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Seleção Brasileira

Morte de Joaquim Mamede encerra capítulo polêmico no judô brasileiro

A notícia da morte de Joaquim Mamede, ocorrida no último domingo, aos 86 anos, encerrou um capítulo polêmico na história do esporte olímpico brasileiro, em particular do judô. Bom, polêmico é o adjetivo mais soft que se pode definir o ex-dirigente, que comandou com mão de ferro a modalidade por 21 anos, atuando como presidente e superintendente da CBJ (Confederação Brasileira de Judô).

Os mais condescendentes irão apontar que Mamede teve um papel importante em uma época de crescimento do judô a nível internacional. Foi sob seu comando que veio a primeira medalha de ouro olímpica, nos Jogos de Seul 1988, com Aurélio Miguel, na categoria meio-pesado. Quatro anos antes, em Los Angeles 1984, o Brasil já havia conquistado um resultado inédito, com a prata de Douglas Vieira na mesma categoria.

O próprio presidente da CBJ, Paulo Wanderley, enalteceu algumas qualidades de Mamede, como o fato de ter apoiado o crescimento do esporte no Norte e Nordeste do país, além de incentivar a prática do judô feminino, que de fato se tornou uma potência no Brasil.

Mas Joaquim Mamede também foi sinônimo de trevas, truculência e incompetência administrativa. Dono de uma personalidade forte, não engolia desaforo de ninguém, nem de jornalistas, alvos prediletos de respostas desaforadas e mal-educadas. Alguns colegas levavam na boa e deixavam o velho Mamede “soltar os cachorros” diante de uma pergunta mais apimentada, enquanto outros partiam para o confronto, rendendo boas discussões.

Mas o que seria apenas um comportamento criticável e folclórico também tinha uma faceta danosa ao judô brasileiro. Foi por conta deste gênio forte que ele entrou em confronto com o maior ídolo da modalidade nos anos 80, simplesmente o campeão olímpico Aurélio Miguel. Questões pessoais, como brigas desde a época de juvenil, foram minando a relação entre Aurélio e Mamede. Só que após o ouro em Seul, a tensão aumentou, por motivos mais graves.

Reprodução da página do Globo, noticiando o acordo de paz entre Mamede e Aurélio Miguel

Reprodução da página do Globo, noticiando o acordo de paz entre Mamede e Aurélio Miguel

O judoca questionava o sistema de seletivas usado pela CBJ para a formação das seleções brasileiras, o que não era admitido por Mamede. Depois, começou a questionar premiações e contas da própria entidade. O resultado disso é que um grupo de atletas, liderado por Aurélio Miguel, decidiu que não iria competir enquanto o dirigente continuasse no poder.

Esse grupo dissidente, no qual fazia parte o então desconhecido Rogério Sampaio ficou afastado das competições entre 1989 e 1991. Somente em janeiro de 92, após longa negociação com Bernard Rajzman, então secretário de esportes do governo Fernando Collor, que Mamede e Aurélio fizeram um “acordo de paz”, marcando a volta dos dissidentes justamente às vésperas das Olimpíadas de Barcelona, quando Sampaio consagrou-se campeão olímpico de forma surpreendente.

A gestão Mamede ficou marcada também por deixar o judô sem verbas federais, após acusação de irregularidades pelo TCU (Tribunal de Contas da União). E como não poderia mais concorrer à presidência, após dois mandatos, colocou seu filho Mamede Júnior no cargo, mas quem continuava mandando no judô brasileiro era o velho Mamede. A dinastia Mamede durou até 2001, quando saiu de cena, substituído por Wanderley.

A história de Joaquim Mamede à frente do judô brasileiro, encerrada com sua morte no último domingo, marcou uma fase que não pode ser esquecida, porém está longe de deixar saudades.

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