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Verônica Hipólito chora com volta às pistas após um ano e meio

Após um ano e meio longe das pistas por conta de uma cirurgia no cérebro, Verônica Hypólito se emociona e desabafa: “Escutei que esqueceram de me enterrar”

Um ano e meio sem sentir o gostinho de competir. A distância não é simples para quem já ganhou duas medalhas de ouro em Mundiais, foi prata e bronze na última Paralimpíada e tem três ouros e uma prata em Jogos Parapan-americanos. Mas Verônica Hipólito passou por isso. Pela terceira vez, teve que interromper a carreira para passar por uma cirurgia para a retirada de um tumor no cérebro. A volta, desta vez, foi mais difícil que as outras, mas, ao mesmo tempo, mais especial. No final da tarde desta quinta-feira, durante o Open Internacional Paralímpico, a atleta disputou os 100 rasos pela primeira vez depois da delicada operação. O desempenho era o que menos estava em jogo naquele momento. O que valia era voltar a sentir a sensação de competir.

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“Foi uma mistura de coisas que eu não sentia. Claro que eu já passei por várias cirurgias. Essa é a terceira vez que eu volto por causa de cirurgia, mas essa foi bem diferente. Eu falo para todo mundo: essa foi a cirurgia mais difícil, a mais dolorida, a que eu fiquei mais tempo parada. Esse foi literalmente meus primeiros 100m. Anteontem eu tinha corrido 60m rasos coordenado. Então, foi o primeiro passo, foi a primeira vez e agora é continuar treinando, treinando e treinando mais”, afirmou Verônica Hypólito após a prova.

Após cruzar a linha de chegada, Verônica Hipólito sentia dores no braço direito e, quando se aproximou de Gwen Maitre, coordenadora do Time Nissan, desabou a chorar. “Na verdade, eu nem vi quem estava na frente, ela chegou, eu tava com vontade de chorar e chorei. Que coisa, né? Desde a hora do aquecimento, eu estava com ansiedade, animada, com medo, curiosa… E quando acabou, eu acho que chorei de tudo isso que eu estava guardando porque foi quase um ano e meio que eu estava parada. Foram muitas piadas, foram mais de 20kg a mais por causa de remédios, foi por ter tido várias idas e vindas para o hospital, foram desmaios, foi ter saído da pista para ir para a fisioterapia. Então, essa volta foi a mais especial para mim. Eu sei que vai ser muito difícil, mas não é a primeira vez e eu sei que eu vou voltar”, garantiu a atleta, que tem a Nissan como uma de suas patrocinadoras desde 2017.

Quem também fez questão de abraçar Verônica Hipólito foi o recordista mundial dos 100m rasos, Petrúcio Ferreira, que ontem ficou a apenas 0,02s de igualar a sua própria marca. “Eu e o Petrúcio ficamos muito próximos depois do Time Nissan. É uma coisa que eu sempre gosto de falar. Eu entrei no Time Nissan com eles sabendo que ia fazer uma cirurgia. A Gwen me ligou, falou que gostaria que eu entrasse. Isso foi em 2017 e eu avisei que ia fazer uma cirurgia. Eu já tinha recebido umas propostas de dois patrocionadores, mas eles caíram fora quando eu falei que ia operar e a Gwen falou que tudo bem. Depois disso, eu fui me aproximando mais e mais do time. O Petrúcio me dando força, o Renato (Rezende, do BMX) me dando uma força enorme, a Ágatha e a Duda (vôlei de praia) nem se fala, a Su (Susana Schnarndorf, natação paralímpica), que é uma grande amiga minha, o Ygor (Coelho, do badminton), que a gente fica um vendo o outro, brincando um com o outro. Então, virou realmente uma família. Quando a gente fala Time Nissan é porque é Time Nissan, quando a gente fala família Nissan é porque é família Nissan na alegria, nos recordes mundiais, e nos chorinhos, que eu não vou falar que é tristeza, quando eu estava com dor ou seja o que for”.

Depois de tanto tempo longe das pistas e de ser desacreditada por muitos, Verônica Hipólito aproveitou também para desabafar e mostrar que está forte para dar a volta por cima. “Isso é a questão da resiliência. Batem, batem, batem em você e você levanta. Só nós sabemos a nossa dor e a gente não pode focar na dor. A gente tem que focar na solução. E eu estou focada na solução. Eu escolho focar na solução e, quando eu me perco porque eu sei que não sou uma super-heroína, eu sei que tenho pessoas muito queridas comigo. Eu sei que eu tenho a Gwen, eu tenho a galera da Nissan, tem o Rodrigo Garrote, que é da Nike, porque todos os meus patrocionadores viraram amigos. Tem a galera aqui do Comitê Paralímpico, tem meu pai e minha mãe que estão comigo no primeiro lugar com recorde mundial ou lá embaixo, quando eu estou no hospital. Tem o Alan, meu namorado, tem meu irmão… A gente volta e não é só por mim mais. Tem muita gente”.

O ano de 2019 está cheio de desafios. Tem Mundial e Jogos Parapan-americanos. Claro que Verônica Hipólito quer estar nas duas competições. Mas nada como um passo de cada vez. E o primeiro foi dado ontem. Ela está de volta e aos poucos quer recuperar o espaço que já teve. “Meu objetivo é não parar. Eu escutei muitas coisas, muitas coisas… Escutei do meu peso, escutei que esqueceram de me enterrar, escutei muitas piadinhas de mau gosto só que eu sabia desde lá atrás, muito antes de entrar no paralímpico, muito antes de correr, quando eu tive o AVC, que quem ia fazer as coisas ia ser eu. Falar, todo mundo fala. Hoje eu vim com a primeira meta que era não queimar (a largada) porque eu estava queimando muito e foi muito legal não ter queimado e depois termimar. Eu acabei perdendo três unhas anteontem, tirei ontem e eu falei: mesmo que doa, mesmo que eu vá descalça, eu vou terminar essa corrida e terminei”.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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