Há exatos oito anos, o handebol feminino do Brasil se despedia da Olimpíada de Londres-2012. Para relembrar uma edição que ficou para a história, conversamos com a ponta direita Alexandra Nascimento sobre preparação pré-olímpica, experiências e a importância que essa derrota nas quartas de final significou para a seleção brasileira.
A preparação para Londres-2012
“A seleção brasileira estava fazendo um trabalho que já era possível ser notado nos amistosos, no qual nós conseguimos jogar de igual para igual com outras Seleções. Era um sonho e nós tínhamos o objetivo de em Londres melhorar nossa classificação geral, brigando por uma posição melhor e, porque não, uma medalha. Começamos muito bem e infelizmente não passamos das quartas-de-final. Quando aconteceu a derrota, nós não entendemos muito bem, ficamos frustradas, pensando em muita coisa que fizemos ou deixamos de fazer em quadra, o que é normal, pois isso dói; mas a preparação para as Olimpíadas foi muito boa.”
“Nós trabalhamos com um preparador físico dinamarquês, Lars Michalsik (único no mundo com PhD em handebol), que realizou um projeto onde todo time tinha que acreditar e confiar no trabalho físico dele, pois era importante. Fechamos os olhos e sofremos, porque a preparação física nunca é agradável. Fazíamos o que ele pedia para fazer e acreditamos. O resultado não veio naquela edição, mas a preparação foi excepcional.”, conta Alê Nascimento.
Mundial de 2011 e experiência das atletas
“Acredito que um campeão não se constrói só com vitórias. Ele é construído com muito trabalho, muito sofrimento, muitos momentos maravilhosos e também ruins. No Mundial do Brasil em 2011 nós começamos a perceber algumas oportunidades, pois vimos que mudanças eram necessárias. Essas mudanças não eram só nas atletas, mas também na comissão técnica. Então, começamos uma fase de amadurecimento como time. As outras gerações começaram a abrir mais caminhos para as atletas irem jogar na Europa, o que ajudou nesse processo.”
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“Quando aconteceu o Mundial no Brasil foi um momento legal, pois estávamos apresentando melhorias. Estávamos fazendo grandes jogos, como contra a França por exemplo. Perdíamos de muitos gols e no segundo tempo o Morten mudou a defesa, conseguimos recuperar o placar e vencemos a partida. Naquele momento começamos a enxergar que estávamos melhorando e aprendendo, além de ganhar mais experiência. Não conseguimos ganhar o Mundial, mas a Chana Masson havia sido escolhida melhor goleira e eu fui artilheira da edição”, relembra Alexandra Nascimento.
Os detalhes do jogo contra a Noruega
“Foi um jogo complicado, pois começamos muito bem. Sabíamos que a seleção da Noruega (com todo histórico de medalhas em Olimpíadas, Mundial e Europeu) seria um jogo difícil. Entramos muito forte no primeiro tempo, pois estávamos preparadas para jogar esse jogo. O jogo estava fluindo e nos entregamos ao esporte, as Olimpíadas, nos doando 100% e com “sangue nos olhos”. Fizemos um primeiro tempo realmente espetacular (13 a 9 no placar), mas não podemos esquecer que a Noruega já possuía bagagem e experiência. As jogadoras da Noruega são atletas muito frias, calculistas e isso é cultural. No segundo tempo elas continuaram jogando tranquilas, e foram se aproximando do placar. Elas foram correndo atrás com cada gol e nós ficamos apagadas; e nos assustamos pois elas estavam se aproximando do empate. Ficamos tão assustadas que não conseguimos mudar nosso estilo de jogo para evitar a virada do placar. O resumo disso é a experiência em quadra e qual Seleção está preparada psicologicamente.”, afirma Alexandra Nascimento.
A derrota proposital da Noruega na fase de grupos
“É complicado, pois só quem está lá dentro entende essas situações. O handebol é matemática, não tem jeito. Quando você entra na fase de grupos, começa a analisar se está no considerado “grupo da morte” (que o Brasil já esteve diversas vezes) e suas chances com cada time. O esporte é complicado, às vezes não é justo e em muitos momentos você precisa contar com a sorte e muitas coisas precisam “bater” (como aconteceu com a seleção brasileira no Mundial da Sérvia em 2013, relembra).
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Realmente escutamos que a Noruega havia perdido para poder enfrentar nosso time. Cada seleção analisa os adversários de uma maneira diferente. Não acho errado a Noruega ter olhado o Brasil e ter tomado essa decisão, se achavam que de fato era mais fácil esse confronto (apesar de em nenhum momento eu ter pensado que elas achavam que seria fácil). No Brasil sempre lutamos muito e conseguimos chegar onde chegamos com muita raça; e nunca nenhum técnico teve que nos pedir para perder um jogo para evitar determinado cruzamento na tabela do campeonato.”, contou Alexandra Nascimento.
A importância e os aprendizados da derrota
“O Brasil passou por um momento de evoluções desde outras gerações e passamos a ser melhor visto pelas adversárias. As seleções começaram a se preocupar e a respeitar mais a nossa equipe. Em Londres nós escorregamos, mas foi importante pois era a bagagem que estávamos precisando. Muitas meninas já estavam trabalhando na Europa e antes do Mundial fizemos um convênio com o Hypo, da Áustria e ali tínhamos oito jogadoras da seleção, além do técnico Morten. Era uma facilidade maior de poder ter parte da equipe junta e foi um momento bem importante para nós. Jogando mais tempo juntas, não precisávamos mais olhar umas para as outras para fazer uma jogada em quadra. Quando alguém fazia uma finta, já sabíamos as possibilidades de jogo. Foi uma derrota necessária para depois acontecer o ouro histórico na Sérvia em 2013, no qual ganhamos todos os jogos. Escutamos de outros times que as vitórias eram acidentais, mas fizemos uma grande quartas de final com a Hungria (foram 2 prorrogações) e nesse momento deu para notar que estávamos mais bem preparadas fisicamente e psicologicamente. Preparação melhor do que essa não teve”, completou Alê Nascimento.
“Hoje, olhando tudo o que nós passamos e o que conquistamos, essa derrota foi necessária. No momento é difícil de entender, mas depois passamos a entender que isso fazia parte da experiência. Um time sem isso, não consegue alcançar grandes feitos.”, afirmou Alê Nascimento, considerada a melhor atleta do mundo de handebol em 2012, o ano da Olimpíada de Londres.