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Parapan 2019

Atleta-Guia: Essencial nas conquistas de quem não vê

Sendo os olhos de quem não vê no atletismo, o atleta-guia é peça fundamental nas conquistas dos paratletas com deficiência visual

Daniel Zappe/EXEMPLUS/CPB

Você já tentou correr no escuro? Pensou em acelerar suas passadas de olho fechado ou tampado? Já se imaginou fazendo qualquer tipo de exercício sem saber se o próximo passo seria dado no chão, no nada, ou se daria aquela topada em um degrau? É difícil. Para nós, que temos a visão, nos imaginar sem conseguir ver é dos pensamentos mais complicados de se concretizar. Porém os Jogos Parapan-Americanos nos mostram que é possível não só se exercitar sem ter a visão como competir em alto nível.

Para auxiliar os seus competidores deficientes visuais, no atletismo existe o atleta-guia. Como o nome diz, a pessoa que exerce essa função tem como responsabilidade guiar os atletas durante as provas, sendo os olhos de quem não pode ver, mas na prática vai muito mais do que isso. Guiar um atleta paralímpico na sua corrida vai muito além de estar ao seu lado durante a distância que é preciso percorrer passando os comandos necessários até a tão sonhada medalha de ouro.

Para David dos Santos, que é atleta-guia a pouco mais de dois anos de Gabriela Mendonça Pereira, paratleta dos 100m, 200m e salto em distância, a função é mais do que isso. Para ele a profissão não se limita a parte técnica. “Precisa o tempo todo se colocar no lugar do atleta, precisa ter essa empatia, tentar ganhar a confiança dos paratletas para que eles possam se desenvolver e conseguir alcançar o melhor deles. A nossa função é essencial”, disse David.

Porém nem tudo é lindo na vida de quem exerce essa função. Além de toda a parte de treinos e a dedicação fora das pistas, é preciso respeitar as regras na busca pela sincronia perfeita. Durante as provas o atleta-guia e sua paratleta tem que correr na mesma passada durante todo o percurso, sem que um dê a impressão de que está sendo puxado pelo outro, também não é permitido que um dos dois participantes da dupla pise na linha de separação das raias. Qualquer uma das infrações é punida com a exclusão da prova.

Ale Cabral/CPB

Apesar da relação de David com Gabriela já ter colhido frutos, os dois saíram do Mundial de Jovens de 2017 com duas medalhas de ouro, nos 100m e 200m, o início de tudo no foi bem complicado.”No começo foi bem difícil. Correr na mesma velocidade dela é fácil, mas sincronizar as passadas e me habituar ao jeito dela de correr foi complicado, porque ela as vezes muda drasticamente o movimento de corrida e eu tinha que seguir”, comentou David.

Antes de ser atleta-guia, David passou por outras modalidades. Apesar da baixa estatura, brasileiro passou pelo basquete, vôlei e chegou a não ser aprovado em sua primeira tentativa no atletismo, conseguindo a entrada na modalidade apenas em  dezembro de 2016. Apesar do pouco tempo vivendo deste esporte, o guia vê essa nova oportunidade como um sonho.

“É maravilhoso. Deus fechou uma porta e abriu outra deixando escancarada. Porque é um sonho viver como atleta e ver a Gabriela se dando bem, vendo os resultados dela, ela melhorando é arrepiante. Adoro ser atleta-guia, é um casamento que entre puxões e sorrisos a gente vai indo junto e conseguindo as coisas. Mas uma coisa que eu nunca imaginei fazer na vida, hoje é o meu trabalho”, disse David

Daniel Zappe/EXEMPLUS/CPB

Apesar de todo o treino, toda a dedicação e esforço por parte dos atletas-guia, quando se cruza a linha de chegada e se conquista o resultado a história não é tão boa. Até os jogos Parapan-Americanos de 2011 eles não ganhavam medalha e não subiam no pódio na cerimônia de premiação. Desde então foi concedido aos profissionais que exercem tal função o prêmio pelo resultado. Mesmo assim, David não vê problemas na vitória não ser sua, mas de Gabriela.

“Me deixa feliz porque eu consegui fazer o meu trabalho. Quando ela está bem, quando ela está no alto, fazendo o melhor dela, eu sei que o meu trabalho foi bem feito. Nos momentos em que você vê a pessoa conseguindo realizar o que sonha e você participou disso não tem preço”

Atletas com problemas de visão 

Na edição dos Jogos Parapan-Americanos de Lima Goalball, Natação, Futebol de cinco, Judô e Atletismo contam com atletas inscritos com deficiência visual total ou com parcial (quando a pessoa consegue ter a percepção de vultos ou imagens) e em cada uma delas existe uma maneira para que os participantes consigam competir.

No Goalball e no Futebol de cinco é necessário silêncio absoluto pois as bolas das duas modalidades contém guizos que servem de orientação para os jogadores. No judô antes da luta ter início os dois participantes do confronto são guiados pelo árbitro até conseguirem fazer a pegada no quimono, só depois o duelo se inicia. Na natação, os competidores com deficiência visual recebem o auxílio do tapper, que sinaliza ao esportista a proximidade das bordas para que ele possa realizar a virada ou a chegada no término da prova.

 

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