiano), criada pelo Ministério Italiano de Políticas para o Esporte e a Juventude, cujo objetivo era convencer os jovens a ficar em casa durante esse período crítico.
Treinando de casa
Muitos atletas estão tentando levar o trabalho para casa da melhor maneira possível, como o arremessador de peso Leonardo Fabbri e a corredora Luminosa Bogliolo.
Depois de boas competições indoor, com a conquista do recorde italiano de 21,59m, Fabbri está de volta ao trabalho em sua casa em Florença.
“Decidimos nos desconectar por alguns dias após os compromissos da temporada indoor, onde eu competi muito. Mas agora meu treinamento continua em casa. ” Ele espera retornar à sua base de treinamento regular em Bolonha daqui a duas semanas.
Bogliolo, campeã dos 100m com barreiras dos Jogos Universitários Mundiais do ano passado, levou seu trabalho para sua sala de estar na cidade de Alassio, no noroeste do país, localizada entre Gênova e San Remo.
“Eu tenho todos os equipamentos na minha sala de estar, então, quando não estou em campo, posso treinar em esteiras, bicicletas ergométricas e elásticos de resistência”, disse a atleta, que também está achando a incerteza das competições o aspecto mais difícil de se ajustar.
“A situação continua mudando. Mentalmente, quero acreditar que competiremos novamente, mas não dá pra saber. Meus treinadores estão mudando um pouco os horários, mas estamos trabalhando como se tivéssemos uma temporada regular ao ar livre. Estou tentando não desistir e manter o foco, mesmo com a situação horrível que está acontecendo na Itália e no mundo”, completou a corredora.